Os bancos brasileiros, entre eles
o Itaú Unibanco e o Bradesco, devem evitar usar a maior parte dos R$ 70 bilhões
que o governo colocou à disposição para estimular o crédito e a economia.
"Estamos fazendo o máximo
possível de crédito, mas existem situações que não estão tendo demanda. E a
gente ouve falar muito que o empresariado está cauteloso, que o consumidor está
cauteloso", disse Domingos Figueiredo de Abreu, vice-presidente-executivo
do Bradesco, em entrevista por telefone, da sede da empresa, em Osasco.
Depois que a economia mergulhou
em uma recessão, no primeiro semestre de 2014, o Banco Central eliminou R$ 70
bilhões em depósitos compulsórios e exigências de capital para acelerar o
crescimento do crédito, que caiu em julho para 11% em uma base anualizada, o
nível mais baixo desde 2004.
Essas medidas poderiam aumentar o
crédito em até R$ 310 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg, dando
um impulso à presidente Dilma Rousseff na corrida para as eleições do mês que
vem.
Mesmo com os fortes incentivos,
os bancos estão resistindo a aumentar o crédito. Entre esses incentivos está o
fim da remuneração de 11% que eles recebiam sobre os R$ 40 bilhões em
compulsórios depositados no BC.
Agora, os bancos podem receber um
retorno zero sobre esse dinheiro ou usá-lo para financiar a compra de carros e
motos, adquirir carteiras de crédito ou letras financeiras de bancos menores.
Empréstimos automotivos
"O problema é que a demanda
para compra de veículos não está aquecida atualmente", disse Paulo
Duailibi, chefe de produtos de varejo do banco Santander Brasil SA.
"Como a alternativa é não
receber nenhum retorno, estamos oferecendo empréstimos para as montadoras com
taxas de juros muito atrativas", às vezes mais baixas que a taxa Selic, do
BC, o que permite que as empresas automotrizes ofereçam taxas de juros zero aos
consumidores, disse ele.
Bradesco,
Itaú, e Santander reduziram suas taxas de juros para empréstimos automotivos. O
crédito para pessoas comprarem veículos caiu 4,5% em julho em relação ao mesmo
mês do ano passado, para R$ 185,2 bilhões, segundo o BC.
"É improvável que o BC
consiga estimular os bancos grandes a comprarem carteiras de crédito dos
menores", disse Antonio Hermann de Azevedo, diretor-executivo do banco
BMG.
Compra de créditos
"Os bancos não vão comprar
carteira de crédito depois dessas medidas, porque não tem muito portfólio para
adquirir", disse ele, em entrevista por telefone. Os bancos médios
reduziram os empréstimos com a desaceleração da economia e para manter a
inadimplência sob controle, disse Azevedo.
O BMG, que tem sede em São Paulo,
possui 40% de uma joint venture de empréstimos consignados formada com o Itaú
em 2012.
O Itaú não quis comentar se as
medidas do governo vão alterar sua projeção de crescimento para o crédito neste
ano. O banco estima que sua carteira de empréstimos aumentará para algo próximo
de 10% neste ano, disse Marcelo Kopel, diretor de relações com investidores, no
dia 5 de agosto, em teleconferência sobre lucros com repórteres.
O Bradesco mantém sua projeção de
crescimento do crédito entre 10% e 14%, disse Abreu. O presidente Luiz Carlos
Trabuco Cappi disse, após o anúncio das primeiras medidas do BC, em julho, que
o banco poderia ampliar o crédito em R$ 10 bilhões usando os recursos
liberados. Mas, segundo ele, o aumento não seria imediato.
Empréstimos do Itaú
O crédito total concedido pelo
Itaú cresceu 11% no segundo trimestre em relação ao ano anterior, para R$ 518,4
bilhões, segundo seu balanço mais recente. A carteira de empréstimos do
Bradesco cresceu 8,1%, para R$ 435,2 bilhões, enquanto os empréstimos do
Santander aumentaram 4,9%, para R$ 279,7 bilhões.
"Os bancos têm uma certa
reticência em aumentar a exposição a linhas de crédito mais arriscadas. A gente
está no meio de um processo de eleições, com uma visão econômica diferente de
cada candidato. Ao mesmo tempo, há dados do mercado de trabalho que são mais
fracos. Começa a se ver fragilidade no mercado de trabalho", disse Carlos
Macedo, analista do Goldman Sachs Group Inc. em Nova York, em entrevista por
telefone, em 25 de agosto.
"A gente ainda vê o crédito
automotivo encolhendo, com a aversão dos bancos a linhas mais arriscadas e com
o foco nas linhas menos arriscadas, como o crédito imobiliário e o
consignado", disse Macedo. "O desemprego vem em uma curva de baixa
desde 2004. E se olhar para 2015, tem-se uma possibilidade de aumento do
desemprego. Se isso se converter em desemprego, pode haver problema de
inadimplência".
"O nível de endividamento
das famílias, os gastos com o serviço da dívida, está indo na casa dos 20%. É
um nível bastante alto", disse ele. "Os empréstimos ao consumidor
crescerão apenas se o produto interno bruto acelerar".
As medidas de estímulo ao crédito
do governo são negativas para o risco de crédito dos bancos porque reduzem as
proteções ao capital e estimulam o empréstimo para empresas pequenas e
consumidores de risco mais alto em um momento em que a economia está
enfraquecendo, a inflação é persistente e a criação de empregos é limitada,
disseram analistas da Moody's Investors Services em um relatório, em 25 de
agosto.
"O próximo ano deve ser um
ano de ajustes. Portanto, acredito que ainda não será um ano de forte
recuperação do crédito", disse Carlos Kawall, economista-chefe do banco J.
Safra e ex-secretário do Tesouro.
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