A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) começou a testar nesta quarta-feira uma forma inovadora de combater a dengue na cidade do Rio de Janeiro. Mosquitos modificados em laboratório foram liberados nesta manhã no bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte, onde moram 3 mil pessoas.
Semanalmente serão liberados aproximadamente dez mil
Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia, encontrada no meio
ambiente e capaz de impedir a transmissão da dengue pelo mosquito. Na
primeira fase do projeto, iniciado há dois anos, os pesquisadores
monitoraram a população de mosquitos na região com o apoio dos moradores
do bairro.
A pesquisa com os mosquitos mutantes começou na
Austrália, em 2009, por uma iniciativa sem fins lucrativos que integra o
Programa Eliminate Dengue: Our Challenge, traduzido para Eliminar a
Dengue: Desafio Brasil.
O líder da pesquisa no país, Luciano Moreira, explicou
que a expectativa é de que, até o final do ano, toda população de Aedes
aegypti seja infectada pela Wobachia e esteja livre do vírus da dengue
em Tubiacanga. As liberações serão feitas por aproximadamente três ou
quatro meses e vai depender dos resultados sobre a capacidade dos
mosquitos com Wolbachia de se instalarem no local.
“Quando essa bactéria é colocada no Aedes aegypti, ela
bloqueia o vírus da dengue. Precisaremos de aproximadamente um a dois
anos para constatar se realmente houve redução do número de casos”,
disse Moreira.
Para reduzir o incômodo da população e não alterar o
número de mosquitos no bairro após a liberação dos mutantes, os
criadouros de Aedes aegypti no local foram destruídos. "É um projeto
natural, autossustentável, pois a partir do momento em que o mosquito se
estabelece naquela área, ele fica por lá. Na Austrália, soltaram os
mosquitos por dez semanas em 2011 e, até hoje, em duas localidades os
mosquitos estão 100% com a bactéria”, contou Luciano Moreira ao
ressaltar que para obter um estudo mais detalhado será necessário
ampliar a área da pesquisa. Outras três localidades são monitoradas para
futuras liberações de mosquitos: Urca, na zona sul; Vila Valqueire, na
zona norte e Jurujuba, em Niterói, região metropolitana.
“São áreas que têm a presença do mosquito o ano todo,
casos de dengue: umas muito populosas, outras pouco, umas com muita
vegetação e outras com pouca vegetação. Estamos trabalhando com as
pessoas que vivem nessas localidades, respondendo às perguntas,
explicando sobre o projeto para termos apoio”, disse o pesquisador da
Fiocruz. Durante o mapeamento da população de mosquitos, foram
instaladas armadilhas para capturar e estudar os insetos na casa de
dezenas de moradores.
Se os resultados forem positivos, o Ministério da Saúde pretende expandir o projeto para outras áreas do Brasil, explicou.
Moreira participou do início do projeto na Austrália em
2009, quando descobriu com outros pesquisadores a capacidade da
Wolbachia de reduzir a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito.
Durante cinco anos, membros da equipe do programa de lá alimentaram uma
colônia de mosquitos com Wolbachia usando, voluntariamente, os próprios
braços. Isso resultou em centenas de milhares de picadas de mosquitos
sem que reações à bactéria fossem detectadas. A pesquisa também está
sendo realizada no Vietnã e na Indonésia.
Os testes de campo no Brasil foram aprovados pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) após rigorosa avaliação
sobre a segurança para a saúde e para o meio ambiente.
Além do financiamento da Fiocruz, pelo Ministério da
Saúde, o projeto brasileiro também recebe verbas do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação e do CNPq. As secretarias municipais de
Saúde de Niterói e do Rio atuam como parceiras locais na implantação do
projeto.
A Wolbachia está presente em cerca de 60% dos insetos no
mundo, incluindo diversas espécies de mosquitos, como o pernilongo, sem
risco para a saúde humana ou o ambiente. É uma bactéria intracelular,
transmitida de mãe para filho no processo de reprodução dos mosquitos e
não durante a picada do Aedes em um ser humano.
Agência Brasil
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