- O sociólogo italiano afirma em novo livro que, apesar da desigualdade social, o Brasil pode colaborar para a construção de um novo modelo social para o mundo
Prestes a completar 76 anos, o sociólogo italiano Domenico De Masi
defende em seu novo livro, “O futuro chegou: modelos de vida para uma
sociedade desorientada” (Casa da Palavra em parceria com Quitanda
Cultural), que chega esta semana às livrarias, que o modelo da sociedade
brasileira pode ser um exemplo para o resto do mundo.
— Com seu patrimônio histórico e cultural, o Brasil pode dar contribuições insubstituíveis à formação do novo modelo global, e os intelectuais brasileiros, depositários destas contribuições, podem conferir a este modelo uma dimensão ecumênica — afirmou De Masi, em entrevista por e-mail ao GLOBO.
Embora admita problemas no modelo brasileiro — como a distância entre pobres e ricos, o analfabetismo e a corrupção —, destaca os fatores positivos, como o sincretismo, a postura positiva em relação à vida e a aversão à guerra.
Na sua avaliação, a atual crise econômica mundial é “uma redistribuição planetária da riqueza”, na qual os países mais ricos ficarão menos ricos e os pobres, menos pobres.
O senhor aborda no livro a situação única do Brasil. O que mais se destaca no nosso modelo de vida?
A especificidade do Brasil me pareceu evidente ao ler livros, ver filmes e telenovelas e viajar centenas de vezes por todo o país, tendo contatos intensos com brasileiros de todas as classes sociais. Hoje, o Brasil está só, entre dois modelos antigos em crise — o europeu e o americano — e um novo modelo que o mundo inteiro espera, que demora a nascer, mas que virá mais cedo ou mais tarde. Num mundo global não é mais possível que apenas um país desenhe esse modelo, mas ele ocorre com a contribuição de todos. De cada modelo já experimentado no Oriente e no Ocidente devemos extrair o melhor e, a partir desse recurso cultural oportunamente selecionado, atualizado e modelado, devemos definir os valores capazes de orientar nossa sociedade pós-industrial, indicando-lhe a meta e a rota. Dizia Sêneca: “Nenhum vento é favorável para o marinheiro que não sabe aonde quer ir”. Devemos definir onde e como, se não permaneceremos na confusão. Com seu patrimônio histórico e cultural, o Brasil pode dar contribuições insubstituíveis à formação do novo modelo global e os intelectuais brasileiros podem conferir a esse modelo uma dimensão ecumênica.
Pode citar um exemplo?
Está acontecendo no mundo a mais imponente mistura racial de todos os tempos, determinada a nível físico pelas migrações e, a nível cultural, pela mídia e pela internet. Todo o mundo está virando mestiço, mas apenas o Brasil já experimentou há tanto tempo e tão a fundo a miscigenação. No século XX, os intelectuais que Sérgio Buarque de Hollanda chamou de “inventores do Brasil” (de Joaquim Nabuco a Euclides da Cunha, de Manoel Bomfim a Paulo Prado, de Gilberto Freire a Celso Furtado) se esforçaram em revelar o Brasil para os brasileiros partindo justamente da sua miscigenação. Da mesma forma, o mundo aguarda quem revele a Terra aos humanos, quem a reinvente, conferindo-lhe, a partir de um novo modelo de vida, uma identidade nova e consciente.
O que os outros países podem aprender com o Brasil?
No curso de sua História, a humanidade produziu modelos de vida que homogeneizaram massas enormes nas grandes comunidades que chamamos civilização. No livro, escolhi 15 modelos (como, por exemplo, chinês, católico e industrial capitalista) que considero mais úteis para a construção do modelo necessário ao desenvolvimento equilibrado da nossa vida. O modelo brasileiro, que também contém fatores de distorção (como a excessiva aprovação do modelo americano) ou fatores intoleráveis (como a distância entre pobres e ricos, o analfabetismo, a corrupção), cultiva, todavia, uma série de aspectos positivos em quantidade dificilmente disponíveis em outro lugar: por exemplo o sincretismo, a cordialidade, a sensualidade sem o senso de culpa (“Não existe pecado do lado de baixo do Equador”, canta Chico), a receptividade, a amizade, a antropofagia cultural, a postura positiva em relação à vida, a aversão à guerra, a baixa propensão ao racismo, a tendência a considerar fluidos os limites entre o sagrado e o profano, entre o formal e o informal, entre o público e o privado, entre a emoção e a regra.
