Para entidades de direitos humanos consumo de lingerie com bojo estimula erotização precoce
A denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA foi encaminhada na sexta-feira passada pela Organização de Direitos Humanos Projeto Legal e pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos, que consideram os sutiãs uma forma de erotização das crianças, além de ser prejudicial à saúde delas (produz suor excessivo).
“Então, é o caso de proibir também o
funk. Tem coisa mais erotizante para a criança do que o funk, em que
meninas pequenas rebolam até o chão e dançam na boquinha da garrafa? Sem
contar as letras com forte apelo sexual”, atacou o empresário Márcio
Luiz Primo, dono da Lila Lingerie, em São Paulo, que produz cinco mil
peças por mês para crianças.
Em 2013, as duas entidades de direitos humanos
pediram que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurasse
inquérito civil público para investigar o comércio do produto com o
objetivo de combater o processo de erotização de crianças e
adolescentes.
Em dezembro, a promotora Ana Paula Ribeiro Rocha de Oliveira arquivou a representação, alegando que os sutiãs não detêm qualquer cunho erótico e sexual. “Pelo contrário, vislumbra-se até uma forma de proteção aos seios de forma a evitar a transparência e aparecimento dos mamilos, que muitas vezes ocorre nos sutiãs sem esse enchimento”, disse a promotora em seu despacho.
Carlos Nicodemus, advogado da Organização de Direitos Humanos Projeto Legal, recorreu da decisão ao Conselho do Ministério Público, que no início deste mês referendou a sentença de arquivamento da promotora. “Esgotamos internamente os recursos no Brasil e, por isso, estamos recorrendo à OEA, com base no Estatuto e na Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e do Adolescente”. Se a comissão da OEA acatar a denúncia e recomendar medidas administrativas e econômicas para coibir a comercialização dos sutiãs com enchimento, cabe ao governo brasileiro acatá-las.
“Caso contrário, a Corte Interamericana de Direitos Humanos intercede e a recomendação passa a ter cunho de decisão e obrigatoriedade, já que o Brasil reconheceu os poderes do órgão judicial em 1999”, explicou Nicodemus.
Sexualização infantil pode gerar frigidez
Para a doutora em psicologia clínica e professora da PUC-RJ Teresa Negreiros, o tema da erotização precoce é antigo. “As meninas são impúberes e já assimilam o corpo adulto que não têm. Os tempos mudaram, mas não a ponto de se permitir prejuízos psicossociais na infância”, avalia.
“As crianças vivem uma idade que não têm e uma idealização de imagem para a qual ainda não são amadurecidas. As famílias estão dominadas pelos desejos infantis, prejudiciais aos aspectos educacionais. Essa exacerbação da sexualidade pode levar a um processo de frigidez no futuro.
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