Pele, o maior órgão do corpo.
Não
costumamos pensar na pele como um órgão, mas é isso o que ela é: o
maior órgão de nosso corpo, responsável pela troca de calor e água com o
ambiente, encarregada de proteger os órgãos internos contra bactérias e
de captar e enviar para o cérebro informações sobre calor, frio, dor e
tato. A pele tem três camadas, a epiderme (mais externa), a derme e o
tecido subcutâneo, mais profundo.
A epiderme
é bem fina e, por sua vez, tem três camadas: a superior, formada por
células chamadas queratinócitos, a média e a mais interna, formada pelas
chamadas células basais.
As
células basais dão origem aos queratinócitos também chamados células
escamosas, que produzem queratina e impermeabilizam a pele. Nesta região
existem também os melanócitos, células que produzem melanina, o
pigmento marrom que dá cor à pele e cuja função é proteger as camadas
mais profundas da pele contra os efeitos nocivos da radiação solar.
Negros
e brancos possuem a mesma quantidade de melanócitos, mas as pessoas de
pele escura produzem mais melanina, especialmente uma chamada
eumelanina, muito eficiente na proteção contra os raios ultravioleta
(UV) do sol. É por isso que negros e afro-descendentes têm menor risco
de desenvolver câncer de pele.
A derme,
a camada intermediária da pele, é mais espessa que a epiderme e abriga
as glândulas sudoríparas, folículos pilosos (as raízes dos pêlos), vasos
sanguíneos e nervos.
O tecido subcutâneo
às vezes chamado de hipoderme é responsável pela retenção do calor do
corpo e funciona como um “colchonete”, que absorve impactos e protege os
órgãos internos contra choques e pancadas.
Tipos de câncer de pele
O
câncer de pele é o tipo de câncer mais comum e representa mais da
metade dos diagnósticos de câncer. São mais de um milhão de novos casos
por ano nos Estados Unidos e cerca de 120 mil novos casos no Brasil.
Desse total, cerca de 5% são melanomas, os principais responsáveis por
mortes por câncer de pele.
Há
dois tipos básicos de câncer de pele, os não-melanoma, geralmente das
células basais ou das escamosas, e os melanomas, que têm origem nos
melanócitos, as células produtoras de melanina. Na maioria das vezes,
melanomas aparecem em pessoas de pele clara, no tronco nos homens, ou,
em membros inferiores nas mulheres – embora possam surgir em outras
partes do corpo também. Apesar de mais comuns em pessoas de pele clara,
negros e seus descendentes não estão livres da doença.
Descoberto
em seus estágios iniciais, o melanoma é quase sempre curável. Porém, se
diagnosticado tardiamente, tende a se espalhar para outras partes do
corpo em um processo chamado metástase. Ele é bem mais raro que os
carcinomas baso e espinocelular, mas é uma doença bem mais grave.
Diagnóstico:
Em
caso de suspeita de melanoma, seu médico irá perguntar quando a mudança
em sua pele surgiu, se ela aumentou de tamanho ou mudou de aparência,
se alguém mais em sua família teve câncer de pele e sobre a sua
exposição aos fatores de risco.
O
especialista deverá também observar tamanho, forma, cor, textura da
lesão, se ela sangra ou descama. Ele vai checar se há outras manchas e
pintas suspeitas e verificar se há inchaço dos linfonodos (gânglios
linfáticos), do pescoço, axilas, virilha, que pode indicar que o
melanoma se espalhou.
A
confirmação ou não do diagnóstico de câncer de pele é feito através de
uma biópsia, a retirada de uma amostra de tecido que vai ser analisada
ao microscópio. Existem vários tipos de biópsia, sempre feitas com
anestesia e a opção vai depender do tamanho da lesão e de sua
localização no corpo.
Nos
casos de suspeita de melanoma, os especialistas geralmente removem todo
tumor durante a biópsia, método chamado biópsia excisional ou biópsia
de excisão.
Em
alguns casos raros, o melanoma se espalha (metástase) para linfonodos
(gânglios linfáticos), pulmões, cérebro ou outros órgãos enquanto a
lesão na pele ainda é muito pequena. Quando isso ocorre, o melanoma
metastático pode ser confundido com um câncer que teve início nesses
órgãos. Por exemplo, descobre-se um câncer que parece ser de pulmão, mas
que na verdade é um melanoma que atingiu o pulmão. Nesses casos, as
amostras da biópsia são examinadas para ver se trata de melanoma, porque
diferentes tipos de câncer exigem diferentes tratamentos.
Prevenção
Não se sabe ao certo o que causa o melanoma, mas há fatores de risco conhecidos associados à doença.
- Exposição prolongada ao sol:
expor-se ao sol, principalmente sem proteção de filtros (no mínimo
fator 15), favorece o envelhecimento precoce da pele e aumenta
enormemente o risco de câncer no futuro.
- Ter pele clara:
O risco é bem maior entre pessoas brancas (loiras e ruivas) do que
entre as negras – o que não significa que negros não têm câncer de pele,
só que é mais raro.