O senhor diz que as manifestações sociais no Brasil são causadas pela desorientação e confusão psicossocial provocada pela falta de um modelo de referência. Como isso ocorre?
Hoje a desorientação representa o fator determinante de cada manifestação da sociedade. Não apenas no Brasil, mas em todas as sociedades industriais e pós-industriais. Isso deriva da nossa dificuldade em compreender, metabolizar e gerir o desenvolvimento tecnológico, as mudanças organizacionais, a globalização, a prevalência da economia e das finanças sobre a política, a escolarização difundida, a mídia de massa e a internet. Todo o mundo falou dos movimentos no Brasil, nos Estados Unidos, na França, na Turquia.
O que diferencia o Brasil?
O Brasil é visto como um país aberto ao novo e às mudanças. Um país que, ainda nos piores momentos, afronta a realidade com um sentimento positivo. Em relação ao passado, o país apresenta dois novos elementos: para vocês é mais difundida a consciência de ser uma nação de ponta, propositiva, capaz de realizar profundas mutações no seu interior e de propor também ao exterior o seu modo de ser. O movimento social que, durante os últimos meses, se verificou em várias formas nas praças, na internet e nos shopping centers brasileiros representa uma de tantas expressões desse crescimento. O Brasil foi precocemente pós-industrial. Em alguns casos as contestações vieram de forma latente, escondidas na música, no futebol, na capoeira, no carnaval. Em outros, vieram de forma mais explícita, por meio de movimentos artísticos, políticos, sindicais e religiosos. Hoje, chegam de forma virtual pela internet e em forma física nas manifestações nas praças, nos saques a grandes lojas e no vandalismo contra os bancos, considerados as mães de todos os desastres econômicos. Diferentemente de nós, italianos, que toleramos covardemente Silvio Berlusconi (ex-primeiro ministro) e o berlusconismo, os brasileiros demonstraram ter uma paciência limitada e saber enfrentar os males comuns. É provável que alguns dos manifestantes tenham sido motivados pelo consumismo, mas a grande maioria quer aumentar a igualdade e a justiça combatendo a violência, a corrupção, o analfabetismo, as distâncias entre os exploradores e os explorados. Tudo isso de modo bastante pacífico, se pensarmos que no século XVIII a burguesia chegou ao poder guilhotinando mais de vinte mil nobres.
O senhor argumenta que o recuo do PIB dos países ricos e a crise financeira de 2008 são o início de “uma longa e implacável redistribuição mundial de riqueza". Como se dá o fenômeno?
O PIB global cresce cerca de três ou quatro pontos percentuais a cada ano. Por séculos, esse crescimento foi vantajoso para o primeiro mundo, às custas do terceiro mundo, enquanto hoje favorece, sobretudo, os países emergentes. Entre 1982 e 1987, os dez países que mais contribuíram para o crescimento global foram EUA (30%), Japão (10,3%) e China (9%), seguidos por Reino Unido, Brasil, Índia, Alemanha, Coreia do Sul, Itália e Canadá. Estudo do FMI e do Instituto Global McKinsey nos diz como mudará essa escala entre 2012 e 2017. Em primeiro lugar virá a China (34%), seguida por Estados Unidos (14%), Índia (9%), Brasil (4%) e depois Rússia, Indonésia, Coreia do Sul, México, Japão e Turquia. Os países mais ricos se tornarão menos ricos e os países mais pobres se tornarão menos pobres. Este processo, que o primeiro mundo chama de “crise”, iludindo-se que será passageiro, na realidade é uma redistribuição planetária da riqueza que transformará cada vez mais a ordem sociopolítica do mundo.
Estados Unidos e Europa perderão o espaço que ocupam?
Os Estados Unidos e a Europa continuarão a liderar a economia e a produção de ideias, mas a distância com o Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e os Civets (Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul) será menor.
