Fetiche dos brasileiros, esta parte da anatomia feminina também interessa a elas, que fazem de tudo para encontrar a forma ideal
Barbara Marcolini
RIO — Empinada, lisinha, dura, redonda, bronzeada e enorme. O tempo
passa e a lista de atributos que fazem de uma bunda perfeita só
aumentam. No país das mulatas, símbolo da beleza e voluptuosidade
femininas, a ânsia por alcançar tamanho, formato e aspecto ideais tem
levado cada vez mais mulheres às mesas de cirurgia — muitas vezes em
procedimentos arriscados. Se para as detentoras da preferência nacional
vale tudo para alcançar o bumbum sonhado, seus maiores admiradores, os
brasileiros, garantem: não há nada mais belo que uma “derrière” natural,
ainda que imperfeita.
Nos últimos dois anos, o número de cirurgias para implante de silicone nos glúteos aumentou 547% no Brasil, de acordo com um levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Iaps, na sigla em inglês). Acompanhando a demanda por bumbuns turbinados, o polêmico mercado da bioplastia de glúteo, técnica de preenchimento que promete inflar e empinar bumbuns sem cirurgia ou cicatrizes, também não para de crescer — apesar de fazer vítimas e ter sido motivo de um alerta do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Para o cirurgião plástico José Horário Aboudib, especialista em cirurgia de glúteos, as brasileiras sempre quiseram turbinar essa parte do corpo, mas as técnicas disponíveis não ofereciam resultados satisfatórios. Ele explica que até cerca de cinco anos atrás as próteses de silicone eram colocadas entre a pele e os músculos dos glúteos, deixando o aspecto artificial. Recentemente, cirurgiões brasileiros desenvolveram um procedimento que coloca a prótese dentro do músculo e não compromete a anatomia da paciente. A novidade trouxe mais mulheres aos centros cirúrgicos, mas não custa pouco: de acordo com Aboudib, uma plástica dessa feita com um profissional experiente sai por cerca de R$ 20 mil.
Como solução mais barata e menos invasiva, médicos e esteticistas prometem avolumar a área com uma técnica chamada bioplastia, que consiste na aplicação de substâncias preenchedoras. O material mais utilizado é o polimetril metacrilato (PMMA), um tipo de acrílico usado para reparar pequenas imperfeições junto aos ossos. Mulheres famosas pelas dimensões como a rainha de bateria da Mocidade Gracyanne Barbosa e a ex-panicat Jaque Khoury já teriam se subetido ao procedimento, mas médicos alertam esse tipo de intervenção pode ter sérias complicações.
— O PMMA foi desenvolvido para aplicação junto ao osso, e não é recomendado para partes moles, como glúteos, coxas ou seios. Esse uso não está consagrado pela medicina, não há estudos científicos demonstrando sua eficácia e segurança. O método não é proibido, mas o profissional deve arcar com as consequências e eventuais responsabilidades — afirma a médica Wanda Elizabeth, que integra a Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do CFM.
Para a psicóloga Joana Novaes, coordenadora do núcleo de doenças da beleza da PUC Rio, a busca por técnicas que aumentem o bumbum e a opção por alternativas perigosas como a bioplastia são reflexo de uma sociedade altamente erotizada. Joana compara a nova moda à obsessão por lábios carnudos ou seios siliconados, e lembra que a medicina acompanha as tendências estéticas.
— É mais uma parte do corpo que é consumida, e que o mercado oferece. A indústria do culto ao corpo é movimentada pela insatisfação. A pessoa tem que consumir coisas para se enquadrar num padrão estético — aponta a psicóloga, lembrando que a mulher brasileira vive uma ditadura estética em que seu corpo é visto como um objeto de desejo.
Mas, afinal, por que essa fixação brasileira com o bumbum feminino? Joana explica que a preferência é resultado da nossa sociedade miscigenada, em que o corpo da mulher negra foi absorvido pelo padrão de beleza. A essa questão a psicóloga acrescenta, ainda, a mentalidade machista do Brasil Colônia, quando a mulher europeia era vista como mãe e esposa, em contraste à negra, tida como amante.
— A bunda está ligada ao desejo, você conjuga a mulher à amante. Essa característica do passado histórico permanece. O Brasil é um país de mestiços, e o biotipo negro foi absorvido de maneira muito intensa. O corpo belo não é o da branca europeia, pois mesmo a loira tem bundão e cinturinha — constata.
Se a derrière é mesmo a preferência nacional, nada mais lógico do que ter um mercado construído em torno dela. Ex-editor das revistas masculinas “Playboy”, “Sexy” e “VIP”, o jornalista e roteirista Edson Aran garante que, ao menos no mundo editorial, um belo bumbum é arrebatador: as vendas aumentam quando essa parte do corpo da modelo está na capa. Fã de corpos mais naturais, ele explica que a beleza de uma bunda não se dá tanto pelo tamanho, mas pela projeção.
