Exposição ao amianto aumenta risco de câncer de pulmão e bexiga.
Contato frequente com agrotóxicos pode causar leucemia.
Operários da construção civil e agricultores são os profissionais que
têm risco aumentado de desenvolver câncer por causa de suas profissões,
afirma Ubirani Otero, coordenadora da área de câncer ocupacional do Inca
(Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva). Otero é
autora de um estudo divulgado nesta semana que alerta para a falta de
estudos no país sobre os chamados "tumores ocupacionais" -- ou seja,
aqueles causados pelo trabalho.
No caso dos trabalhadores da construção civil o risco é aumentado pelo
contato diário com agentes químicos provenientes do cimento e das
tintas, mais a aspiração da poeira da madeira e de metais pesados.
Para os agricultores, o risco está ligado ao acesso a diferentes agrotóxicos, com conteúdos considerados cancerígenos.
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Na recente “Diretrizes para a Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho”,
divulgada pelo Inca, Otero mostra que ao menos 19 tipos diferentes de
câncer, entre os quais de pulmão, pele, fígado, laringe, bexiga e
leucemias, estão relacionados ao trabalho.
O motivo é a exposição a substâncias como o amianto, formol, metais pesados e agrotóxicos, consideradas cancerígenas.
“A gente já reconhece como cancerígena a indústria da madeira, do
couro, dos metais, do aço porque lida com uma série de agentes químicos
que são classificados como cancerígenos”, diz Otero.
Tumores ligados ao trabalho, segundo dados de 2009: | |||
---|---|---|---|
Câncer de pele | 48% | ||
Leucemias e linfomas | 12% | ||
Câncer de laringe e pulmão | 10% | ||
Câncer de estômago | 6% |
Segundo Otero, estimativas indicam que dos 518.510 mil casos de câncer
estimados para 2012 no Brasil, ao menos 20.740 mil terão causas
ocupacionais.
Em um levantamento anterior, dos 749 casos de câncer relacionados ao
trabalho registrados em 2009, 48% foram de câncer de pele, 12% de
leucemias e linfomas, 10% referentes ao câncer de laringe e de pulmão e
6% de câncer de estômago.
“Essas estimativas devem ser maiores. Já que nelas não se leva em
consideração as condições de trabalho no Brasil, onde a indústria não é
limpa, os maquinários são muitos antigos e não tem uma legislação tão
restritiva”, diz Otero.
Construção civil x amianto
O contato com o amianto usado na indústria de produtos feitos de fibrocimento, como caixas d’água, telhas, isolamentos térmicos ou acústicos está ligado a incidência de câncer de pulmão, de tumores na cavidade nasal, na bexiga e até mesmo no estômago e esôfago.
O contato com o amianto usado na indústria de produtos feitos de fibrocimento, como caixas d’água, telhas, isolamentos térmicos ou acústicos está ligado a incidência de câncer de pulmão, de tumores na cavidade nasal, na bexiga e até mesmo no estômago e esôfago.
A aspiração das fibras do amianto podem causar lesões nos pulmões e em
outros órgãos até 50 anos antes do diagnóstico de câncer.
O "mesotelioma de pleura", um tipo de tumor maligno no pulmão, é
considerado um câncer ocupacional por excelência, já que estudos mostram
que entre 70% e 95% das pessoas que desenvolveram a doença estiveram
expostas ao amianto no trabalho.
O silicato que já foi banido de diversos países, ainda é usado no
mercado brasileiro, segundo a publicação. O país está entre os cinco
maiores produtores de amianto do mundo, com uma produção média de 250
mil toneladas por ano. Estima-se que 125 milhões de trabalhadores no
mundo estejam expostos ao amianto em ambientes de trabalho, segundo a
publicação.
Para evitar esse tipo de risco, Otero reforça a necessidade de banir o
material do mercado brasileiro. “Basta adaptar às novas tecnologias. O
amianto já foi banido em tantos países e o Brasil ainda não tem política
de proibição efetiva. Não é mais admissível que ele circule. Mas deve
ser descartado apenas em locais para resíduos perigosos”, afirma Otero.