Como articularia hoje o conceito de ócio criativo num mundo do trabalho com cada vez mais tecnologias? A presença mais disseminada de smartphones, tablets e redes sociais não elimina o espaço para o ócio criativo?
Por “ócio criativo” não quero dizer repousar, perder tempo ou não fazer nada, rendendo-se à preguiça. Como “ócio criativo” entendo aquela atividade humana em que convergem e se confundem o trabalho com que criamos riqueza, o estudo com que criamos conhecimento e o jogo com que criamos alegria. É a atividade do artesão, do artista, do empreendedor, da dona de casa, do cientista quando desenvolvida com curiosidade, motivação, criatividade e satisfação. Smartphones, tablets e redes sociais são instrumentos que liberam tempo, permitem interações, facilitam conhecimentos. São os melhores aliados do ócio criativo. Eles reduzem a possibilidade de estar isolado ou desinformado, por exemplo. Mas podem fazer perder ou ganhar tempo. Eles são grandes aliados se usados com sabedoria.
O senhor diz que um novo modelo de vida deve ser escrito por todos e para todos. Vê espaço para uma geração espontânea dessas contribuições?
Com o surgimento da internet e das redes sociais, a cultura é produzida por muitos e destinada a muitos: todos os dias, por exemplo, milhares de pessoas ajudam a escrever a Wikipedia e milhares a consultam. Cada um dos 15 modelos examinados por mim no livro ensina o que aceitar e o que evitar na construção do modelo que nos falta. O modelo que nos ocorre hoje deve ter uma ótica planetária e, logo, deve envolver os melhores intelectuais de cada disciplina e de todo o mundo. Atualmente, não existe uma organização prática que possa recolher e coordenar essas contribuições, e este vazio foi preenchido por banqueiros. Com recursos, eles homogeneizaram a economia e com a economia homogeneizaram a política, impondo os seus valores. Mas existem todas as premissas para que essa organização se forme e, por sorte, dispomos de muitos casos de vanguarda que nos antecipam a experimentação: por exemplo, o Projeto Genoma no campo científico, os movimentos Slow Food e a Terra Madre (rede de organizações que promovem a produção sustentável de alimentos) no campo agrícola, o Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela (sistema de educação musical pública) no campo musical. A História ensina que, quando os velhos modelos não satisfazem mais, mais cedo ou mais tarde floresce um novo, que oferece mais esperança e serenidade.
— Com seu patrimônio histórico e cultural, o Brasil pode dar contribuições insubstituíveis à formação do novo modelo global, e os intelectuais brasileiros, depositários destas contribuições, podem conferir a este modelo uma dimensão ecumênica — afirmou De Masi, em entrevista por e-mail ao GLOBO.
Embora admita problemas no modelo brasileiro — como a distância entre pobres e ricos, o analfabetismo e a corrupção —, destaca os fatores positivos, como o sincretismo, a postura positiva em relação à vida e a aversão à guerra.
Na sua avaliação, a atual crise econômica mundial é “uma redistribuição planetária da riqueza”, na qual os países mais ricos ficarão menos ricos e os pobres, menos pobres.
O senhor aborda no livro a situação única do Brasil. O que mais se destaca no nosso modelo de vida?
A especificidade do Brasil me pareceu evidente ao ler livros, ver filmes e telenovelas e viajar centenas de vezes por todo o país, tendo contatos intensos com brasileiros de todas as classes sociais. Hoje, o Brasil está só, entre dois modelos antigos em crise — o europeu e o americano — e um novo modelo que o mundo inteiro espera, que demora a nascer, mas que virá mais cedo ou mais tarde. Num mundo global não é mais possível que apenas um país desenhe esse modelo, mas ele ocorre com a contribuição de todos. De cada modelo já experimentado no Oriente e no Ocidente devemos extrair o melhor e, a partir desse recurso cultural oportunamente selecionado, atualizado e modelado, devemos definir os valores capazes de orientar nossa sociedade pós-industrial, indicando-lhe a meta e a rota. Dizia Sêneca: “Nenhum vento é favorável para o marinheiro que não sabe aonde quer ir”. Devemos definir onde e como, se não permaneceremos na confusão. Com seu patrimônio histórico e cultural, o Brasil pode dar contribuições insubstituíveis à formação do novo modelo global e os intelectuais brasileiros podem conferir a esse modelo uma dimensão ecumênica.
