Concessionária retira os últimos dois pilares do Elevado da Perimetral e obras avançam Prédios históricos e belos já podem ser apreciados. Trabalho agora se concentra na construção de um passeio público
Porto Maravilha
por Selma Schmidt
A paisagem da Praça Quinze, com o restaurante Albamar (à esquerda) e um
conjunto de prédios antigos e modernos, se sobressai na frente marítima
que está sendo revitalizada a partir da remoção do elevado
- Antonio Scorza / Agência O Globo
RIO — Com o fim definitivo da Perimetral, é a hora de a frente
marítima da Praça Quinze e da Região Portuária aparecer. Ao concluir
nesta quarta-feira a retirada dos dois últimos pilares, na altura do 1º
Distrito Naval, a concessionária Porto Novo deu por encerrado o processo
de derrubada dos 4.750 metros do elevado, liberando totalmente a visão
de um pedaço do Rio que estava oculto desde a década de 1960. Prédios
históricos e belos já podem ser apreciados, não importa se o admirador
está na Baía de Guanabara ou em terra firme. Agora, o trabalho de
mudança de paisagem se concentra na construção de um passeio público,
com três quilômetros de áreas verdes e de lazer, da Praça Quinze ao
Armazém Oito.
O futuro boulevard dará, inclusive, acesso a espaços pouco
conhecidos. É o caso, por exemplo, do charmoso calçadão que será
implantado em frente ao 1º Distrito Naval. E, para que pedestres e
ciclistas não precisem interromper a caminhada, será criada uma
passarela sob a ponte que leva até a Ilha das Cobras — de acesso
restrito da Marinha. Em formato de bumerangue, a estrutura terá cerca de
90 metros de extensão.
— Os transtornos têm sido grandes. Sem a Perimetral e com tantas
obras, tenho enfrentado engarrafamento quase todos os dias. Mas, quando
se vê essa nova paisagem e se pensa no futuro, entendo que vale a pena
ter paciência por um tempo — avalia o contador Nilson Pereira, morador
de Niterói, que trabalha no Rio.
Livre da Perimetral, o entorno da Casa França-Brasil (ao centro) começa a se transformar - Felipe Hanower / Agência O Globo
Para
a vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), Cêça
Guimaraens, o fim definitivo da Perimetral traz benefícios à região,
principalmente nas áreas arquitetônica e urbanística.
— A derrubada do elevado devolve a imagem da orla da Baía de
Guanabara a moradores e frequentadores do local. A Perimetral impedia a
visão da baía, o que era lamentável. Ela segregava a faixa da orla,
separando a cidade construída da água — diz ela, que faz parte do
conselho consultivo do patrimônio cultural do Iphan.
Cêça enfatiza a importância do mar para o Rio:
— Na dimensão urbanística, o fim do elevado é de um valor ímpar, pois
dá continuidade do uso da orla, desde o Aterro do Flamengo, passando
pela Praça Quinze e pela Praça Mauá até chegar à Avenida Francisco
Bicalho. Em termos de arquitetura, vamos usufruir muito mais da visão da
Candelária, por exemplo, sem falar nas edificações pré-modernistas e
ecléticas localizadas na Zona Portuária.
Nas contas da Porto Novo, foram abaixo 85 mil toneladas de estrutura
em concreto armado, sendo 4.420 de aço. As 820 vigas e os 135 pilares do
elevado, portanto, passaram a fazer parte do passado.
— Como os dois últimos pilares estavam muito próximos à Baía de
Guanabara e a um pórtico da Marinha, que é preservado, tivemos que usar
um método especial para cortar o concreto. Em vez de um rompedor
hidráulico, utilizamos fio diamantado. Isso para que não houvesse queda
de fragmentos — explica José Renato Ponte, presidente da Porto Novo,
responsável pelas obras de revitalização da Região Portuária. — O
trabalho também foi feito fora do expediente, à noite e de madrugada,
para não atrapalhar o funcionamento da Marinha. OBRAS DO PASSEIO VÃO COMEÇAR NA PRAÇA QUINZE
Para
José Renato, a demolição da Perimetral foi dos maiores desafios das
obras do Porto Maravilha. Mais de 500 funcionários participaram da
operação, que envolveu duas grandes implosões, a primeira delas — o
trecho que ia da Avenida Pereira Reis à Rua Silvino Montenegro — há
pouco mais de um ano. A segunda implosão ocorreu em abril deste ano, no
trecho entre os prédios da Polícia Federal e do 1º Distrito Naval. O
processo, no entanto, começou em outubro de 2012, com a remoção da
primeira rampa do elevado, na altura da Avenida Barão de Tefé.
Alberto Gomes, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da
Região do Porto do Rio (Cdurp), gestora da prefeitura na Operação Urbana
Consorciada Porto Maravilha, também fala em desafios:
— A conclusão da remoção da Perimetral marca o fim de uma fase cujo
desafio foi muito mais a quebra de paradigma do desenvolvimento urbano
da cidade do que de engenharia. Agora, durante a remoção, já iniciamos a
segunda etapa da operação, que é refazer a infraestrutura e a
urbanização de toda essa frente marítima da cidade. O processo muda em
definitivo o padrão de mobilidade urbana do Centro.
Em relação a dois vãos do elevado junto à Rodoviária Novo Rio, o
presidente da concessionária Porto Novo diz que eles não fazem parte do
projeto inicial do Porto Maravilha:
— Estão sendo feitos estudos que vão dizer se eles permanecem ou não.
Eles só serão retirados se for constatado que será melhor para o
trânsito.
Já as obras de reurbanização estão em andamento no trecho do
boulevard em frente ao futuro Museu do Amanhã, na Praça Mauá. E, em
breve, começarão na área junto ao Museu Histórico Nacional, na Praça
Quinze, diz o presidente da Porto Novo.
José Renato confirmou que as obras do Porto Maravilha estarão prontas
a tempo das Olimpíadas. A Via Binário — que ligará a Região Portuária
ao Centro — deverá estar totalmente concluída no fim deste ano. Paralela
à Via Binário e no lugar da Perimetral, a Via Expressa, que vai ligar o
Aterro à Rodoviária Novo Rio, ficará para 2016. *Colaborou Rodrigo Bertolucci.
A paisagem da Praça Quinze, com o restaurante Albamar (à esquerda) e um
conjunto de prédios antigos e modernos, se sobressai na frente marítima
que está sendo revitalizada a partir da remoção do elevado - Antonio
Scorza / Agência O Globo
Livre da Perimetral, o entorno da Casa França-Brasil (ao centro) começa a se transformar - Felipe Hanower / Agência O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário