12.12.2014

Queda nas ações da Petrobras ajuda a tirar pequeno investidor da Bolsa


Especialistas se dividem em relação ao que fazer com ações da estatal.
Preço das ações da empresa caiu abaixo de R$ 12, o menor desde 2005.

Marta Cavallini Do G1, em São Paulo
Evolução do valor das ações da Petrobras (Foto: Editoria de Arte/G1)
Abalada pelos escândalos de corrupção, a Petrobras perdeu seu posto entre as empresas favoritas dos investidores – e tem ajudado a tirar o pequeno investidor da bolsa de valores. A estatal, que por muito tempo foi a maior empresa do país, tem visto o valor de suas ações “derreter”, afetado também pelo aumento da dívida da empresa e pela queda no preço do petróleo.
As ações da petroleira atingiram esta semana seu menor valor em nove anos: na terça-feira, as preferenciais (mais negociadas) fecharam a R$ 11,36, o menor preço desde 19 de agosto de 2005. Ao mesmo tempo, a participação dos pequenos investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a 14% do total – a menor em 16 anos, superando apenas os 12,3% registrados em 1998.
Mas nesse momento delicado para a empresa, é uma boa hora para investir ou vender as ações da estatal? O G1 ouviu especialistas sobre o assunto – e não há unanimidade.
O que fazer?
Para Felipe Miranda, analista da Empiricus Research, a tendência é que o valor das ações da Petrobras caia ainda mais, e que a empresa emita mais ações para cobrir o “rombo”: “o petróleo cai, cria ambiente de estrangulamento financeiro, e isso implica mais queda”, diz.

Para ele, não é uma boa comprar ações da estatal, mas sim de vender, e o quanto antes, melhor. “Tem o escândalo, a queda do petróleo e a questão da dívida, tudo leva para queda. Tem que vender porque está valendo cerca de R$ 12, o preço que deveria estar é R$ 10, então pode chegar a R$ 10, tudo converge para o seu valor teórico”, explica.
Já a planejadora financeira Myrian Lund aconselha esperar as decisões da nova equipe econômica antes de tomar qualquer decisão em relação à compra ou venda de ações da Petrobras. A consultora diz que a estatal perdeu credibilidade entre os investidores por ingerências governamentais, e só vai voltar ao normal quando o mercado sentir confiança.
“Os escândalos influenciam no sentido de que podem ser questionadas por investidores, como já está ocorrendo com investidores americanos, que estão questionando judicialmente a quebra das regras de uma empresa aberta, negociada em Bolsa, como transparência, disponibilização de informações relevantes, entre outras. Enquanto fatos como esses estiverem acontecendo, a empresa vai permanecer na geladeira”, diz.
Miranda, da Empiricus, afirma que a divulgação do balanço da empresa (prevista para esta sexta-feira) pode representar um alívio para a companhia, mas será a curto prazo, porque tirará o foco dos escândalos e do preço do petróleo. Mas depois a turbulência acabará voltando: “enquanto houver a questão dos escândalos, a Petrobras só tem a perder”.
O analista recomenda considerar outras alternativas na própria Bolsa ou outros investimentos. Ele lembra que os juros de 11,75% ao ano são muito atraentes para fundos de renda fixa, atrelados à taxa Selic, como CDBs pós-fixados, fundos DI, Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e títulos públicos negociados via Tesouro Direto. “Até o dólar tem clara tendência de apreciação”, afirma.
FGTS
Miranda acha que quem usou o dinheiro do FGTS para comprar as ações da Petrobras deve pegar o dinheiro de volta. “Tem que olhar para a frente, já perdeu 30% do FGTS, estar com o FGTS é a melhor forma de recuperar? Ou é melhor comprar ações de outras empresas? Tem que pensar onde alocar o dinheiro”.

Já Myrian diz que voltar o dinheiro investido para o FGTS é perda, pois rende abaixo da inflação (o rendimento do FGTS é de 3% ao ano mais TR. O resgate do FGTS só é permitido, por exemplo, na aposentadoria, compra de imóvel ou demissão sem justa causa).
“Na Bolsa, há sempre uma esperança de que a empresa possa reverter toda a expectativa negativa e voltar a ser procurada por investidores institucionais. Neste caso, é melhor esperar, pois a empresa não vai acabar. O investimento só é perdido se a empresa falir”.
Pequenos investidores na Bovespa (Foto: Editoria de Arte/G1)
Saída de pessoas físicas da Bovespa
Myrian Lund diz que a principal razão para a queda no número de pequenos investidores na Bovespa é porque eles querem resultados rápidos e, neste momento, o mercado não está dando oportunidades de ganhos.

“Esses investidores estão concentrados em papéis de empresas com maior liquidez, como Petrobras e Vale, que registram perdas por conta do mercado internacional, onde os preços do petróleo e minério estão em queda. No caso da Petrobras, as perspectivas de bons resultados também ficam comprometidas com as investigações sobre a corrupção na empresa”, explica.
Em 28 de novembro, eram 558.825 pequenos investidores na Bovespa, sendo 421.491 homens (75,42%) e 137.334 mulheres (24,58%). São Paulo tinha 241.941 desses investidores, ou 49,57% do total, e o Rio de Janeiro tinha 94.973, ou 21,34%. A maior parte dos pequenos investidores estava concentrada na faixa etária entre 26 e 55 anos: 356.193. No entanto, a faixa etária dos que têm mais de 66 anos concentravam a maior fatia do dinheiro investido: 44,17%, seguida da faixa entre 56 e 65 anos, com 21,48% dos valores da Bolsa.
Segundo Miranda, a Petrobras tem papel relevante na saída dos pequenos investidores da Bolsa, mas há outros fatores que pesam, como a própria Bolsa caindo, o fraco desempenho da economia, o que faz com que os investidores vendam as ações para cumprir outras obrigações, pois não têm renda nova para investir em papéis. “Muitas pessoas físicas também saíram com a desvalorização das empresas do Eike Batista. Nesse caso, as pessoas não voltam. Não adianta falar que foi um caso específico, elas ficam ressabiadas”.
De acordo com Amerson Magalhães, diretor da Easynvest, as ações da Vale e Petrobras respondem por 30% do volume negociado na Bovespa, mas não foram apenas as duas empresas que contribuíram para a fuga das pessoas físicas. “Existe um contexto que não favorece as ações. O investidor tem o hábito de olhar pelo retrovisor, e quando olha para trás, a retrospectiva não é muito boa. A Bolsa vem oscilando sempre abaixo dos 70 mil pontos desde 2010, e isso não desperta muito o interesse. E se não há uma expectativa de valorização da empresa, ela deixa de fazer parte do portfólio dos investidores”, diz.
Magalhães diz que a valorização dos imóveis e a taxa de juros alta também retiraram o investidor da Bolsa. “As pessoas sempre buscam o que rende mais”.
Para Miranda, o brasileiro não tem cultura de investimento em ações e a educação financeira é muito baixa. Já na opinião de Myrian, os pequenos investidores não têm capital, pois normalmente usam o dinheiro de reserva financeira. Além disso, o comportamento do consumidor revela a aversão a perdas. Myrian considera que para os investidores pequenos voltarem à Bolsa, é preciso que entendam mais sobre mercado de ações e que seja resgatada a confiança no país.
“O pequeno investidor não está preparado para investir em ações. Com a Bolsa em alta as pessoas investem mais, sem levar em conta a capacidade de absorver perdas, mas o investidor tem que olhar como instrumento de investimento de longo prazo, analisar a empresa na qual está investindo, se tem boa governança, se paga seus dividendos. E não entrar porque vai comprar agora que está barato e vender depois que está caro”, diz Magalhães.

É novato em ações? Veja dicas de Myrian Lund para investir na Bolsa:
- Faça um curso para entender o que é o mercado de ações, numa instituição independente, de ensino ou na Bolsa de Valores.

- O pequeno investidor precisa entender que investimento em ações é de longo prazo.

- Defina seu objetivo ao comprar a ação, o que você espera dela e venda quando chegar ao seu objetivo.

- É preciso pesquisar sobre as empresas. Ao comprar ações você está entrando de sócio. Não é recomendável entrar de sócio sem conhecer a estrutura da empresa, suas características, seus mercados, seu potencial e seus riscos.

- Nunca compre uma única ação: é necessário diversificar  em setores diferentes.

- Se o motivo que levou você a comprar a ação está ameaçado, cuidado, pois, normalmente, é momento de pular fora e buscar uma nova ação.

- Não tenha medo de vender a ação mesmo que ainda não tenha dado lucro. É melhor sair com um prejuízo pequeno do que ficar aguardando indefinidamente uma solução positiva.

- Se a solução da empresa para a ameaça foi favorável, volte novamente.

- É necessário ter contato com a corretora e receber informações. A melhor corretora é a que dá mais subsídio para as decisões.

- Taxas de corretagem (cobrada por operação) e taxa de custódia (guarda dos títulos) variam bastante de acordo com a corretora. Mas não adianta ter baixas taxas e não ter acesso a relatórios.

- Para pequenos valores, se ficar comprando e vendendo, é melhor quem cobra menos de taxa de corretagem.

- Cada corretora define o valor mínimo para aceitar o cliente. Algumas abrem a conta sem pedir valor mínimo e outras podem pedir um valor para abrir a conta.

- A compra e venda de ações pode ser qualquer valor, independente da corretora.

- Não há necessidade de tempo mínimo de investimento. Pode comprar e vender no mesmo dia.

- Não é aconselhável investir o capital de uma só vez, e sim de forma gradual, conforme o comportamento do mercado.

- É mais fácil comprar do que vender. Não existe o momento certo de vender. Os grandes investidores começam a vender o papel enquanto está subindo porque ninguém sabe exatamente o momento em que a empresa vai chegar no seu máximo.

- Se você comprou uma ação que do ponto de vista das projeções de resultado indica que está barata e que pode subir pelo menos 20%, quando chegar a esse patamar, vende, comemora o resultado e busque outra ação. Não pode ter “dor de cotovelo” porque a ação continuou a subir.

- É aconselhável para ter dinheiro no longo prazo comprar mensalmente ações, ou mensalmente um ETF (fundo de índice de ações negociado em Bolsa). O ETF é uma boa opção para quem quer entrar na Bolsa e não sabe o que comprar porque se trata de uma carteira de ações que vai valorizar próximo ao índice de referência.

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