5.21.2014

Site reúne vídeos em que Romário ‘ensina’ atacantes da atualidade

Romário comemora seu gol na partida contra Camarões na Copa de 94
Romário comemora seu gol na partida contra Camarões na Copa de 94 Foto: Cezar Loureiro/Agência O Globo (23-6-94)
Mateus Campos* - O Globo
RIO - Na tarde do dia 20 de maio de 2007, o quarentão Romário enfim alcançou a marca que perseguiu com afinco durante toda a carreira. Fez aquele que seria, segundo suas próprias contas, o milésimo gol na vitória do Vasco por 3 a 1 sobre o Sport. Exatos sete anos depois, seu nome continua na ponta da língua de muitos fãs de futebol. Um deles, o economista Júlio César Cardoso, estava cansado de ver atacantes desperdiçando chances fáceis. Decidiu, então, comparar o Baixinho com os jogadores da atualidade. Nascia assim o site Ensina, Romário.
— Sempre que via algum jogador perder um gol fácil, na cara do goleiro, eu comentava com quem estivesse por perto: “Essa aí, com o Romário, era gol!” ou “É por isso que Romário foi artilheiro do Brasileiro perto dos 40 anos. Não perderia um desses!” Com a disponibilidade de vídeos pela internet, percebi era possível ter um enorme acervo de gols do Romário. Assim, surgiu a ideia — explica.
Júlio César fica atento a chances perdidas no futebol brasileiro e internacional e, com uma memória prodigiosa, lembra de algum gol que Romário marcou de forma semelhante. Ele junta os dois lances num vídeo e posta no Youtube. O resultado é marcante: o lendário atacante mostra frieza que os outros não demonstraram em jogadas praticamente iguais. Ninguém escapa das comparações: mesmo craques como o português Cristiano Ronaldo e Oscar, da seleção brasileira e do Chelsea, são flagrados titubeando diante de goleiros e zagueiros adversários.
Rapidamente o site caiu nas graças dos usuários do Twitter e do Facebook, que se encarregaram de fazer chegar até o próprio homenageado, um ativo usuário das redes sociais. O atual deputado Romário deu um tempo nos compromissos para conferir a criação de Júlio César Cardoso. E, como não poderia deixar de ser, aprovou.
— Achei muito bacana a criação do site, porque, daqui a pouco, a história se perde. Então, não deixa de ser um museu virtual desses gols. Percebo que muitos jovens, até crianças, me abordam para pedir autógrafo, pessoas que, pela idade, não me viram jogar, então, além da influência dos pais, tem a força da internet. Sou realmente muito grato — disse Romário, por e-mail.
Desde sua estreia no Vasco, o jogador passou por alguns grandes centros do futebol mundial. É idolatrado por torcedores do Ajax, do Barcelona e do Flamengo. Foi artilheiro de 26 campeonatos diferentes e escolhido o melhor jogador do mundo em 1994 pela Fifa. Seguramente, sua galeria de troféus é bem maior do que a de muitos clubes. Mas isso não quer dizer que o polêmico camisa 11 seja infalível. O próprio Ensina, Romário sabe disso: postou a imagem de um gol feito que o craque perdeu na final da Copa do Mundo dos Estados Unidos.
— O aproveitamento dele era incrível. Claro que perdeu gols aqui e ali, mas a sensação de que, se a bola chegasse nele, o goleiro estaria em apuros, era inigualável. Romário tinha técnica, controle de bola, posicionamento, inteligência e muita frieza — perdoa Júlio César.
O economista, que também mantém um site de estatísticas sobre futebol, identifica uma escassez de centroavantes “à la” Romário. Para ele, isso é reflexo da lógica que impera no esporte atualmente.
— Creio que as próprias mudanças táticas e físicas do futebol mundial, de certa forma, têm feito com que a figura do jogador matador, definidor puro, seja mais rara — pontua. — Mas hoje, tenho a impressão que a falta de definidores de altíssimo nível é mais notável no nosso futebol do que na Europa. A safra atual conta com zagueiros que se destacam em grandes clubes do mundo, volantes, meias... Mas só Neymar, que não é centroavante, é um atacante de topo de linha. Muitas seleções, inclusive menos tradicionais, contam com centroavantes de melhor qualidade e maior relevância no futebol mundial do que os nossos — analisa Júlio César, sem economizar no saudosismo.
* Reportagem publicada na revista digital O Globo a Mais

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