1.19.2013

Mais perto da beleza eterna

Começa a funcionar no Brasil o primeiro banco para guardar as células que fabricam o colágeno, a proteína que dá firmeza à pele. Quando for preciso, é só resgatá-las e usá-las para ajudar a apagar rugas e sulcos faciais

Mônica Tarantino

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As células ficam guardadas em recipientes com nitrogênio líquido
Manter, multiplicar e revigorar o colágeno, a proteína que garante a firmeza da pele, é um dos principais desafios da ciência da beleza. O que se procura é uma forma de fazer com que a substância seja produzida pelo corpo pelo maior tempo possível, e em quantidade e qualidade suficientes para manter a beleza. Isso porque, com o passar dos anos, sua fabricação começa a perder força – daí a perda gradual do viço da pele e o surgimento de rugas e sulcos faciais. Uma das apostas mais recentes para vencer esse obstáculo são os bancos onde se pode guardar os fibroblastos, justamente as células produtoras de colágeno.
A estratégia é simples. Extraídas da pele e armazenadas em condições adequadas, as células não perdem sua capacidade de produção de colágeno e, quando necessário, podem ser multiplicadas em laboratório e novamente injetadas na pele. Ou seja, os bancos são uma espécie de reserva de beleza. No mês que vem, o primeiro serviço do gênero será inaugurado no Brasil. Trata-se do TechLife, que funcionará em São Paulo. Na Europa e nos Estados Unidos, companhias como a Fibrocell Science, empresa de biotecnologia focada no desenvolvimento de terapias personalizadas, já oferecem bancos para guardar amostras de fibroblasto.O armazenamento dos fibroblastos é baseado em uma tecnologia conhecida. “O processo é realizado nos mesmos moldes dos utilizados nos bancos de células-tronco extraídas de cordão umbilical”, explica a biomédica Wirla Pontes, coordenadora do TechLife. “Tudo é feito a partir de uma amostra de pele, como se fosse uma biópsia. Dela são extraídos os fibroblastos que serão cultivados segundo protocolos científicos”, explica o hematologista e pesquisador Adelson Alves, diretor do banco e fundador do CordCell, o primeiro banco de armazenamento de células-tronco de cordão umbilical no Brasil.
BELEZA-02-IE.jpg TECNOLOGIA
No banco, profissional faz a separação dos fibroblastos
na amostra de pele retirada do paciente
As células ficam guardadas em recipientes com nitrogênio líquido, onde são mantidas a 196 graus negativos. Depois, para serem multiplicadas, passam de 40 a 50 dias imersas em um meio de cultura composto por vários nutrientes. Após a finalização do processo, os fibroblastos, agora em número significativamente maior, são injetados na cútis nos locais onde há rugas ou sulcos, como o chamado “bigode chinês” (sulco nasogeniano). Uma vez na pele, as células começam a produzir colágeno, o que ajuda a atenuar as marcas do envelhecimento. Estima-se que os resultados durem de seis meses a dois anos.
O banco de fibroblastos brasileiro será também um centro de pesquisas. “Iremos avançar no estudo das técnicas de cultivo para obter melhores resultados”, diz o pesquisador Alysson Muotri, professor da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e assessor científico do TechLife. Muotri planeja diversos experimentos em parceria com o novo laboratório. Um dos estudos avaliará os nutrientes usados no líquido em que as células ficam imersas para serem multiplicadas. Outro investigará o melhor tipo de colágeno (são numerosos e ninguém conhece o total de variações) para cada área do corpo e finalidade diferenciada, como reparar cicatrizes.
A dermatologista Monica Aribi, de São Paulo, vê a chegada do novo recurso com bons olhos, porém acha o preço elevado. Uma estimativa de preço indica que o armazenamento e cultivo dos fibroblastos não sai por menos de R$ 8 mil. Outro aspecto é que, como a passagem dos anos reduz a capacidade de os fibroblastos produzirem colágeno, assim como também prejudica a qualidade da substância, é de se supor que experimentariam melhores resultados as mulheres que tivessem colhido amostras das células ainda na juventude.
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Há outras ponderações. Para a dermatologista Edileia Bagatin, da Universidade Federal de São Paulo, faltam, nessa área, trabalhos científicos que comprovem o resultado do método no preenchimento de rugas e marcas de expressão. “São estudos de custo muito elevado, mas que precisam ser feitos. É necessário, por exemplo, comparar o efeito dos fibroblastos cultivados em laboratório com o ácido hialurônico para saber, inclusive, quanto tempo duram seus efeitos”, diz a especialista.
O ácido ao qual se refere a médica é uma substância produzida naturalmente pelo organismo que preenche os espaços entre as células e ajuda a dar firmeza à pele. Há alguns anos foi sintetizado em laboratório e tornou-se muito usado para preencher sulcos e rugas. Como sua composição é muito parecida com a fabricada pelo corpo, é absorvido cerca de um ano após sua aplicação.

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