5.03.2012

Em Portugal: crianças com Perturbação da Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) estão sem o medicamento Rubifen

Medicamento para concentração: Falta de Rubifen pode levar crianças a perder ano letivo


Um medicamento contra o défice de atenção está esgotado em Portugal, levando ao desespero de pais e pediatras que alertam para os riscos das crianças perderem o ano letivo por falta de concentração.

"As crianças querem estudar e não conseguem. Sem estudo e concentração não conseguem boas notas. Estão a ser empurradas para o insucesso escolar e até para a reprovação" do ano, lamentou o pediatra do desenvolvimento Miguel Palha.
O medicamento em questão é o Rubifen que, tal como os outros dois estimulantes do Sistema Nervoso Central vendidos em Portugal para o aumento e a concentração da atenção, tem como substância ativa o metilfenidato.
Este medicamento é comercializado pelo laboratório espanhol Rubió e há semanas que começou a faltar nas farmácias portuguesas.
A agência Lusa confirmou essa falta, tendo ouvido profissionais destes estabelecimentos a lamentarem a rotura, cujo motivo desconhecem, e a revelarem que já têm listas com pedidos.
O responsável pela exportação do laboratório, Ignácio Lorenço, negou a existência de uma parada na fabricação, mas admitiu "eventuais faltas" relacionadas com a mudança de distribuidor, as quais deverão ser resolvidas "dentro de dias".
A autoridade que regula o setor do medicamento em Portugal (Infarmed) informou que "o Rubifen encontra-se fora de stock desde o dia 24 de abril, prevendo-se a sua reposição a 1 de junho".
O Infarmed adiantou que "existem alternativas terapêuticas disponíveis no mercado - Concerta e Ritalina - relativamente às quais não existe comunicação nem notificação de falta  de stock".
Alternativas nem sempre viáveis na opinião de Miguel Palha, que dirige o Centro de Desenvolvimento Infantil "Diferenças", para quem esta situação é "inadmissível" e só demonstra a "fraca mão" que o Infarmed tem.
As características e formas de apresentação dos três fármacos não permitem a sua substituição, apesar de terem a mesma substância ativa, sendo preciso uma adaptação do medicamento à criança e encontrar a "fórmula certa".
Mas há outro fator que, na opinião de Miguel Palha, pode inviabilizar esta simples substituição: o preço. Trinta unidades de Rubifen custam 5,64 euros, enquanto a mesma quantidade de Concerta custa 44,84 euros e de Ritalina 19,11 euros.
"Já há pais que estão indo buscar o medicamento a Espanha", afirmou o pediatra que recebe diariamente entre 100 a 200 pedidos de substituição de receitas do Rubifen para evitar os danos que a falta do fármaco está a provocar nas crianças.
A situação torna-se especialmente grave nesta altura do ano letivo, que se aproxima do final.
O especialista critica a "atitude complacente do Infarmed" e alerta para o "grave prejuízo" que estes miúdos vão sofrer.
O Infarmed garante que, para minimizar o impacto desta rutura, autorizou a importação deste medicamento a partir de outro Estado-membro (Espanha), através de uma Autorização de Utilização Especial.
Os efeitos desta autorização ainda não se fazem sentir nas farmácias, nos profissionais e nas famílias em que existe uma criança com Perturbação da Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA).
Maria Santos, mãe de uma criança de 12 anos com PHDA, soube desta falta pela médica do filho que a alertou para a rotura, a qual confirmou horas depois.
Na farmácia onde compra o Rubifen soube que há semanas que este não estava disponível e que já existiam listas de espera e já equaciona ir a Espanha comprar.
Sobre a possibilidade de substituir o medicamento, Maria Santos diz que não o fará de ânimo-leve. "Estes medicamentos são fortes e sabemos que, apesar de terem a mesma substância ativa, atuam de forma diferente".
Ideia corroborada por Linda Serrão, presidente da Associação Portuguesa de Crianças Hiperativas (APCH): "Cada criança tem a sua necessidade e é preciso encontrar a dose certa. Os nossos meninos são muitas vezes cobaias"

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