Porto Maravilha
por Selma Schmidt
RIO — Com o fim definitivo da Perimetral, é a hora de a frente
marítima da Praça Quinze e da Região Portuária aparecer. Ao concluir
nesta quarta-feira a retirada dos dois últimos pilares, na altura do 1º
Distrito Naval, a concessionária Porto Novo deu por encerrado o processo
de derrubada dos 4.750 metros do elevado, liberando totalmente a visão
de um pedaço do Rio que estava oculto desde a década de 1960. Prédios
históricos e belos já podem ser apreciados, não importa se o admirador
está na Baía de Guanabara ou em terra firme. Agora, o trabalho de
mudança de paisagem se concentra na construção de um passeio público,
com três quilômetros de áreas verdes e de lazer, da Praça Quinze ao
Armazém Oito.
O futuro boulevard dará, inclusive, acesso a espaços pouco conhecidos. É o caso, por exemplo, do charmoso calçadão que será implantado em frente ao 1º Distrito Naval. E, para que pedestres e ciclistas não precisem interromper a caminhada, será criada uma passarela sob a ponte que leva até a Ilha das Cobras — de acesso restrito da Marinha. Em formato de bumerangue, a estrutura terá cerca de 90 metros de extensão.
— Os transtornos têm sido grandes. Sem a Perimetral e com tantas obras, tenho enfrentado engarrafamento quase todos os dias. Mas, quando se vê essa nova paisagem e se pensa no futuro, entendo que vale a pena ter paciência por um tempo — avalia o contador Nilson Pereira, morador de Niterói, que trabalha no Rio.
Para
a vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), Cêça
Guimaraens, o fim definitivo da Perimetral traz benefícios à região,
principalmente nas áreas arquitetônica e urbanística.
— A derrubada do elevado devolve a imagem da orla da Baía de Guanabara a moradores e frequentadores do local. A Perimetral impedia a visão da baía, o que era lamentável. Ela segregava a faixa da orla, separando a cidade construída da água — diz ela, que faz parte do conselho consultivo do patrimônio cultural do Iphan.
Cêça enfatiza a importância do mar para o Rio:
— Na dimensão urbanística, o fim do elevado é de um valor ímpar, pois dá continuidade do uso da orla, desde o Aterro do Flamengo, passando pela Praça Quinze e pela Praça Mauá até chegar à Avenida Francisco Bicalho. Em termos de arquitetura, vamos usufruir muito mais da visão da Candelária, por exemplo, sem falar nas edificações pré-modernistas e ecléticas localizadas na Zona Portuária.
Nas contas da Porto Novo, foram abaixo 85 mil toneladas de estrutura em concreto armado, sendo 4.420 de aço. As 820 vigas e os 135 pilares do elevado, portanto, passaram a fazer parte do passado.
— Como os dois últimos pilares estavam muito próximos à Baía de Guanabara e a um pórtico da Marinha, que é preservado, tivemos que usar um método especial para cortar o concreto. Em vez de um rompedor hidráulico, utilizamos fio diamantado. Isso para que não houvesse queda de fragmentos — explica José Renato Ponte, presidente da Porto Novo, responsável pelas obras de revitalização da Região Portuária. — O trabalho também foi feito fora do expediente, à noite e de madrugada, para não atrapalhar o funcionamento da Marinha.
OBRAS DO PASSEIO VÃO COMEÇAR NA PRAÇA QUINZE
Para José Renato, a demolição da Perimetral foi dos maiores desafios das obras do Porto Maravilha. Mais de 500 funcionários participaram da operação, que envolveu duas grandes implosões, a primeira delas — o trecho que ia da Avenida Pereira Reis à Rua Silvino Montenegro — há pouco mais de um ano. A segunda implosão ocorreu em abril deste ano, no trecho entre os prédios da Polícia Federal e do 1º Distrito Naval. O processo, no entanto, começou em outubro de 2012, com a remoção da primeira rampa do elevado, na altura da Avenida Barão de Tefé.
Alberto Gomes, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), gestora da prefeitura na Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha, também fala em desafios:
— A conclusão da remoção da Perimetral marca o fim de uma fase cujo desafio foi muito mais a quebra de paradigma do desenvolvimento urbano da cidade do que de engenharia. Agora, durante a remoção, já iniciamos a segunda etapa da operação, que é refazer a infraestrutura e a urbanização de toda essa frente marítima da cidade. O processo muda em definitivo o padrão de mobilidade urbana do Centro.
Em relação a dois vãos do elevado junto à Rodoviária Novo Rio, o presidente da concessionária Porto Novo diz que eles não fazem parte do projeto inicial do Porto Maravilha:
— Estão sendo feitos estudos que vão dizer se eles permanecem ou não. Eles só serão retirados se for constatado que será melhor para o trânsito.
Já as obras de reurbanização estão em andamento no trecho do boulevard em frente ao futuro Museu do Amanhã, na Praça Mauá. E, em breve, começarão na área junto ao Museu Histórico Nacional, na Praça Quinze, diz o presidente da Porto Novo.
José Renato confirmou que as obras do Porto Maravilha estarão prontas a tempo das Olimpíadas. A Via Binário — que ligará a Região Portuária ao Centro — deverá estar totalmente concluída no fim deste ano. Paralela à Via Binário e no lugar da Perimetral, a Via Expressa, que vai ligar o Aterro à Rodoviária Novo Rio, ficará para 2016.
