Conhecimentos, que eram anotados à mão por curandeiro indígena do Acre, foram organizados em 260 páginas, para serem passados ao grande público
A edição apresenta plantas com poder
de cura, estabelecendo um diálogo entre a classificação botânica e o
conhecimento espiritual do povo Huni Kuin. “São quatro capítulos
que contam histórias e tradições desta etnia. Em princípio, a
distribuição do livro seria apenas entre os índios. Após reunião entre
eles, ficou definido que também poderia ser apresentado ao grande
público. Por isso, é escrito em português e hatxa kuin, a língua deles”,
explica Quinet.
A publicação teve uma primeira tiragem de mil
exemplares, produzida em papel plástico de garrafas PET, para sobreviver
à umidade da floresta. Em maio, 400 exemplares foram distribuídos entre
pajés e aprendizes do Rio Jordão, em uma grande festa, e também para
líderes e pajés das 32 aldeias da região ao longo do rio. Através de uma
votação entre os Huni Kuin, foi decidido que o livro poderia ser
distribuído também fora da aldeia indígena.Quinet conta ainda que, quando Agostinho lhe mostrou seu caderno de anotações, não estava tudo pronto. “Viajamos, fizemos mais pesquisas e até uma oficina com 22 pajés, dos mais velhos aos mais novos. E foi desta oficina que nasceu a base dos textos, em novembro de 2011”, lembra. O pajé Agostinho morreu pouco tempo depois, aos 67 anos. “Mas ele sabia que seu desejo ia se tornar realidade. É um projeto grande, para as futuras gerações, as suas e as nossas”, pontua Quinet. ‘Una Isi Kayawa - Livro da Cura’, da Dantas Editora, custa R$ 120 e tem 260 páginas.
Atividades gratuitas e com índios
Programação especial de lançamento do livro começou ontem e vai até o dia 27, no Parque Lage. No local, foi construída a Kupixawa ou ‘A Casa Grande dos Encontros’ — oca de 10 m de altura por 12 m de diâmetro, baseada na arquitetura do povo Huni Kuin. Todas as atividades de lançamento serão gratuitas e incluem exposições de fotografias de Camilla Coutinho Silva, debates, mostra de filmes indígenas, contação de histórias pelos próprios pajés, passeios nos jardins, oficinas de tecelagem e pintura corporal para crianças.
Uma das plantas listadas no livro é a guiné, facilmente encontrada nos Estados do Acre, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo os índios, ela pode ser usada para dores de barriga, cabeça ou de ouvidos, e ainda para banhar pacientes febris. Ainda segundo a cultura indígena, banhos com folhas cozidas fazem as crianças crescerem fortes, vigorosas e com saúde. O macerado é indicado para pneumonias e bronquites. Em doses elevadas e contínuas, a planta é venenosa.
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