9.13.2010

Episódios depressivos

A depressão clínica é um quadro de saúde bastante comum encontrado na população. Os estudos indicam ser pouco provável que um único fator isolado seja o responsável por desencadear uma depressão, mas sim que ela seja resultado de um conjunto de diferentes fatores, que interagem entre si. Alterações biológicas, componentes da história de vida, características ambientais e psicológicas foram evidenciados como fatores importantes para compreender o início e a evolução da depressão.

A depressão clínica é diferente do declínio passageiro do humor vivenciado quando normalmente uma pessoa reage a uma perda. Uma pessoa sob efeito de depressão tende a considerar difícil realizar atividades normais, e pode perder o interesse até mesmo em prazeres rotineiros, tal como assistir um filme, sair com amigos para um restaurante, dentre outros.

Em geral, a depressão ocorre por um período limitado, e episódios não tratados tendem a se resolver em prazo de três a seis meses. Contudo, é freqüente a recaída, e aproximadamente 15-20% das pessoas evoluem para quadros crônicos de depressão. Sendo assim, o tratamento feito no início torna mais fácil o controle do quadro, pois pode acelerar a recuperação, a manter a melhora e prevenir recaídas. Essa abordagem tem incentivado tratamentos psicológicos com vistas a ensinar aos pacientes habilidades cognitivas (pensamento) e comportamentais para o enfrentamento da depressão.

Tem sido demonstrado que tratamentos psicológicos comportamentais e cognitivos-comportamentais são eficazes para combater a depressão clínica. Na prática, o tempo de tratamento pode variar consideravelmente, e isso depende da análise dos fatores que desencadearam a depressão, bem como dos fatores que participam no enfrentamento da mesma.

Depressões que evoluem provocando importantes incapacitações do funcionamento global do indivíduo geralmente necessitam de intervenção psiquiátrica, e o tratamento medicamentoso associado com a psicoterapia, nesses casos, pode favorecer bastante o progresso do paciente.

Enfim, depressão é um problema de saúde que possui tratamento. Há grandes chances de recuperação quando a pessoa aceita as suas dificuldades e deseja melhorar, partindo em busca de tratamento.


Fonte: http://www.centroclinicoperuibe.com.br/artigos/
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EPISÓDIO DEPRESSIVO MAIOR

Características do Episódio
A característica essencial de um Episódio Depressivo Maior é um período mínimo de 2 semanas, durante as quais há um humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ao invés de triste.

O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui: alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio.

A fim de contabilizar para um Episódio Depressivo Maior, a presença de um sintoma deve ser recente ou então ter claramente piorado, em comparação com o estado pré-episódico da pessoa. Os sintomas devem persistir na maior parte do dia, praticamente todos os dias, por pelo menos 2 semanas consecutivas.

O episódio deve ser acompanhado por sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo. Para alguns indivíduos com episódios mais leves, o funcionamento pode parecer normal, mas exige um esforço acentuadamente aumentado.

O humor em um Episódio Depressivo Maior freqüentemente é descrito pela pessoa como deprimido, triste, desesperançado, desencorajado ou "na fossa" (Critério A1). Em alguns casos, a tristeza pode ser inicialmente negada, mas subseqüentemente pode ser revelada pela entrevista (por ex., assinalando que o indivíduo parece prestes a chorar).

Em alguns indivíduos que se queixam de se sentirem indiferentes ou ansiosos, a presença de um humor deprimido pode ser inferida a partir da expressão facial e do modo de portar-se. Alguns indivíduos salientam queixas somáticas (por ex., dores ou mazelas corporais) ao invés de sentimentos de tristeza.

Muitos referem ou demonstram irritabilidade aumentada (por ex., raiva persistente, uma tendência para responder a eventos com ataques de ira ou culpando outros, ou um sentimento exagerado de frustração por questões menores).

Em crianças e adolescentes, pode desenvolver-se um humor irritável ou rabugento, ao invés de um humor triste ou abatido. Esta apresentação deve ser diferenciada de um padrão de "criança mimada", que se irrita quando é frustrada.

A perda de interesse ou prazer quase sempre está presente, pelo menos em algum grau. Os indivíduos podem relatar menor interesse por passatempos, "não se importar mais", ou a falta de prazer com qualquer atividade anteriormente considerada agradável (Critério A2).

Os membros da família freqüentemente percebem retraimento social ou negligência de atividades agradáveis (por ex., um indivíduo que anteriormente era um ávido golfista deixa de jogar, uma criança que gostava de futebol encontra desculpas para não praticá-lo). Em alguns indivíduos, há uma redução significativa nos níveis anteriores de interesse ou desejo sexual.