*Colaborou Rodrigo Bertolucci.
A paisagem da Praça Quinze, com o restaurante Albamar (à esquerda) e um conjunto de prédios antigos e modernos, se sobressai na frente marítima que está sendo revitalizada a partir da remoção do elevado - Antonio Scorza / Agência O Globo
Livre da Perimetral, o entorno da Casa França-Brasil (ao centro) começa a se transformar - Felipe Hanower / Agência O Globo
por Selma Schmidt
O futuro boulevard dará, inclusive, acesso a espaços pouco conhecidos. É o caso, por exemplo, do charmoso calçadão que será implantado em frente ao 1º Distrito Naval. E, para que pedestres e ciclistas não precisem interromper a caminhada, será criada uma passarela sob a ponte que leva até a Ilha das Cobras — de acesso restrito da Marinha. Em formato de bumerangue, a estrutura terá cerca de 90 metros de extensão.
— Os transtornos têm sido grandes. Sem a Perimetral e com tantas obras, tenho enfrentado engarrafamento quase todos os dias. Mas, quando se vê essa nova paisagem e se pensa no futuro, entendo que vale a pena ter paciência por um tempo — avalia o contador Nilson Pereira, morador de Niterói, que trabalha no Rio.
— A derrubada do elevado devolve a imagem da orla da Baía de Guanabara a moradores e frequentadores do local. A Perimetral impedia a visão da baía, o que era lamentável. Ela segregava a faixa da orla, separando a cidade construída da água — diz ela, que faz parte do conselho consultivo do patrimônio cultural do Iphan.
Cêça enfatiza a importância do mar para o Rio:
— Na dimensão urbanística, o fim do elevado é de um valor ímpar, pois dá continuidade do uso da orla, desde o Aterro do Flamengo, passando pela Praça Quinze e pela Praça Mauá até chegar à Avenida Francisco Bicalho. Em termos de arquitetura, vamos usufruir muito mais da visão da Candelária, por exemplo, sem falar nas edificações pré-modernistas e ecléticas localizadas na Zona Portuária.
Nas contas da Porto Novo, foram abaixo 85 mil toneladas de estrutura em concreto armado, sendo 4.420 de aço. As 820 vigas e os 135 pilares do elevado, portanto, passaram a fazer parte do passado.
— Como os dois últimos pilares estavam muito próximos à Baía de Guanabara e a um pórtico da Marinha, que é preservado, tivemos que usar um método especial para cortar o concreto. Em vez de um rompedor hidráulico, utilizamos fio diamantado. Isso para que não houvesse queda de fragmentos — explica José Renato Ponte, presidente da Porto Novo, responsável pelas obras de revitalização da Região Portuária. — O trabalho também foi feito fora do expediente, à noite e de madrugada, para não atrapalhar o funcionamento da Marinha.
OBRAS DO PASSEIO VÃO COMEÇAR NA PRAÇA QUINZE
Para José Renato, a demolição da Perimetral foi dos maiores desafios das obras do Porto Maravilha. Mais de 500 funcionários participaram da operação, que envolveu duas grandes implosões, a primeira delas — o trecho que ia da Avenida Pereira Reis à Rua Silvino Montenegro — há pouco mais de um ano. A segunda implosão ocorreu em abril deste ano, no trecho entre os prédios da Polícia Federal e do 1º Distrito Naval. O processo, no entanto, começou em outubro de 2012, com a remoção da primeira rampa do elevado, na altura da Avenida Barão de Tefé.
Alberto Gomes, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), gestora da prefeitura na Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha, também fala em desafios:
— A conclusão da remoção da Perimetral marca o fim de uma fase cujo desafio foi muito mais a quebra de paradigma do desenvolvimento urbano da cidade do que de engenharia. Agora, durante a remoção, já iniciamos a segunda etapa da operação, que é refazer a infraestrutura e a urbanização de toda essa frente marítima da cidade. O processo muda em definitivo o padrão de mobilidade urbana do Centro.
Em relação a dois vãos do elevado junto à Rodoviária Novo Rio, o presidente da concessionária Porto Novo diz que eles não fazem parte do projeto inicial do Porto Maravilha:
— Estão sendo feitos estudos que vão dizer se eles permanecem ou não. Eles só serão retirados se for constatado que será melhor para o trânsito.
Já as obras de reurbanização estão em andamento no trecho do boulevard em frente ao futuro Museu do Amanhã, na Praça Mauá. E, em breve, começarão na área junto ao Museu Histórico Nacional, na Praça Quinze, diz o presidente da Porto Novo.
José Renato confirmou que as obras do Porto Maravilha estarão prontas a tempo das Olimpíadas. A Via Binário — que ligará a Região Portuária ao Centro — deverá estar totalmente concluída no fim deste ano. Paralela à Via Binário e no lugar da Perimetral, a Via Expressa, que vai ligar o Aterro à Rodoviária Novo Rio, ficará para 2016.
*Colaborou Rodrigo Bertolucci.
A paisagem da Praça Quinze, com o restaurante Albamar (à esquerda) e um conjunto de prédios antigos e modernos, se sobressai na frente marítima que está sendo revitalizada a partir da remoção do elevado - Antonio Scorza / Agência O Globo
Livre da Perimetral, o entorno da Casa França-Brasil (ao centro) começa a se transformar - Felipe Hanower / Agência O Globo
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