- Um erro frequente das mães que se separam é deixar que os filhos passem a dormir com elas
De acordo com a psiquiatra Ana Margareth Siqueira Bassols, professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e chefe de serviço de psiquiatria da infância e da adolescência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em separações difíceis ou quando as mulheres são mais dependentes, a perda do cônjuge pode despertar sentimentos de insegurança e desamparo, contribuindo para que o filho, sem se dar conta, acabe assumindo algumas funções do pai.
O problema é que essa inversão de papeis pode prejudicar o desenvolvimento da criança ou do adolescente, que se encarrega de tarefas que, muitas vezes, não condizem com a sua idade. A postura do garoto pode até ser vista com bons olhos pela família, mas despertará sentimentos bastante controversos, fazendo-o sofrer.
Isso porque, no imaginário do menino, ao mesmo tempo em que surge uma espécie de satisfação por "vencer" o pai e conquistar toda a atenção da mãe, é comum coexistirem sentimentos de culpa, já que o garoto se sente, até certo ponto, responsável pela separação.
"Estamos falando de um processo complexo, que ocorre em nível inconsciente. O importante é entender que haverá um importante abalo emocional", explica a psiquiatra Vera Blondina Zimmermann, coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescência da USP (Universidade Federal de São Paulo).
Portanto, deve haver muito cuidado para não fazer do garoto o "homem da casa". "Todos os filhos devem ter tarefas na rotina doméstica, sem distinção de sexo e idade. Mas é superimportante que a mãe avalie com critério se elas estão compatíveis com o momento do desenvolvimento do filho", diz Vera.
Assim, mesmo quando o filho se oferece para desempenhar determinadas funções, seja para apoiar e agradar à família ou para negar a falta que o pai faz, é interessante que a mãe reflita, antes de delegar a responsabilidade. Se houver dúvidas sobre o que o filho tem condições ou não de assumir, vale consultar as pessoas que estão de fora, familiares ou amigos confiáveis. Eles auxiliarão nessa difícil missão, ajudando a estabelecer limites saudáveis.
O acompanhamento de um psicólogo facilita a vida e é uma boa pedida, especialmente quando o garoto começa a apresentar sinais de que está sofrendo por conta da falta da figura paterna. "Isolamento, irritabilidade extrema, queda no rendimento escolar e muita dependência da mãe são sinais de que algo está errado", afirma o psiquiatra Luiz Cuschnir, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. O profissional vai avaliar a necessidade de indicar algum tipo de tratamento para o filho, para a mãe ou para ambos.
Cada um no seu espaço
Outra questão importante é o cuidado com a reorganização dos espaços
domésticos a partir da saída do pai. Nesse momento, é comum que algumas
mães coloquem o filho para dormir junto com elas. A mudança é uma
estratégia para suprir a própria carência afetiva e está ligada ao
desejo de manter o filho amparado nessa fase tão difícil. Entretanto,
segundo os especialistas, o melhor é evitar tanta proximidade.
"Os filhos devem ter seu próprio espaço e respeitar o dos pais", de acordo com Ana. Caso contrário, fica muito fácil a mãe transmitir e projetar no filho seus temores e inseguranças. Além disso, a situação pode reforçar a fantasia do filho de que é culpado pela separação dos pais, gerando angústia e prejudicando o bem-estar dele. Por fim, a mãe também pode sair prejudicada, ao passo que o garoto, tornando-se possessivo e dependente, terá dificuldade em aceitar um possível padrasto.
Nova dinâmica
Replanejar a própria vida para tentar preencher o vazio que ficou é a
melhor forma de não causar problemas para o filho. Isso implica em
encontrar outras fontes de afeto e até novos relacionamentos. "O grau de
maturidade da mulher e a forma de lidar com a separação favorecerão
uma adaptação mais fácil à nova situação", diz Ana.Manter o contato da criança com o pai, planejando visitas ou viagens, por exemplo, prezar pela participação dele nas tomadas de decisões importantes e garantir a presença de outras figuras masculinas –pessoas da família, amigos ou professores– na vida do garoto também é importante.
"É essencial oferecer ao menino a possibilidade de ter vivências com homens mais velhos, para que tenha modelos diferentes dos da mãe", explica Cuschnir. Outro cuidado é nunca se queixar do "ex" para a criança, procurando preservar a imagem paterna tão valorizada pelo menino.
Rita Trevisan e Louise Vernier
Do UOL, em São Paulo
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