9.22.2014

Acusações e ofensas esquentam debate entre candidatos ao governo do Rio

Garotinho (PR) chegou a afirmar que 'havia um ladrão naquela mesa' e chamou Pezão de traidor

Jornal do BrasilCláudia Freitas
O clima do debate eleitoral com os candidatos ao governo do Estado do Rio de Janeiro, na manhã desta segunda-feira (22/9), esquentou com a troca de ofensas, farpas e acusações entre os candidatos Anthony Garotinho (PR) e Luiz Fernando Pezão (PMDB). O encontro foi promovido pela Ordem dos Advogados do (OAB-RJ), em parceria com a Revista Veja e a Universidade Estácio, com os cinco postulantes que lideram as pesquisas de intensão de votos.
Já no primeiro bloco, onde os postulantes fizeram as perguntas diretamente para os adversários. Garotinho chamou Pezão de "traidor", por negar participação em seu governo, no ano de 2009. "Pezão, além de traidor tem a memória fraca", disse o candidato do PR, relembrando as parceiras que fizeram na época da gestão de Garotinho. 
Em outro momento, quando respondia a Pezão sobre os seus planos no setor de Segurança Pública, Garotinho disse que criou, juntamente com Pezão, os batalhões de defesa social, que mais tarde receberam a denominação de UPP, no governo seguinte, criticando a forma que o programa foi conduzido. "Vocês [se referindo ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o atual governador, Pezão] criaram uma nova política de exportação de bandidos, tirando das comunidades e levando para outras áreas do estado", disparou Garotinho, mostrando para a plateia uma foto com a imagem de Cabral ao lado de Jerominho e Natalino, acusados em processos na Justiça por integrar grupos de milícias que atuam na Zona Oeste do Rio.
No segundo bloco, quando os candidatos discutiam vários temas, Garotinho afirmou que 'não é ladrão, mas naquela mesa havia um ladrão'. Perguntado após o debate para quem foi dirigida a acusação, o candidato do PR foi incisivo: "ficou muito claro, muito claro". Logo depois, Pezão afirmou que não houve investimentos em educação durante o governo de Garotinho e a resposta do candidato do PR veio na sequência: "o Pezão mente com a desfaçatez dos hipócritas, porque ele mesmo inaugurou escolas comigo, durante o meu governo. Aqui está um bonequinho do Cabral, que o colocou para ser seu ventríloco, enquanto ele se esconde". 
O governador acusou Garotinho de afastar indústrias do Rio em consequência da violência na cidade. Garotinho rebateu: "Pezão, além de traidor, tem amnésia. Comperj, Peugeout-Citroen, Polo de Gás Químico. Todas essas empresas, isso foi tudo no meu governo. Pelo menos tenha a dignidade, um sujeito pode flexibilizar suas alianças, mas esquecer o seu passado é muito feio para você".

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Educação
O candidato do PT, Lindberg Farias, focou seu discurso na educação e defendeu mudanças política, através do resgate de programas considerados por ele vitoriosos, como os Cieps. Lindberg disse que vai dar maior atenção ao Pronatec e trabalhar para estreitar a relação do estado com os municípios, que sozinhos não estão conseguindo cumprir as suas metas. Marcelo Crivella citou a UERJ como exemplo do sucateamento do setor no estado e prometeu maior atenção para o ensino médio, que teve os seus números alarmantes revelados pelo último IDEB.
Anthony Garotinho ressaltou o seu compromisso para investimento na educação pública, com proposta de ampliar o ensino médio e recuperar as faculdades que ficaram sucateadas no atual governo. O candidato foi retrucado por Pezão, que afirmou não conhecer avanços durante a administração do antecessor Garotinho, o que resultou na queda do número de estudantes na sua administração. "O Pezão mente com a desfaçatez dos hipócritas, porque ele mesmo inaugurou escolas comigo, durante o meu governo. "Aqui está um bonequinho do Cabral, que o colocou para ser seu ventríloco, enquanto ele se esconde. O público das manifestações não vão votar em vocês", disparou Garotinho.  
A função da escola, na visão do candidato Tarcísio Motta, que é professor de História do Colégio Pedro II, vai muito além dos assuntos internos. Ele criticou o modelo de meritocracia do atual governo, mas também fez duras acusações contra a gestão de Garotinho, que segundo ele "afundou a educação". "São todos Cabrais", classificou o candidato do PSOL.  
Cultura no Rio
O encontro foi aberto pelo candidato do PSOL, Tarcísio Motta, que escolheu Pezão para comentar as propostas na área da cultura. Pezão destacou que o seu governo criou as bibliotecas parque em áreas pacificadas e deve dar continuidade a esse projeto, juntamente com a urbanização dessas regiões. A área de audiovisual, segundo o governador, será prioridade na sua gestão, se for reeleito. Na sua réplica, Tarcísio Motta considerou que o governo Cabral/Pezão investiu apenas 0,3% do orçamento em cultura, que se encontra em estado de abandono e atingida por um processo de elitização. Motta disse que os seus planos para o setor visam implementar as atividades culturais nas escolas públicas, assim como recuperar os centros de memória regionais. "Já que esse governo até agora só visou o lucro", disse.
O candidato Marcelo Crivella ponderou que o atual governo investiu R$ 500 milhões na cultura, apenas 1% da verba estadual, mas que essa cifra é muito baixa pelo potencial que o estado, que teve Deus como seu arquiteto. Garotinho arrematou as colocações de Crivella, acrescentando que desse parco investimento ainda foi destinado à eventos com fins lucrativos, como os concursos de hipismo promovidos por Athina Onassiss, o Rock In Rio e os sorteios para a Copa do Mundo. "Precisamos acabar com os maus atos na cultura, que passa por uma decadência em decorrência da corrupção, que chegou neste governo ao seu ápice. A mudança tem que vir de cima para baixo", destacou Crivella. 

Segurança Pública
As discussões sobre segurança deixaram o debate ainda mais acirrado, especialmente entre os candidatos do PR e do PMDB. Pezão perguntou à Garotinho sobre os seus planos de governo para o setor. O adversário respondeu que pretende investir em um projeto que eles iniciaram juntos durante a sua gestão, os batalhões sociais, que tem como base a política proximidade entre policiais e comunidades. Segundo Garotinho, os maiores criminosos foram presos no seu governo, mas a gestão seguinte "afrouxou" a prisão de bandidos e milicianos, insinuando com a apresentação de uma foto a relação do ex-governador Cabral com supostos milicianos.
O candidato do PSOL acusou o atual governo de promover uma política contra a população pobre e negra nas comunidades, citando como exemplo os casos de violência ocorridos em áreas pacificadas, envolvendo policiais e moradores. "Não podemos esquecer do caso Amarildo, do caso Cláudia", destacou Motta, apresentando a proposta de mudar os critérios de formação dos policiais. Segundo ele, somente com desmilitarização será possível controlar o tráfico de armas no estado usando de inteligência e se ter uma gestão mais democrática da segurança. "Não se pode compactuar com as milícias que explodiram no governo Pezão. E temos que agir garantindo, ao mesmo tempo, os direitos humanos", disse o candidato do PSOL, considerando que as estatísticas da criminalidade no estado refletem uma política equivocado da atual gestão.
Lindberg Farias considerou que há um "extermínio" de pessoas negras e pobres. Ele comparou os números da violência no Rio à guerra no Afeganistão. "Temos no Rio 87 mil pessoas vítimas da violência, enquanto que no Afeganistão são 100 mil, no mesmo período. Um aumento de 115% no índice de violência no governo Cabral, como resultado de uma polícia despreparada", enfocou o candidato, apoiando um possível processo de desmilitarização. O postulante do PT, se eleito, pretende abrir concursos para contratar novos policiais, que devem atuar em áreas pacificadas e na Baixada Fluminense. Segundo ele, há uma desigualdade muito grande no esquema de segurança dos municípios do Rio, ficando algumas regiões completamente descobertas. Para Lindberg, a política de guerra ao desarmamento adotada no atual governo não estão funcionando e está atingido diretamente a camada mais pobre da população.
Mobilidade urbana
Tomando como apoio as condições precárias dos modais de transporte no Rio, Tarcísio Motta acusou o governo do PMDB de ter "mercantilizado" o setor no estado, enfocando a necessidade de "abrir a caixa preta das privatizações" para mudar a realidade atual. O candidato criticou a atitude "um secretário" que sorrir ao lado de um empresário quando algo dá errado no transporte do trabalhador. Tarcísio estava se referindo ao episódio envolvendo o secretário Municipal de Transportes, Júlio Lopes, que foi visto no início do ano passado sorrindo no local de descarrilamento de um trem da SuperVia. Na sua proposta, Tarcísio diz que vai implantar a tarifa zero, através do controle do lucro das empreiteiras, expandir os serviços das barcas e rever a atuação da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários Ferroviários e Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp) e do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro), que deveriam atuar conjuntamente em prol das tarifas mais baixas. "Transporte é direito do cidadão e não mercadoria, como esse governo pensa e só visa o lucro", considerou. 
Marcelo Crivella destacou que os custos dos transportes no estado são altos em função das terceirizações com as empreiteiras - 'que mantém seus contratos com a ajuda da mulher do governador', alertou o candidato, pedindo maior atenção dos advogados da OAB-RJ para o caso. 
Orçamento do Estado
Os gastos com propagandas pelo atual governo foi um dos assuntos mais polêmicos do debate. Crivella enfatizou que o governo Cabral/Pezão já gastou milhões com publicidade, enquanto a saúde necessita de recursos urgentes. O candidato descreveu as condições dos hospitais públicos, apresentando um cenário deprimente do setor, com centenas de pessoas aguardando por cirurgias e crianças que não conseguem atendimento. Enquanto isso, Crivella ressalta que as altas verbas são destinadas para a terceirização, caindo nas mãos de laranjas.
Anthony Garotinho foi mais específico na sua colocação e disse que o governo do estado gastou cerca de R$ 2 bilhões com propagandas, a maior parte através de contratos com a Rede Globo. Segundo o candidato, o desvio de dinheiro também acontece para a Fundação Bio-RioPolo de Biotecnologia do Rio de Janeiro, convidando os jornalistas para investigar as finanças da entidade. 
Na defensiva, Pezão alegou que o seu partido assumiu o governo com um deficit de cerca de R$ 2 bilhões, que em uma conjuntura de crise na economia mundial e os problemas com a Petrobras, resultou em uma administração complexa. Segundo o governador, houve um esforço enorme da sua equipe para recuperar a economia do estado, que deve decolar em breve com os investimentos de empresas públicas e privadas. Pezão considera que seu dever de casa foi feito e recursos foram destinados nos mais diversos setores. 
Na contrapartida, Lindberg Farias garantiu que o estado quebrado, com um déficit de R$ 5,5 bilhões. O candidato do PT ressaltou que o Tesouro Nacional deu uma das notas mais baixas para o Rio. "Tem que mudar esse governo que tem os seus contratos indicados por parlamentares", disse.
Acusações
Respondendo a resposta de uma jornalista da Veja, sobre a polêmica levantada pelo veículo sobre o apoio de Álvaro Lins, ex-chefe de Polícia do Rio que chegou a ser preso, em favor de Garotinho, o candidato do PR garantiu que o grupo de policiais afastados por envolvimento em escândalos, incluindo Dias, não retornaram à ativa se ele for eleito. Garotinho atribuiu as gravações polêmicas divulgadas em favor da sua campanha como "mais uma das sujeiras do PMDB, juntamente com as organizações Globo". 
Segundo ele, reportagens enfocando que o seu governo representaria o fim das UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) é um exemplo de desonestidade dos seus adversários, assim como foi "plantada" outras matérias contra Lindberg Farias e Marcelo Crivella. Garotinho acusou o PMDB de disputar as eleições usando de ilegalidades, confundindo ainda a política pública com a política paternalista. "Ladrão eu não sou não. Mas tem gente aqui nesta mesa que é", afirmou.
Logo em seguida, Marcelo Crivella concordou com as colocações do adversário do PR e também se disse vítima de corrupção eleitoral. Segundo Crivella, a sua equipe chegou a identificar uma empresa localizada em Botafogo, contratada para ações ilegais com finalidade de prejudicar candidatos, mas não conseguiu chegar aos contratantes, pois os contratos foram firmados no Espírito Santo.
Outro momento quente do debate aconteceu com a acusação de Pezão, dirigida à Lindberg Farias, pelo sucateamento da prefeitura de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, administrada pelo candidato do PT entre os anos 2005 e 2010. Lindberg afirmou que recebeu do seu antecessor, Nelson Bornier (PMDB) uma dívida de R$ 500 milhões em contribuição sindical. 
Lindberg Farias disse ainda que Garotinho e Pezão fazem parte de um mesmo grupo, que está no poder há mais de 16 anos. Ele ressaltou que os nomes que estão apoiando Pezão na campanha deste ano são os mesmo que sempre prestaram apoio ao governo Cabral. "O governo está loteado e não tem jeito para isso", considerou o candidato, citando os contratos com o Grupo Facility, que tem ligação com a mulher do ex-governador Cabral e ainda criticando a indicação do deputado Eduardo Cunha.

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