Pode citar um exemplo?
Está acontecendo no mundo a mais imponente mistura racial de todos os tempos, determinada a nível físico pelas migrações e, a nível cultural, pela mídia e pela internet. Todo o mundo está virando mestiço, mas apenas o Brasil já experimentou há tanto tempo e tão a fundo a miscigenação. No século XX, os intelectuais que Sérgio Buarque de Hollanda chamou de “inventores do Brasil” (de Joaquim Nabuco a Euclides da Cunha, de Manoel Bomfim a Paulo Prado, de Gilberto Freire a Celso Furtado) se esforçaram em revelar o Brasil para os brasileiros partindo justamente da sua miscigenação. Da mesma forma, o mundo aguarda quem revele a Terra aos humanos, quem a reinvente, conferindo-lhe, a partir de um novo modelo de vida, uma identidade nova e consciente.
O que os outros países podem aprender com o Brasil?
No curso de sua História, a humanidade produziu modelos de vida que homogeneizaram massas enormes nas grandes comunidades que chamamos civilização. No livro, escolhi 15 modelos (como, por exemplo, chinês, católico e industrial capitalista) que considero mais úteis para a construção do modelo necessário ao desenvolvimento equilibrado da nossa vida. O modelo brasileiro, que também contém fatores de distorção (como a excessiva aprovação do modelo americano) ou fatores intoleráveis (como a distância entre pobres e ricos, o analfabetismo, a corrupção), cultiva, todavia, uma série de aspectos positivos em quantidade dificilmente disponíveis em outro lugar: por exemplo o sincretismo, a cordialidade, a sensualidade sem o senso de culpa (“Não existe pecado do lado de baixo do Equador”, canta Chico), a receptividade, a amizade, a antropofagia cultural, a postura positiva em relação à vida, a aversão à guerra, a baixa propensão ao racismo, a tendência a considerar fluidos os limites entre o sagrado e o profano, entre o formal e o informal, entre o público e o privado, entre a emoção e a regra.
O senhor diz que as manifestações sociais no Brasil são causadas pela desorientação e confusão psicossocial provocada pela falta de um modelo de referência. Como isso ocorre?
Hoje a desorientação representa o fator determinante de cada manifestação da sociedade. Não apenas no Brasil, mas em todas as sociedades industriais e pós-industriais. Isso deriva da nossa dificuldade em compreender, metabolizar e gerir o desenvolvimento tecnológico, as mudanças organizacionais, a globalização, a prevalência da economia e das finanças sobre a política, a escolarização difundida, a mídia de massa e a internet. Todo o mundo falou dos movimentos no Brasil, nos Estados Unidos, na França, na Turquia.
O que diferencia o Brasil?
O Brasil é visto como um país aberto ao novo e às mudanças. Um país que, ainda nos piores momentos, afronta a realidade com um sentimento positivo. Em relação ao passado, o país apresenta dois novos elementos: para vocês é mais difundida a consciência de ser uma nação de ponta, propositiva, capaz de realizar profundas mutações no seu interior e de propor também ao exterior o seu modo de ser. O movimento social que, durante os últimos meses, se verificou em várias formas nas praças, na internet e nos shopping centers brasileiros representa uma de tantas expressões desse crescimento. O Brasil foi precocemente pós-industrial. Em alguns casos as contestações vieram de forma latente, escondidas na música, no futebol, na capoeira, no carnaval. Em outros, vieram de forma mais explícita, por meio de movimentos artísticos, políticos, sindicais e religiosos. Hoje, chegam de forma virtual pela internet e em forma física nas manifestações nas praças, nos saques a grandes lojas e no vandalismo contra os bancos, considerados as mães de todos os desastres econômicos. Diferentemente de nós, italianos, que toleramos covardemente Silvio Berlusconi (ex-primeiro ministro) e o berlusconismo, os brasileiros demonstraram ter uma paciência limitada e saber enfrentar os males comuns. É provável que alguns dos manifestantes tenham sido motivados pelo consumismo, mas a grande maioria quer aumentar a igualdade e a justiça combatendo a violência, a corrupção, o analfabetismo, as distâncias entre os exploradores e os explorados. Tudo isso de modo bastante pacífico, se pensarmos que no século XVIII a burguesia chegou ao poder guilhotinando mais de vinte mil nobres.
