Super TPM bagunça as emoções femininas
“Mulheres Desesperadas”
Distúrbio hormonal que atinge entre 3% e 8% das mulheres em idade reprodutiva põe saúde mental em risco
SÃO PAULO. A cultura pop — de Rita Lee aos Raimundos; de Pedro
Almodóvar e Woody Allen às “mulheres desesperadas” da TV — já lida há
muito com as alterações de comportamento típicas do sexo feminino. O
trabalho da ciência para explicar de quem é a culpa de transtornos como a
temida TPM (tensão pré-menstrual) não tem fim. Sabe-se que a quantidade
e as variações, ao longo do mês, dos hormônios que circulam pelo corpo
da mulher e agem no cérebro desempenham um papel importante no processo.
Estresse e vida agitada também. Mas se a TPM que atinge duas em cada
três mulheres muitas vezes consegue ser domada, um distúrbio detectado
recentemente exige mais cuidados e põe em risco, segundo especialistas, a
saúde mental da mulher — e de quem convive com ela. Trata-se do
transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM), uma Super TPM que afeta entre
3% e 8% das mulheres em fase reprodutiva e pode progredir para quadros
mais graves de depressão, uma gravidez e/ou uma menopausa mais
complicadas e tristes.
— A TPM já é bastante desconfortável e pode causar muitos problemas para a mulher e para o casal. O ideal é, sempre, buscar tratá-la. Mas com a TDPM não tem jeito: sintomas como tristeza, irritabilidade, inchaço e desconforto aparecem de forma muito mais forte. E se a mulher não se cuidar, na maior parte das vezes tomando remédio, os riscos de sofrer quadros como depressão, antes e depois da menopausa, ou durante a gravidez e depois do parto, por exemplo, aumentam em até 25% — diz a psiquiatria Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da mesma universidade.
A SuperTPM será um dos temas abordados no simpósio “Mulheres à beira de um ataque de nervos: hormônios sexuais femininos e psicopatologia”, parte do VIII Congresso Brasileiro de Cérebro — Comportamento e Emoções, que acontece esta semana em São Paulo. Carmita e colegas como Monica Zilberman, psiquiatra e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP, discutirão o que consideram um elucidativo estudo sobre a Super TPM, publicado em janeiro deste ano por cientistas sul-coreanos no “Journal of Affective Disorders”. Ao analisarem, via ressonância 3D, o cérebro de 30 mulheres com idade média de 32 anos, eles perceberam que as que sofrem de Super TPM possuem anormalidades significativas na área cerebral mais associadas às emoções: o hipocampo.
— Ou seja, trata-se de um problema orgânico mesmo, o cérebro está mal estruturado para equilibrar a absorção desses hormônios e esta fragilidade pode progredir, comprometendo a saúde mental não apenas no período anterior à menstruação como no ciclo todo. Isso pode estar associado à propensão genética e também a fatores ambientais — diz Carmita.
A médica frisa que o transtorno ainda é muito pouco conhecido para se falar num aumento de sua incidência. Fatores ambientais que contribuem para TPM poderiam levar a um aumento do número de sofredoras da Super TPM?
— É a mesma coisa que dizer que há mais gays no mundo hoje em dia. Será que há mesmo, ou eles estão saindo mais do armário? Talvez as mulheres estejam é mais à vontade para falar sobre a questão e procurar ajuda.
Para Monica Zilberman, o conselho é mesmo falar: com o companheiro, com o médico, ou um terapeuta. No caso de TPMs muito fortes, a mulher deve observar os sintomas e buscar tratamento. Ou seja, ser mulher é coisa séria. Enquanto que a condição hormonal do homem é basicamente a mesma a partir da adolescência até a velhice, a da mulher muda muito, especialmente durante a idade reprodutiva, da primeira menstruação à menopausa. E pior: varia muito ao longo do mês. Segundo a psiquiatra da USP, enquanto a tensão pré-menstrual pode ser controlada com atividades físicas e técnicas de relaxamento como a meditação — além do uso de vitaminas e de uma dieta rica em cálcio e ômega 3 ser recomendável — a TDPM muitas vezes requer o uso de medicação específica, sempre com acompanhamento de um especialista.
— Hoje sabemos que há antidepressivos que funcionam muito bem na mulher, que não precisa tomá-lo o mês todo, e sim durante 10, 15 dias, para atuar sobre a menstruação.
As duas médicas concordam que, além disso, é preciso acabar com preconceitos como os relacionados à psicoterapia, que pode fornecer ferramentas importantes para a mulher se autoconhecer. Os terapeutas paulistanos Mara Pusch e Luiz Cuschnir acham que fatores ambientais podem contribuir “em pelo menos 50%” para um quadro de tensão relacionada à atividade hormonal.