O apetite geralmente está reduzido, sendo que muitos indivíduos sentem que precisam se forçar a comer. Outros, particularmente aqueles encontrados em contextos ambulatoriais, podem ter diminuição do apetite ou demonstrar uma avidez por alimentos específicos (por ex., doces ou outros carboidratos). Quando as alterações no apetite são severas (em qualquer direção), pode haver uma perda ou ganho significativos de peso, ou, em crianças, pode-se notar um fracasso em fazer os ganhos de peso esperados. (Critério A3).

A perturbação do sono mais comumente associada com um Episódio Depressivo Maior é a insônia (Critério A4), tipicamente intermediária (isto é, despertar durante a noite, com dificuldade para voltar a dormir), ou terminal (isto é, despertar muito cedo, com incapacidade de conciliar o sono novamente).

A insônia inicial (isto é, dificuldade para adormecer) também pode ocorrer. Com menor freqüência, os indivíduos apresentam sonolência excessiva (hipersonia), na forma de episódios prolongados de sono noturno ou de sono durante o dia. Ocasionalmente, a razão pela qual o indivíduo busca tratamento pode ser a perturbação do sono.

As alterações psicomotoras incluem agitação (por ex., incapacidade de ficar sentado quieto, ficar andando sem parar, agitar as mãos, puxar ou esfregar a pele, roupas ou outros objetos) ou retardo psicomotor (por ex., discurso, pensamento ou movimentos corporais lentificados; maiores pausas antes de responder; fala diminuída em termos de volume, inflexão, quantidade ou variedade de conteúdos, ou mutismo) (Critério A5).

A agitação ou retardo psicomotor devem ser suficientemente severos para serem observáveis por outros, não representando meros sentimentos subjetivos.

Diminuição da energia, cansaço e fadiga são comuns (Critério A6). O indivíduo pode relatar fadiga persistente sem esforço físico, e mesmo as tarefas mais leves parecem exigir um esforço substancial. Pode haver diminuição na eficiência para realizar tarefas.

O indivíduo pode queixar-se, por exemplo, de que se lavar e se vestir pela manhã é algo exaustivo e pode levar o dobro do tempo habitual.

O sentimento de desvalia ou culpa associado com um Episódio Depressivo Maior pode incluir avaliações negativas e irrealistas do próprio valor, preocupações cheias de culpa ou ruminações acerca de pequenos fracassos do passado (Critério 7). Esses indivíduos freqüentemente interpretam mal eventos triviais ou neutros do cotidiano como evidências de defeitos pessoais e têm um senso exagerado de responsabilidade pelas adversidades.

Um corretor imobiliário, por exemplo, pode culpar-se pelo seu fracasso em fazer vendas, mesmo quando há um colapso geral no mercado e os outros corretores também não conseguem vender. O sentimento de desvalia ou culpa pode assumir proporções delirantes (por ex., convicção de ser pessoalmente responsável pela pobreza que há no mundo).

A auto-recriminação por estar doente e por não conseguir cumprir com as responsabilidades profissionais ou interpessoais em conseqüência da depressão é muito comum e, a menos que seja delirante, não é considerada suficiente para satisfazer a este critério.

Muitos indivíduos relatam prejuízo na capacidade de pensar, concentrar-se ou tomar decisões (Critério A8). Essas pessoas podem mostrar-se facilmente distraídas ou queixar-se de dificuldades de memória.

Os indivíduos com atividades acadêmicas ou profissionais intelectualmente exigentes com freqüência são incapazes de funcionar adequadamente, mesmo quando têm problemas leves de concentração (por ex., um programador de computadores não consegue mais realizar as tarefas complicadas que anteriormente realizava com perfeição).

Em crianças, uma queda abrupta no rendimento escolar pode refletir uma fraca concentração. Em indivíduos idosos com um Episódio Depressivo Maior, as dificuldades de memória podem ser a queixa principal e ser confundidas com os sinais iniciais de uma demência ("pseudodemência").

Quando o Episódio Depressivo Maior é tratado com sucesso, os problemas de memória freqüentemente apresentam recuperação completa. Em alguns indivíduos, entretanto, particularmente pessoas idosas, um Episódio Depressivo Maior pode às vezes ser a apresentação inicial de uma demência irreversível.

Freqüentemente, pode haver pensamentos sobre morte, ideação suicida ou tentativas de suicídio (Critério A9). Esses pensamentos variam desde uma crença de que seria melhor estar morto, até pensamentos transitórios porém recorrentes sobre cometer suicídio ou planos específicos para se matar. A freqüência, intensidade e letalidade desses pensamentos podem ser bastante variáveis.