— A questão é se é empinada ou não, esse é o ângulo que faz diferença. Se não a gente teria só mulheres frutas no imaginário brasileiro — constata Aran, que aponta Fernanda Lima e Tiazinha, a personagem encarnada por Suzana Alves na TV Bandeirantes nos anos 1990, como belos exemplos de “empinamento”.
Aran atenta, porém, que a fixação não se restringe aos brasileiros. Para ele, musas como Beyoncè, Jennifer Lopez e Lady Gaga comprovam que o atributo também faz sucesso na terra do Tio Sam:
— Acho que o brasileiro só é mais desinibido para assumir que gosta.
Autor dos traços que eternizaram as curvas da mulher brasileira, o cartunista Lan admite ser um genuíno apreciador do corpo feminino, mas nega ter especialidade em bundas — ou ser um “bundólogo”, nas suas palavras. Lan abomina qualquer artifício para endurecer ou empinar as nádegas. Para ele, perfeitas mesmo eram as lendárias mulatas do Sargentelli.
— Gosto muito do corpo da mulata. É perfeito, tem pernas longas, o que dá elegância, uma beleza incrível. Eu detesto tudo o que é artificial. Quem conhece mulher vê logo que é falso. Tem coisa mais feia do que silicone?
A cantora Valesca Popozuda discorda. Ícone da nova geração de bundas super-avantajadas, ela se orgulha dos 106 centímetros de quadril, turbinados por 550 mililitros de silicone em cada nádega. A musa do hit “Beijinho no ombro” colocou as próteses há oito anos, depois da maternidade, quando “tudo caiu”, segundo ela. Valesca acredita que o fato de falar abertamente sobre o assunto acabou estimulando mais mulheres a recorrerem à cirurgia.
— Não vejo problema nisso. Conheço algumas mulheres que, depois de terem visto o meu implante, quiseram colocar, porque acharam bem feito. Na vida prática, nada mudou, hoje só não tomo injeção no bumbum — conta.
Dona de curvas que fazem a Marquês de Sapucaí babar, a produtora cultural e musa da Beija Flor Jaque Faria, de 30 anos, também é a favor de tudo o que faça bem ao ego feminino. Dona de uma par de próteses nos seios, ela garante que o bumbum empinado é 100% natural, herdado da mãe e aperfeiçoado com muitos agachamentos na academia.
— Quem trabalha com o corpo, como dançarinas e modelos, faz muito bem em usar todos os recursos disponíveis. Nunca precisei fazer nada de especial no bumbum porque essa é a minha genética, mas se a pessoa não está se sentindo bem, tem que mudar mesmo.
Nos últimos dois anos, o número de cirurgias para implante de silicone nos glúteos aumentou 547% no Brasil, de acordo com um levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Iaps, na sigla em inglês). Acompanhando a demanda por bumbuns turbinados, o polêmico mercado da bioplastia de glúteo, técnica de preenchimento que promete inflar e empinar bumbuns sem cirurgia ou cicatrizes, também não para de crescer — apesar de fazer vítimas e ter sido motivo de um alerta do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Para o cirurgião plástico José Horário Aboudib, especialista em cirurgia de glúteos, as brasileiras sempre quiseram turbinar essa parte do corpo, mas as técnicas disponíveis não ofereciam resultados satisfatórios. Ele explica que até cerca de cinco anos atrás as próteses de silicone eram colocadas entre a pele e os músculos dos glúteos, deixando o aspecto artificial. Recentemente, cirurgiões brasileiros desenvolveram um procedimento que coloca a prótese dentro do músculo e não compromete a anatomia da paciente. A novidade trouxe mais mulheres aos centros cirúrgicos, mas não custa pouco: de acordo com Aboudib, uma plástica dessa feita com um profissional experiente sai por cerca de R$ 20 mil.
Como solução mais barata e menos invasiva, médicos e esteticistas prometem avolumar a área com uma técnica chamada bioplastia, que consiste na aplicação de substâncias preenchedoras. O material mais utilizado é o polimetril metacrilato (PMMA), um tipo de acrílico usado para reparar pequenas imperfeições junto aos ossos. Mulheres famosas pelas dimensões como a rainha de bateria da Mocidade Gracyanne Barbosa e a ex-panicat Jaque Khoury já teriam se subetido ao procedimento, mas médicos alertam esse tipo de intervenção pode ter sérias complicações.
— O PMMA foi desenvolvido para aplicação junto ao osso, e não é recomendado para partes moles, como glúteos, coxas ou seios. Esse uso não está consagrado pela medicina, não há estudos científicos demonstrando sua eficácia e segurança. O método não é proibido, mas o profissional deve arcar com as consequências e eventuais responsabilidades — afirma a médica Wanda Elizabeth, que integra a Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do CFM.
