Começa a funcionar no Brasil o primeiro banco para guardar as células que fabricam o colágeno, a proteína que dá firmeza à pele. Quando for preciso, é só resgatá-las e usá-las para ajudar a apagar rugas e sulcos faciais
Mônica Tarantino
CONSERVAÇÃO
As células ficam guardadas em recipientes com nitrogênio líquido
Manter, multiplicar e revigorar o colágeno, a proteína que garante a
firmeza da pele, é um dos principais desafios da ciência da beleza. O
que se procura é uma forma de fazer com que a substância seja produzida
pelo corpo pelo maior tempo possível, e em quantidade e qualidade
suficientes para manter a beleza. Isso porque, com o passar dos anos,
sua fabricação começa a perder força – daí a perda gradual do viço da
pele e o surgimento de rugas e sulcos faciais. Uma das apostas mais
recentes para vencer esse obstáculo são os bancos onde se pode guardar
os fibroblastos, justamente as células produtoras de colágeno.As células ficam guardadas em recipientes com nitrogênio líquido
A estratégia é simples. Extraídas da pele e armazenadas em condições adequadas, as células não perdem sua capacidade de produção de colágeno e, quando necessário, podem ser multiplicadas em laboratório e novamente injetadas na pele. Ou seja, os bancos são uma espécie de reserva de beleza. No mês que vem, o primeiro serviço do gênero será inaugurado no Brasil. Trata-se do TechLife, que funcionará em São Paulo. Na Europa e nos Estados Unidos, companhias como a Fibrocell Science, empresa de biotecnologia focada no desenvolvimento de terapias personalizadas, já oferecem bancos para guardar amostras de fibroblasto.O armazenamento dos fibroblastos é baseado em uma tecnologia conhecida. “O processo é realizado nos mesmos moldes dos utilizados nos bancos de células-tronco extraídas de cordão umbilical”, explica a biomédica Wirla Pontes, coordenadora do TechLife. “Tudo é feito a partir de uma amostra de pele, como se fosse uma biópsia. Dela são extraídos os fibroblastos que serão cultivados segundo protocolos científicos”, explica o hematologista e pesquisador Adelson Alves, diretor do banco e fundador do CordCell, o primeiro banco de armazenamento de células-tronco de cordão umbilical no Brasil.
TECNOLOGIA
No banco, profissional faz a separação dos fibroblastos
na amostra de pele retirada do paciente
As células ficam guardadas em recipientes com nitrogênio líquido,
onde são mantidas a 196 graus negativos. Depois, para serem
multiplicadas, passam de 40 a 50 dias imersas em um meio de cultura
composto por vários nutrientes. Após a finalização do processo, os
fibroblastos, agora em número significativamente maior, são injetados na
cútis nos locais onde há rugas ou sulcos, como o chamado “bigode
chinês” (sulco nasogeniano). Uma vez na pele, as células começam a
produzir colágeno, o que ajuda a atenuar as marcas do envelhecimento.
Estima-se que os resultados durem de seis meses a dois anos.No banco, profissional faz a separação dos fibroblastos
na amostra de pele retirada do paciente
O banco de fibroblastos brasileiro será também um centro de pesquisas. “Iremos avançar no estudo das técnicas de cultivo para obter melhores resultados”, diz o pesquisador Alysson Muotri, professor da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e assessor científico do TechLife. Muotri planeja diversos experimentos em parceria com o novo laboratório. Um dos estudos avaliará os nutrientes usados no líquido em que as células ficam imersas para serem multiplicadas. Outro investigará o melhor tipo de colágeno (são numerosos e ninguém conhece o total de variações) para cada área do corpo e finalidade diferenciada, como reparar cicatrizes.
A dermatologista Monica Aribi, de São Paulo, vê a chegada do novo recurso com bons olhos, porém acha o preço elevado. Uma estimativa de preço indica que o armazenamento e cultivo dos fibroblastos não sai por menos de R$ 8 mil. Outro aspecto é que, como a passagem dos anos reduz a capacidade de os fibroblastos produzirem colágeno, assim como também prejudica a qualidade da substância, é de se supor que experimentariam melhores resultados as mulheres que tivessem colhido amostras das células ainda na juventude.
O ácido ao qual se refere a médica é uma substância produzida naturalmente pelo organismo que preenche os espaços entre as células e ajuda a dar firmeza à pele. Há alguns anos foi sintetizado em laboratório e tornou-se muito usado para preencher sulcos e rugas. Como sua composição é muito parecida com a fabricada pelo corpo, é absorvido cerca de um ano após sua aplicação.
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