Os indivíduos menos severamente suicidas podem relatar pensamentos transitórios (de 1 a 2 minutos) e recorrentes (uma ou duas vezes por semana). As pessoas mais severamente suicidas podem ter adquirido materiais (por ex., corda ou arma de fogo) para serem usados na tentativa de suicídio e podem ter estabelecido um local e momento em que estarão isolados dos outros, de modo a poderem completar o suicídio.

Embora esses comportamentos estejam associados estatisticamente com tentativas de suicídio e possam ser úteis para a identificação de um grupo de alto risco, muitos estudos mostram que não é possível predizer com precisão se ou quando determinado indivíduo com depressão tentará o suicídio.

As motivações para o suicídio podem incluir um desejo de desistir diante de obstáculos percebidos como insuperáveis ou um intenso desejo de terminar com um estado emocional excruciantemente doloroso percebido pela pessoa como interminável.

Um diagnóstico de Episódio Depressivo Maior não é feito se os sintomas satisfazem os critérios para um Episódio Misto (Critério B).

Um Episódio Misto é caracterizado pela ocorrência de sintomas de um Episódio Maníaco e de um Episódio Depressivo Maior, quase todos os dias por pelo menos uma semana.

O grau de prejuízo associado com um Episódio Depressivo Maior varia, mas mesmo nos casos leves deve haver um sofrimento clinicamente significativo ou alguma interferência no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes (Critério C). Se o prejuízo é severo, a pessoa pode perder a capacidade de funcionar social ou profissionalmente. Em casos extremos, pode haver incapacidade de exercer os mínimos cuidados pessoais (por ex., alimentar-se ou vestir-se) ou de manter uma higiene pessoal mínima.

Uma atenta entrevista é essencial para a obtenção dos sintomas de um Episódio Depressivo Maior. O relato pode estar comprometido por dificuldades na concentração, prejuízo de memória ou uma tendência a negar, minimizar ou justificar os sintomas. Informações de fontes adicionais podem ser especialmente úteis para o esclarecimento do curso de Episódios Depressivos Maiores atuais ou anteriores e para determinar a existência de quaisquer Episódios Maníacos ou Hipomaníacos.

Uma vez que os Episódios Depressivos Maiores podem ter um início gradual, uma revisão das informações clínicas focalizada na pior parte do episódio atual tem maiores chances de detectar a presença de sintomas.

A avaliação dos sintomas de um Episódio Depressivo Maior é especialmente difícil quando eles ocorrem em um indivíduo que também apresenta uma condição médica geral (por ex., câncer, acidente vascular encefálico, infarto do miocárdio, diabete).

Alguns dos critérios de um Episódio Depressivo Maior são idênticos aos sinais e sintomas característicos de condições médicas gerais (por ex., perda de peso com diabete não tratada, fadiga com o câncer). Esses sintomas devem contar a favor de um Episódio Depressivo Maior, exceto quando são clara e completamente explicados por uma condição médica geral. Por exemplo, a perda de peso em uma pessoa com colite ulcerativa com muitos movimentos intestinais e pouco consumo alimentar não deve ser contada a favor de um Episódio Depressivo Maior.

Por outro lado, quando tristeza, culpa, insônia ou perda de peso estão presentes em uma pessoa com um infarto do miocárdio recente, os sintomas devem contar a favor de um Episódio Depressivo Maior, porque não são clara e completamente explicados pelos efeitos fisiológicos do infarto do miocárdio.

De forma similar, quando os sintomas se devem claramente a delírios ou alucinações incongruentes com o humor (por ex., uma perda de 15 quilos relacionada a não comer em razão de um delírio de que o alimento está sendo envenenado), esses sintomas não devem contar para um Episódio Depressivo Maior.

Por definição, um Episódio Depressivo Maior não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma droga de abuso (por ex., Intoxicação com Álcool ou Abstinência de Cocaína), aos efeitos colaterais de medicamentos ou tratamentos (por ex., esteróides) ou à exposição a uma toxina. Da mesma forma, o episódio não é devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral (por ex., hipotireoidismo) (Critério D).

Além disso, se os sintomas começam dentro de 2 meses após a perda de um ente querido e não persistem além desses 2 meses, eles geralmente são considerados decorrência do Luto, a menos que estejam associados com acentuado prejuízo funcional ou incluam preocupação mórbida com desvalia, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor (Critério E).
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