— Se entender e viver em harmonia com o parceiro é sinônimo de qualidade de vida. O casal deve parar de idealizar o amor e conversar. Acho que casos de TPM, ou Super TPM, merecem ser tratados em dupla, são uma boa oportunidade de o casal ir ao terapeuta — diz Cuschnir.
A atriz Letícia Isnard, a Ivana da novela “Avenida Brasil”, diz que tomaria remédios para ficar menos triste e fragilizada durante sua TPM, que apesar de intensa não é super.
— Homem também sofre com a nossa TPM. Diálogo e informação são fundamentais.
— A TPM já é bastante desconfortável e pode causar muitos problemas para a mulher e para o casal. O ideal é, sempre, buscar tratá-la. Mas com a TDPM não tem jeito: sintomas como tristeza, irritabilidade, inchaço e desconforto aparecem de forma muito mais forte. E se a mulher não se cuidar, na maior parte das vezes tomando remédio, os riscos de sofrer quadros como depressão, antes e depois da menopausa, ou durante a gravidez e depois do parto, por exemplo, aumentam em até 25% — diz a psiquiatria Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) da mesma universidade.
A SuperTPM será um dos temas abordados no simpósio “Mulheres à beira de um ataque de nervos: hormônios sexuais femininos e psicopatologia”, parte do VIII Congresso Brasileiro de Cérebro — Comportamento e Emoções, que acontece esta semana em São Paulo. Carmita e colegas como Monica Zilberman, psiquiatra e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da USP, discutirão o que consideram um elucidativo estudo sobre a Super TPM, publicado em janeiro deste ano por cientistas sul-coreanos no “Journal of Affective Disorders”. Ao analisarem, via ressonância 3D, o cérebro de 30 mulheres com idade média de 32 anos, eles perceberam que as que sofrem de Super TPM possuem anormalidades significativas na área cerebral mais associadas às emoções: o hipocampo.
— Ou seja, trata-se de um problema orgânico mesmo, o cérebro está mal estruturado para equilibrar a absorção desses hormônios e esta fragilidade pode progredir, comprometendo a saúde mental não apenas no período anterior à menstruação como no ciclo todo. Isso pode estar associado à propensão genética e também a fatores ambientais — diz Carmita.
A médica frisa que o transtorno ainda é muito pouco conhecido para se falar num aumento de sua incidência. Fatores ambientais que contribuem para TPM poderiam levar a um aumento do número de sofredoras da Super TPM?
— É a mesma coisa que dizer que há mais gays no mundo hoje em dia. Será que há mesmo, ou eles estão saindo mais do armário? Talvez as mulheres estejam é mais à vontade para falar sobre a questão e procurar ajuda.
Para Monica Zilberman, o conselho é mesmo falar: com o companheiro, com o médico, ou um terapeuta. No caso de TPMs muito fortes, a mulher deve observar os sintomas e buscar tratamento. Ou seja, ser mulher é coisa séria. Enquanto que a condição hormonal do homem é basicamente a mesma a partir da adolescência até a velhice, a da mulher muda muito, especialmente durante a idade reprodutiva, da primeira menstruação à menopausa. E pior: varia muito ao longo do mês. Segundo a psiquiatra da USP, enquanto a tensão pré-menstrual pode ser controlada com atividades físicas e técnicas de relaxamento como a meditação — além do uso de vitaminas e de uma dieta rica em cálcio e ômega 3 ser recomendável — a TDPM muitas vezes requer o uso de medicação específica, sempre com acompanhamento de um especialista.
— Hoje sabemos que há antidepressivos que funcionam muito bem na mulher, que não precisa tomá-lo o mês todo, e sim durante 10, 15 dias, para atuar sobre a menstruação.
As duas médicas concordam que, além disso, é preciso acabar com preconceitos como os relacionados à psicoterapia, que pode fornecer ferramentas importantes para a mulher se autoconhecer. Os terapeutas paulistanos Mara Pusch e Luiz Cuschnir acham que fatores ambientais podem contribuir “em pelo menos 50%” para um quadro de tensão relacionada à atividade hormonal.
— Se entender e viver em harmonia com o parceiro é sinônimo de qualidade de vida. O casal deve parar de idealizar o amor e conversar. Acho que casos de TPM, ou Super TPM, merecem ser tratados em dupla, são uma boa oportunidade de o casal ir ao terapeuta — diz Cuschnir.
A atriz Letícia Isnard, a Ivana da novela “Avenida Brasil”, diz que tomaria remédios para ficar menos triste e fragilizada durante sua TPM, que apesar de intensa não é super.
— Homem também sofre com a nossa TPM. Diálogo e informação são fundamentais.
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