Para a psicóloga Joana Novaes, coordenadora do núcleo de doenças da beleza da PUC Rio, a busca por técnicas que aumentem o bumbum e a opção por alternativas perigosas como a bioplastia são reflexo de uma sociedade altamente erotizada. Joana compara a nova moda à obsessão por lábios carnudos ou seios siliconados, e lembra que a medicina acompanha as tendências estéticas.
— É mais uma parte do corpo que é consumida, e que o mercado oferece. A indústria do culto ao corpo é movimentada pela insatisfação. A pessoa tem que consumir coisas para se enquadrar num padrão estético — aponta a psicóloga, lembrando que a mulher brasileira vive uma ditadura estética em que seu corpo é visto como um objeto de desejo.
Mas, afinal, por que essa fixação brasileira com o bumbum feminino? Joana explica que a preferência é resultado da nossa sociedade miscigenada, em que o corpo da mulher negra foi absorvido pelo padrão de beleza. A essa questão a psicóloga acrescenta, ainda, a mentalidade machista do Brasil Colônia, quando a mulher europeia era vista como mãe e esposa, em contraste à negra, tida como amante.
— A bunda está ligada ao desejo, você conjuga a mulher à amante. Essa característica do passado histórico permanece. O Brasil é um país de mestiços, e o biotipo negro foi absorvido de maneira muito intensa. O corpo belo não é o da branca europeia, pois mesmo a loira tem bundão e cinturinha — constata.
Se a derrière é mesmo a preferência nacional, nada mais lógico do que ter um mercado construído em torno dela. Ex-editor das revistas masculinas “Playboy”, “Sexy” e “VIP”, o jornalista e roteirista Edson Aran garante que, ao menos no mundo editorial, um belo bumbum é arrebatador: as vendas aumentam quando essa parte do corpo da modelo está na capa. Fã de corpos mais naturais, ele explica que a beleza de uma bunda não se dá tanto pelo tamanho, mas pela projeção.
— A questão é se é empinada ou não, esse é o ângulo que faz diferença. Se não a gente teria só mulheres frutas no imaginário brasileiro — constata Aran, que aponta Fernanda Lima e Tiazinha, a personagem encarnada por Suzana Alves na TV Bandeirantes nos anos 1990, como belos exemplos de “empinamento”.
Aran atenta, porém, que a fixação não se restringe aos brasileiros. Para ele, musas como Beyoncè, Jennifer Lopez e Lady Gaga comprovam que o atributo também faz sucesso na terra do Tio Sam:
— Acho que o brasileiro só é mais desinibido para assumir que gosta.
Autor dos traços que eternizaram as curvas da mulher brasileira, o cartunista Lan admite ser um genuíno apreciador do corpo feminino, mas nega ter especialidade em bundas — ou ser um “bundólogo”, nas suas palavras. Lan abomina qualquer artifício para endurecer ou empinar as nádegas. Para ele, perfeitas mesmo eram as lendárias mulatas do Sargentelli.
— Gosto muito do corpo da mulata. É perfeito, tem pernas longas, o que dá elegância, uma beleza incrível. Eu detesto tudo o que é artificial. Quem conhece mulher vê logo que é falso. Tem coisa mais feia do que silicone?
A cantora Valesca Popozuda discorda. Ícone da nova geração de bundas super-avantajadas, ela se orgulha dos 106 centímetros de quadril, turbinados por 550 mililitros de silicone em cada nádega. A musa do hit “Beijinho no ombro” colocou as próteses há oito anos, depois da maternidade, quando “tudo caiu”, segundo ela. Valesca acredita que o fato de falar abertamente sobre o assunto acabou estimulando mais mulheres a recorrerem à cirurgia.
— Não vejo problema nisso. Conheço algumas mulheres que, depois de terem visto o meu implante, quiseram colocar, porque acharam bem feito. Na vida prática, nada mudou, hoje só não tomo injeção no bumbum — conta.
Dona de curvas que fazem a Marquês de Sapucaí babar, a produtora cultural e musa da Beija Flor Jaque Faria, de 30 anos, também é a favor de tudo o que faça bem ao ego feminino. Dona de uma par de próteses nos seios, ela garante que o bumbum empinado é 100% natural, herdado da mãe e aperfeiçoado com muitos agachamentos na academia.
— Quem trabalha com o corpo, como dançarinas e modelos, faz muito bem em usar todos os recursos disponíveis. Nunca precisei fazer nada de especial no bumbum porque essa é a minha genética, mas se a pessoa não está se sentindo bem, tem que mudar mesmo.
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