O senhor argumenta que o recuo do PIB dos países ricos e a crise financeira de 2008 são o início de “uma longa e implacável redistribuição mundial de riqueza". Como se dá o fenômeno?
O PIB global cresce cerca de três ou quatro pontos percentuais a cada ano. Por séculos, esse crescimento foi vantajoso para o primeiro mundo, às custas do terceiro mundo, enquanto hoje favorece, sobretudo, os países emergentes. Entre 1982 e 1987, os dez países que mais contribuíram para o crescimento global foram EUA (30%), Japão (10,3%) e China (9%), seguidos por Reino Unido, Brasil, Índia, Alemanha, Coreia do Sul, Itália e Canadá. Estudo do FMI e do Instituto Global McKinsey nos diz como mudará essa escala entre 2012 e 2017. Em primeiro lugar virá a China (34%), seguida por Estados Unidos (14%), Índia (9%), Brasil (4%) e depois Rússia, Indonésia, Coreia do Sul, México, Japão e Turquia. Os países mais ricos se tornarão menos ricos e os países mais pobres se tornarão menos pobres. Este processo, que o primeiro mundo chama de “crise”, iludindo-se que será passageiro, na realidade é uma redistribuição planetária da riqueza que transformará cada vez mais a ordem sociopolítica do mundo.
Estados Unidos e Europa perderão o espaço que ocupam?
Os Estados Unidos e a Europa continuarão a liderar a economia e a produção de ideias, mas a distância com o Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e os Civets (Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul) será menor.
Como articularia hoje o conceito de ócio criativo num mundo do trabalho com cada vez mais tecnologias? A presença mais disseminada de smartphones, tablets e redes sociais não elimina o espaço para o ócio criativo?
Por “ócio criativo” não quero dizer repousar, perder tempo ou não fazer nada, rendendo-se à preguiça. Como “ócio criativo” entendo aquela atividade humana em que convergem e se confundem o trabalho com que criamos riqueza, o estudo com que criamos conhecimento e o jogo com que criamos alegria. É a atividade do artesão, do artista, do empreendedor, da dona de casa, do cientista quando desenvolvida com curiosidade, motivação, criatividade e satisfação. Smartphones, tablets e redes sociais são instrumentos que liberam tempo, permitem interações, facilitam conhecimentos. São os melhores aliados do ócio criativo. Eles reduzem a possibilidade de estar isolado ou desinformado, por exemplo. Mas podem fazer perder ou ganhar tempo. Eles são grandes aliados se usados com sabedoria.
O senhor diz que um novo modelo de vida deve ser escrito por todos e para todos. Vê espaço para uma geração espontânea dessas contribuições?
Com o surgimento da internet e das redes sociais, a cultura é produzida por muitos e destinada a muitos: todos os dias, por exemplo, milhares de pessoas ajudam a escrever a Wikipedia e milhares a consultam. Cada um dos 15 modelos examinados por mim no livro ensina o que aceitar e o que evitar na construção do modelo que nos falta. O modelo que nos ocorre hoje deve ter uma ótica planetária e, logo, deve envolver os melhores intelectuais de cada disciplina e de todo o mundo. Atualmente, não existe uma organização prática que possa recolher e coordenar essas contribuições, e este vazio foi preenchido por banqueiros. Com recursos, eles homogeneizaram a economia e com a economia homogeneizaram a política, impondo os seus valores. Mas existem todas as premissas para que essa organização se forme e, por sorte, dispomos de muitos casos de vanguarda que nos antecipam a experimentação: por exemplo, o Projeto Genoma no campo científico, os movimentos Slow Food e a Terra Madre (rede de organizações que promovem a produção sustentável de alimentos) no campo agrícola, o Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela (sistema de educação musical pública) no campo musical. A História ensina que, quando os velhos modelos não satisfazem mais, mais cedo ou mais tarde floresce um novo, que oferece mais esperança e serenidade.
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