Saúde da mulher
Novos estudos apontam para a relação entre enxaqueca e problemas cardíacos em mulheres
A enxaqueca acompanhada de aura pode elevar as chances de problemas cardiovasculares mais até do que outros fatores, como diabetes e obesidade
Vivian Carrer Elias
Enxaqueca: Dois novos estudos apontam para a relação entre
fortes dores de cabeça com aura e um maior risco de eventos
cardiovasculares
(Thinkstock)
Uma dessas pesquisas também mostrou que as dores de cabeça são ainda mais perigosas à saúde do coração do que fatores de risco conhecidos, como diabetes, tabagismo ou obesidade. Além disso, segundo outro trabalho, a enxaqueca com aura, se apresentada por mulheres que fazem uso de anticoncepcionais, pode aumentar mais ainda as chances de complicações de trombose — isso porque contraceptivos hormonais por si só já elevam esse risco. Os resultados de ambos os estudos foram publicados pela Academia Americana de Neurologia e serão apresentados em março, quando acontecerá o encontro anual da entidade.
Opinião do especialista
Mario Peres
Neurologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e da Escola Paulista de Medicina
Neurologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e da Escola Paulista de Medicina
"Nós, médicos, já sabíamos da relação entre enxaqueca e um maior risco de trombose e eventos cardiovasculares. Porém, esses são estudos grandes, feitos com um grande número de pessoas, que fornecem mais dados para essa evidência. Essas conclusões vão ajudar a embasar novas diretrizes no tratamento de enxaqueca.
No entanto, as pessoas não devem interpretar esses resultados com pavor. Ou seja, se uma pessoa sofre de enxaqueca com aura, ao tratar a condição, ela reduzirá o risco de problemas cardiovasculares. Além disso, ela deve procurar um equilíbrio entre outros fatores de risco que também afetam o coração. Uma mulher que tem enxaqueca não precisa deixar de tomar o seu anticoncepcional, mas deve parar fumar, por exemplo."
Sem pânico — Isso não quer dizer, porém, que todas as pessoas com enxaqueca terão um ataque cardíaco ou um AVC durante a vida, mas sim que o risco para que isso ocorra pode ser maior entre elas. "Talvez os pacientes com enxaqueca precisem ficar mais atentos do que os outros a outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, como excesso de peso ou tabagismo. Mas esses resultados não devem apavorar pessoas que têm enxaqueca”, disse ao site de VEJA Tobias Kurth, coordenador desse estudo. Kurth é pesquisador do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França e também professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
O pesquisador não soube explicar, porém, qual o mecanismo envolvido na relação entre enxaqueca e fatores de risco para doenças cardiovasculares. "Há algumas hipóteses, que incluem função endovascular e genética, mas ainda não há uma resposta para essa questão", afirmou.
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Anticoncepcional — A segunda pesquisa foi feita no
Hospital Brigham and Women, da Universidade Harvard. A equipe buscou
entender se a enxaqueca pode agravar o risco de trombose venosa profunda
(formação de coágulos nas veias profundas do corpo) entre mulheres que
fazem uso de contraceptivos hormonais, que são associados à elevação dos
riscos dessa doença.
Para isso, a equipe acompanhou, durante 11 anos, quase dois milhões de
mulheres, dentre as quais 145.304 faziam uso de algum contraceptivo
hormonal — 2.691 relataram sofrer de enxaqueca com aura e 3.437
afirmaram ter enxaquecas sem aura. Os resultados mostraram que o maior
risco de trombose venosa profunda foi mais perceptível entre mulheres
que faziam uso de anticoncepcionais e que tinham enxaqueca com aura. Ou
seja, foi maior do que entre aquelas que faziam uso de algum
contraceptivo, mas não tinham enxaqueca, por exemplo.
Shivang Joshi, neurologista clínico da Universidade Harvard e autor
dessa pesquisa, também não soube dizer ao certo o que acontece no corpo
para que a enxaqueca influencie o risco de trombose. "Há vários
mecanismos que podem estar relacionados a esse quadro. É possível que
uma condição chamada 'depressão cortical alastrante', que é como uma
onda de atividade elétrica que ocorre com a enxaqueca com aura, possa
predispor o cérebro a lesões isquêmicas. Também podem haver mecanismos
genéticos compartilhados pela enxaqueca e pelos coágulos. Mas se existe,
ainda não sabemos", afirmou Joshi ao site de VEJA.
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