O risco de câncer de bexiga aumenta entre esses trabalhadores se eles
tiverem contato com tintas e metais, pois ambos liberam substâncias
tóxicas relacionadas ao tumor. Esse tipo de câncer afeta mais os homens
(70%) e tem como principais fatores de risco o tabagismo e a exposição
de cancerígenos químicos no ambiente de trabalho.
Há ainda evidências de que a exposição ocupacional ao amianto também
aumente o risco de câncer de ovário, de intestino e de reto.
Trabalhadores rurais x agrotóxicos
Assim como o amianto pode ser extremamente danoso aos trabalhadores da construção e da indústria, os agrotóxicos são os vilões da saúde no campo. De acordo com o levantamento do Inca, o contato constante com esses produtos aumenta o risco de tumores no sangue, como leucemia, mieloma múltiplo e linfomas não-Hodgkin, assim como de câncer no pulmão, ovário, próstata, mama, e no sistema nervoso central.
Assim como o amianto pode ser extremamente danoso aos trabalhadores da construção e da indústria, os agrotóxicos são os vilões da saúde no campo. De acordo com o levantamento do Inca, o contato constante com esses produtos aumenta o risco de tumores no sangue, como leucemia, mieloma múltiplo e linfomas não-Hodgkin, assim como de câncer no pulmão, ovário, próstata, mama, e no sistema nervoso central.
“Os agricultores que ficam restritos às áreas rurais estão lidando cada
vez mais com produtos químicos altamente tóxicos, sendo que já há
estudos sobre o potencial cancerígeno desses agentes, além da exposição à
ação solar, que pode causar câncer de pele”, diz a coordenadora da
publicação.
O levantamento aponta ainda a exposição a fungicidas, herbicidas e
inseticidas a um risco aumentado de câncer de estômago e esôfago e de
câncer de pâncreas em função das substâncias químicas liberadas, e pela
possibilidade de inalar vapores de combustíveis fósseis e poeiras
típicas do trabalho rural.
Brasil não tem dados concretos
Diferente de países europeus que quantificam os casos de câncer relacionados ao trabalho há anos, o Brasil não ainda não tem um programa eficaz de vigilância para quantificá-los. Isso acontece porque os sistemas de saúde regionais ainda notificam a incidência e as mortes por câncer sem questionar dados profissionais dos pacientes, diz a pesquisadora.
Diferente de países europeus que quantificam os casos de câncer relacionados ao trabalho há anos, o Brasil não ainda não tem um programa eficaz de vigilância para quantificá-los. Isso acontece porque os sistemas de saúde regionais ainda notificam a incidência e as mortes por câncer sem questionar dados profissionais dos pacientes, diz a pesquisadora.
“Não existe um sistema de vigilância consistente aqui no Brasil.
Pacientes com câncer não são questionados quanto a sua ocupação e
estabelecer esse nexo é muito complicado. Quando fazem os registros de
mortalidade por câncer só olham o prontuário e, se não tem essa
resposta, ela não é lançada no sistema, e a gente fica em um silêncio
epidemiológico”.
Para mudar esse quadro, a coordenadora afirma ser necessária a criação
de políticas públicas a partir de ações conjuntas entre as secretárias
estaduais e municipais de saúde com as indústrias e setores que ainda
usam e emitem essas substâncias tóxicas.
“O objetivo dessa publicação é ajudar no reconhecimento público dos
profissionais de saúde que existem fatores de risco no trabalho e que
precisam ser identificados”, reitera Otero.
Ainda segundo a coordenadora do Inca, vale salientar que nem todos
esses trabalhadores terão tais doenças, já que o surgimento do câncer
depende também de fatores genéticos.
“O que sabemos é que não existem limites seguros de exposição [a
agentes tóxicos]. Não se pode garantir que uma pessoa que respirou
fibras de amianto vai começar um processo de carcinogênese. Mas uma
pessoa que fuma e se expõe tem um risco muito maior do que aquela que
não fuma. A gente sugere que evite a exposição”.
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