Guarda de menina de 8 anos é disputada por mãe que está presa por raptar a própria filha da casa do pai que se recusava a devolvê-la. Cabe à justiça britânica o próximo lance
Natalia Martino
Duas versões, igualmente trágicas, de uma
mesma história. A vítima é a pequena Rafaely, uma catarinense nascida há
oito anos em Criciúma, município a 200 quilômetros de Florianópolis. De
um lado, seu pai, Rafael Isidoro Vieira, relata abusos sexuais sofridos
pela menina aos 4 anos de idade e negligência da mãe que, segundo ele,
se prostituía na presença da filha. Do outro, a avó materna Magda Souza,
que fala em nome da mãe da criança, Fernanda Souza Guiguer, atualmente
presa em Londres sob a acusação de tentar sequestrar a filha. O
depoimento dela traz à tona uma condenação do avô paterno por tentativa
de homicídio e sua subsequente fuga para a Europa. O sequestrador, na
narrativa de Magda, não é Fernanda, que oficialmente tem a guarda de
Rafaely desde o processo de divórcio, e sim o pai, Vieira, que teria
agido sob a influência do avô da menina. Não se sabe qual das versões é a
verdadeira, mas, seja como for, trata-se de uma história sem mocinhos e
na qual é difícil identificar os vilões.
Tudo parecia bem quando, em julho do ano passado, Rafaely foi levada de Milão, na Itália, onde morava com a mãe e o padrasto, Wagner Santos, para visitar o pai em Londres. Os pais sempre se entenderam bem e essas seriam apenas mais umas férias da menina com Vieira. Em setembro, porém, o pai disse que não levaria a filha de volta para a Itália. Diante do anúncio, Fernanda decidiu pegar a menina à força. Seu atual marido, Santos, teria agredido um irmão de Vieira de 16 anos, que estava com a criança, enquanto Fernanda levou Rafaely para o carro no qual fugiram para a Itália. O pai acionou, então, a polícia e o casal foi preso dias depois no aeroporto da capital inglesa, quando a família estava a caminho do Brasil – o voo Milão – São Paulo fez escala em Londres. Essas são as únicas informações sobre as quais pai e avó materna concordam. Todo o resto é incerto.
Tudo parecia bem quando, em julho do ano passado, Rafaely foi levada de Milão, na Itália, onde morava com a mãe e o padrasto, Wagner Santos, para visitar o pai em Londres. Os pais sempre se entenderam bem e essas seriam apenas mais umas férias da menina com Vieira. Em setembro, porém, o pai disse que não levaria a filha de volta para a Itália. Diante do anúncio, Fernanda decidiu pegar a menina à força. Seu atual marido, Santos, teria agredido um irmão de Vieira de 16 anos, que estava com a criança, enquanto Fernanda levou Rafaely para o carro no qual fugiram para a Itália. O pai acionou, então, a polícia e o casal foi preso dias depois no aeroporto da capital inglesa, quando a família estava a caminho do Brasil – o voo Milão – São Paulo fez escala em Londres. Essas são as únicas informações sobre as quais pai e avó materna concordam. Todo o resto é incerto.
No Conselho Tutelar de Criciúma (SC), documentos comprovam que a denúncia de abuso sexual existiu. “A primeira vez que atendi esse caso foi em abril de 2008”, diz Luiz Paulo de Bithencourt. O último relatório da denúncia no órgão data de outubro do ano seguinte. O acusado da violência, ex-namorado de Fernanda, já respondia a outros processos criminais relacionados a tráfico de drogas e a um homicídio. O delegado que cuidou das investigações, Márcio Campos Nunes, afirma que precisou determinar a sua prisão preventiva porque ele passou a ameaçar a mãe da criança. O caso foi para o tribunal, mas o acusado foi absolvido em segunda instância. Bithencourt e Nunes fazem questão de afirmar, porém, que a mãe de Rafaely nunca foi conivente com a suposta violência. “Quando descobriu o que estava acontecendo, ficou o tempo todo ao lado da filha e lutou pela condenação do ex-namorado”, afirma o delegado Nunes.
Do Brasil, longe do palco da disputa, a mãe de Fernanda conta uma história diferente. Segundo ela, a filha trabalhava em uma clínica de estética em Milão chamada Petit Soleil e sustentava sozinha a pequena Rafaely. “Se a Fernanda se prostituía, eu nunca soube, mas não vou julgá-la por isso. Se ela fez, foi por necessidade”, diz. Para justificar a súbita mudança de atitude de Vieira, que sempre respeitou a guarda que a mãe tinha sobre a filha, ela fala do avô paterno, José Vieira. Condenado no Brasil por tentativa de homicídio da ex-esposa, ele está em Londres na condição de foragido da polícia brasileira e não pode ser extraditado por ter, como Vieira, cidadania italiana. “Rafael depende financeiramente do pai dele e por isso obedece às suas vontades. Era o avô que não queria que Fernanda pegasse a filha de volta”, afirma.
Procurados por ISTOÉ, os defensores de Fernanda também se negaram a falar e disseram apenas que o caso pode se resolver em um dia ou em meses, não se sabe. O escritório de serviço social que tem assistido Rafaely desde a prisão da mãe também não forneceu nenhuma informação sobre o atual estado psicológico da criança. O Itamaraty, por sua vez, disse apenas que vai garantir que Fernanda tenha a assistência jurídica necessária. A Magda, o consulado brasileiro na Itália disse por e-mail que “por um motivo técnico, ela (Fernanda) tirou a filha do país de residência (Itália) sem autorização do juiz ou do pai da menor”. Esse detalhe técnico, porém, já a mantém presa há quase três meses.
Diante de tantas pessoas que se negam a dar informações, o drama de Rafaely segue apenas com duas versões e nenhuma certeza. Vieira afirma que a filha está muito feliz em sua casa e que nem mesmo pergunta por Fernanda. “Ela chama a minha atual esposa de mãe”, diz ele, casado há pouco mais de um ano com uma antiga conhecida. Por sua vez, Magda diz que Rafaely nunca gostou de morar na Europa. “Quando soube que voltaria para o Brasil, pouco antes de Fernanda ser presa, minha neta ligou para comemorar”, afirma. Não se sabe qual desfecho para essa história faria Rafaely realmente celebrar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário