O presidente Lula teria 51% de votos, diz o DataFolha, e Fernando Rodrigues sublinha: só Lula venceria no primeiro turno.
Lula deixou o Planalto em janeiro de 2011. Passa boa parte de sua agenda fora do País, recusa a maioria dos pedidos de entrevista. Perseguido por notícias falsas sobre a saúde, amplificadas por um interesse político que ignora pareceres médicos, desconhecendo todo e qualquer escrúpulo moral na esperança desgastar e diminuir o ex-presidente, Lula seria eleito presidente – no primeiro turno.
Este aspecto faz dele um personagem único.
Seus 51% são uma proeza, reforçada pelo fato de que ele nega
qualquer plano de disputar a sucessão. Não é candidato, diz que não é e
não gosta que falem do assunto nem em tom de brincadeira. Fui testemunha
disso.
Mas seu nome sobrevive na memória do eleitor e, de certa forma, em artimanhas de adversários.
Na falta de ideia melhor para abrir caminho para um concorrente de
oposição, os meios de comunicação parecem ter estabelecido um namoro
provisório com o ex-presidente. Obviamente não querem que Lula seja
candidato e fariam um escândalo apocalíptico se ele viesse a anunciar a
decisão. Voltariam a falar de chavismo – daí a importância de lembrar do
câncer – e outras coisas mais.
Mas cultivam e alimentam essa possibilidade, hoje, porque este é
um meio de enfraquecer Dilma, a candidata real do bloco político que
chegou ao Planalto em 2003.
Imagino até que a presidente teria alguns pontinhos a mais na
pesquisa se não houvesse um número razoável de eleitores que, preferindo
Lula, torcendo por ele, evitam cravar o nome Dilma nas pesquisas de
intenção de voto. Eleitores são inteligentíssimos.
Mas há novidades no ar das pesquisas.
O DataFolha lembra que Dilma Rousseff cresceu seis pontos e
continua à frente das pesquisas para 2014. Ninguém sabe até onde a
presidente pode avançar, mas está na cara que ela se encontra em
recuperação. Inverteu a curva. Mais um motivo para os adversários
lembrarem o Volta, Lula.
Diante dos números de Dilma, pergunto até quando nossos
observadores políticos irão fingir que, novamente, não foram capazes de
enxergar o óbvio em suas diversas manifestações.
Considerando o DataFolha de hoje, é divertido lembrar que as
diversas compilações de nossos sábios, que procuravam mostrar respostas
supostamente erradas, erráticas, distorcidas, irracionais, que o
Planalto teria oferecido às manifestações.
Os números mostram que foi preciso cultivar um grau elevadíssimo de
má vontade com o adversário para não perceber a relação entre os
protestos contra “os políticos” e a proposta de reforma política
elaborada pelo Planalto.
Claro que sempre se quis transformar protestos gerais contra
instituições num ataque a Dilma, num “ fora Dilma “ – mas a política
ensina que nunca é demais desconfiar de análises convenientes demais aos
próprios interesses. É uma versão atualizada do ditado que diz que
quando a esmola é demais, o santo deve desconfiar.
O saldo está aí. O Ibope informa que 85% da população quer a
reforma. Virou uma proposta com mais aprovação do que a presidente. A
reforma pode nem sair, mas é fácil perceber quem ganhou e quem perdeu no
debate. E quem vai se desgastar toda vez que abrir a boca para falar
mal dela.
No campo social, o programa de levar médicos para áreas carentes
deixou de ser um problema para virar uma solução depois que o governo
desistiu de falar que queria aumentar o número de médicos no País e, ao
mesmo tempo, elevar em dois anos o prazo para que possam ser formados
nas universidades.
Quando abandonou essa ideia dupla, o Planalto deixou o debate no
foco necessário, que é o atendimento urgente a quem não tem a quem pedir
socorro quando o filho está com dor de barriga, a mulher está em
trabalho de parto e o marido foi atropelado.
Depois de tratar o protesto das entidades médicas como se fosse um
movimento baseado no altruísmo, os meios de comunicação já exibem outra
posição. Editorial do Globo alerta que o corporativismo dos médicos não
pode sobrepor-se às necessidades da população.
Na economia, nem é bom comentar. Os leitores deste blog já foram
lembrados, há meses, que a inflação estava em queda. Caiu todos os
meses, a cada levantamento do IBGE.
A inflação também estava caindo quando os protestos de junho
começaram. Mesmo assim, um numero razoável de observadores culpava “a
alta dos preços” pelo comportamento da população, num exercício retórico
que permitia sustentar que o governo federal era o principal
responsável pelas vidraças quebradas, pelos pneus incendiados e pelo
Itamaraty invadido.
Sabemos que o esforço para apresentar a inflação como um dragão
fora de controle obedece a finalidades políticas e não econômicas. Desse
ponto de vista, os números não têm importância.
O que importa é uma interpretação capaz de pressionar o governo
pela mudança nas opções feitas por Dilma para tentar manter algum nível
de crescimento num cenário internacional horroroso.
O que se quer é que ela siga elevando os juros. O resultado
inevitável será mudar a faixa do emprego, que permanece no melhor
patamar da história. Depois que se obtiveram desonerações bilionárias,
pretende-se denunciar que as contas do governo ficaram ruins e que será
preciso fazer cortes em investimentos e na área social.
Parece absurdo e até brincadeira, mas não é.
É política. No curto prazo, o plano é inviabilizar a reeleição de Dilma com um conjunto de medidas impopulares.
No longo prazo, o que se quer é retomar o controle da economia,
recuperando ideias de austeridade e Estado mínimo em vigor na Europa e
nos Estados Unidos de hoje. Por isso o coro sobre o dragão da inflação
irá se manter, mesmo que ela continue baixa.
O desempenho sofrível dos adversários declarados de Dilma demonstra sua falta de contato com a vida real dos eleitores.
Aécio perdeu pontos, na última pesquisa, depois de aderir,
justamente, à crítica de que o governo não controla gastos nem impede a
alta da inflação. Caiu nos protestos e não conseguiu oferecer nenhuma
resposta que lhe permita reerguer-se.
Com o propinoduto tucano, que deverá ocupar as atenções do mundo
político nos próximos meses, a candidatura de Aécio pode perder mais
musculatura.
Até porque já enfrenta outro grande escândalo tucano, o mensalão PSDB-MG, que ocorreu justamente em seu Estado.
Será possível criminalizar o adversário nesta situação e fazer silêncio sobre a principal fortaleza tucana?
Bem avaliado em Pernambuco, Eduardo Campos ainda não atravessou a
fronteira que lhe permitiria ser competitivo no plano nacional, diz o
levantamento.
Marina Silva cresceu e seria hoje a adversária de Dilma num segundo
turno. Convém reparar que, a cada levantamento, Marina reforça a
convicção de que não disputa o Planalto – mas é candidata a mito.
Não ouve, não fala e não vê. Não tem propostas para economia, nem
se sabe se é a favor ou contra o Mais Médicos, a Reforma Política ou lá o
que seja.
Diz que não é candidata de oposição nem de situação, recurso
bisonho para agradar a todos, mas que pode ser de alto risco num país
polarizado.
Para decepção de tantos aliados tão charmosos que surgiram em seu
caminho, Marina está com dificuldade de formar seu partido político.
Apoios prometidos não vieram e alianças quase consolidadas foram
desfeitas.
Sou a favor de uma campanha com confronto de ideias e discussão de
propostas. Com 20% dos votos em 2010, Marina Silva fala em nome de uma
parcela real de brasileiros e sua candidatura é legítima.
Mas a opção por construir-se como uma candidata acima de tudo e de
todos pode ter um preço. O maior deles é a dificuldade para articular
aliados e parceiros para organizar o melhor instrumento já criado pelas
democracias para defender ideais e projetos – um partido político.
Só espero que, se não aparecer peixe em sua rede, os amigos que
Marina acumulou desde que deixou o governo Lula não apareçam mais uma
vez para apresentá-la como vítima da truculência adversária, pedindo
para mudar regras no meio do jogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário