Beleza é fundamental!
Quando Vinícius de Moraes escreveu “as
muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, ele provavelmente
não esperava que as feministas, um dia qualquer, fossem encontrar
sentido nessa frase, quando isolada do restante do poema “Receita de
Mulher” e da simbologia que mistura cultura sexista, anatomia e
gastronomia em uma só descrição. Vamos fazer de conta que essa análise
literal não tenha avançado além das duas primeiras linhas da poesia de
Vinícius para, aí sim, concordar com ele que, sob outro prisma, a beleza
é mesmo fundamental. A beleza do amor, do respeito fraterno pela vida e
pelo ser humano, da luta em favor das causas sociais e da defesa
intransigente das instituições democráticas, bem como das liberdades
individuais.
Em diversos momentos da história das
civilizações, a criatividade, inteligência e o senso crítico foram
sufocados pelo medo de que essas qualidades comprometessem as estruturas
de poder vigentes e abalassem o “establishment”. Sendo as mulheres o
elo mais frágil da nossa cultura arcaica e patriarcal – em franco
processo de mudança, após o advento da eleição da primeira mulher
presidenta da República, Dilma Rousseff, e já não era sem tempo -, a
coragem, resistência, garra, perseverança e determinação para lutar por
seus direitos são indicadores, sem qualquer sombra de dúvida, da beleza
feminina.
Mulher bonita é a que luta e, como escreveu Vinícius, sim, “beleza é fundamental”.
.
“Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem da estrela um Sol. Outros nem conseguem vê-la.”
(Helena Kolody)
Para sonhar com o futuro ou até para inventá-lo seria essencial ter construído alguma coisa no passado
Nestes tempos em que vivemos, cada dia mais as mulheres se esquecem da lógica ou da precaução diante das promessas de rejuvenescimento e de beleza. Todas queremos ficar mais bonitas, mais jovens ou mais magras. E são desejos legítimos. A questão é como fazer isso ou quando tomar uma decisão, cirúrgica ou não, sem correr o risco de ficar com cara de aquário ou de virar um susto permanente. Ou correr risco de vida por conta de uma gordurinha aqui ou ali ou pelo desejo alucinado para ter mais coxa, ou mais bunda, ou mais peito, ou menos rugas. Nada contra uma plástica ou um procedimento bem feito, com um profissional competente e cuidados necessários. Tudo a favor da felicidade, da recuperação da autoestima ou da alegria de viver.
Fico pensando nas mulheres muito bonitas. Como deve ser especialmente difícil envelhecer tendo sido tão linda. Quanto uma Elizabeth Taylor, Audrey Hepburn, Tônia Carrero ou Vera Fischer. E como deve ser tentadora a possibilidade de recuperar a beleza da juventude, diante de todos os recursos modernos. E como deve ser necessário ser firme para não ceder aos exageros. Tudo isso me vem à cabeça porque estou lendo o livro que a bela Sofia Loren escreveu para contar sua vida (‘Ontem, Hoje e Amanhã’, da editora Best Seller) e me deliciando com suas histórias e belas fotos.
oje, Sofia é uma linda mulher de 80 anos, avó de quatro crianças que, como todas as avós, quer agradar os netos com mesa farta, vivendo um outro momento de beleza. É muito lindo e lúcido o que ela diz, analisando sua própria vida . Escreve Sofia:“Cada fase da vida traz consigo caprichos e armadilhas. Aos 30 anos somos jovens e inseguros. Aos 40, fortes, mas um tanto cansados, aos 50 vem a sabedoria e talvez um pouco de melancolia. Mas quando chegamos ao limiar dos 80, somos tomados pelo desejo de recomeçar tudo outra vez, renascemos nas recordações e nos apaixonamos pelo futuro”. Talvez valha a pena acrescentar que para sonhar com o futuro ou até para inventá-lo seria essencial ter construído alguma coisa no passado além de se preocupar só com a beleza, mesmo concordando com o poeta e acreditando que beleza é fundamental
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