- Ter sofrido grave queimadura de sol: na infância ou adolescência, aumentam o risco de aparecimento da doença mais tarde.
- Já ter tido melanoma: aumenta enormemente o risco de ter outro.
- Pintas:
Uma pinta (nevus) é um tumor benigno, mas alguns tipos de pintas
aumentam o risco de uma pessoa desenvolver melanoma. Pessoas com muitas
pintas, especialmente as grandes, devem consultar um especialista
regularmente e ter cuidado redobrado quando expostas ao sol.
- Histórico familiar:
cerca de 10% dos pacientes com melanoma têm um parente próximo (pai,
mãe, irmãos, filhos) com a doença. Pode ser porque a família tem o
hábito de passar muito tempo ao ar livre, porque são todos de pele muito
clara ou ambos. Membros dessas famílias devem consultar o especialista
regularmente (pelo menos uma vez por ano), aprender a observar a própria
pele e ter cuidado redobrado quando expostos ao sol.
O
melanoma familial, como é chamado, pode ocorrer também por um defeito
hereditário, principalmente quando ocorre mais de um melanoma em um
indivíduo ou em parentes de primeiro grau.
- Xeroderma pigmentoso:
é uma doença genética rara. Os doentes, também conhecido como “Filhos
da Lua” não tem a capacidade de reparar os danos no DNA danificado pela
ação dos raios de sol e de algumas fontes de iluminação artificial
(emissões de radiação ultra-violeta). Os portadores podem ter vários
cânceres de pele, começando já na infância.
- Idade: Melanomas são mais comuns em adultos, mas também podem surgir em pessoas jovens.
- Imunossuprimidos:
Pessoas submetidas a transplantes e que tomam drogas para evitar a
rejeição do novo órgão correm maior risco de ter melanomas e outros
cânceres de pele.
Como evitar a doença:
-
Filtro solar e chapéu são as melhores armas para prevenir o câncer de
pele. O ideal é evitar o sol, mas, caso vá se expor, que seja antes das
10 horas, ou à tarde, depois das 16 horas, sempre usando filtro solar
(fator 15, no mínimo), chapéu e óculos escuros. Use também um protetor
labial.
-
O cuidado deve ser redobrado com as crianças, porque a exposição
exagerada ao sol nos primeiros 20 anos de vida é decisiva para o
aparecimento de câncer de pele na meia-idade.
-
Uso de filtro solar não vale apenas para a praia, ele deve ser usado no
dia-a-dia também, principalmente em áreas do corpo expostas durante
passeios, caminhadas, ao fazer exercícios ou em compras ao ar livre.
- A recomendação vale também para aqueles dias de mormaço ou nublados.
- Use óculos escuros – com lentes de boa qualidade. Eles ajudam a proteger a pele delicada da região dos olhos.
Procure um departamento especializado em oncogenética ou oncologia cutânea se:
- Se mais de uma pessoa de um lado da sua família tive melanoma
- Você teve melanoma quando jovem
- Você tem um tipo de pinta chamada nevus displásico ou atípico
Há indícios de que algumas famílias com alta incidência de melanoma são portadoras de uma mutação genética.
Tratamento
Nos
casos de melanoma, a escolha do tratamento vai depender basicamente da
espessura do tumor e de seu estadiamento. Fatores prognósticos
relacionados ao tratamento incluem ressecção cirúrgica, mas como não
existe um tratamento padrão para os pacientes portadores de metástases
disseminadas, a existência de protocolos nos quais esses indivíduos
possam ser alocados deve sempre ser verificada.
Excisão simples:
melanomas finos podem ser tratados com uma pequena cirurgia para sua
remoção. O câncer é retirado juntamente com uma pequena porção de tecido
sadio.
Ampliação de margens:
se a biópsia retirou uma amostra de tecido e confirmou a existência de
melanoma, a pele será retirada e examinada, para verificar se não restou
tecido canceroso na região.
Amputação: Se o melanoma estiver nos dedos da mão ou pés, o especialista pode optar pela amputação.
Dissecção de linfonodo ou Linfadenectomia:
o especialista vai checar se os gânglios linfáticos próximos ao
melanoma foram ou não atingidos pelo câncer, mesmo quando não se
apresentam inchados ou endurecidos. Se isso ocorrer, eles são removidos.
A remoção dos gânglios pode causar problemas permanentes, entre eles o
linfedema. É que os gânglios linfáticos ajudam a drenar fluidos das
pernas e braços e sem eles, esses líquidos tendem a se acumular. Por
isso, gânglios linfáticos só são removidos se houver a real necessidade.
Esta cirurgia pode ser realizada também após a biópsia de linfonodo
sentinela. Se houver células cancerosas neste gânglio, os demais nódulos
da área são retirados. Se não houver, não há necessidade de remover os
demais.
Cirurgia para melanoma metastático: quando
o melanoma atinge órgãos distantes, como pulmão, fígado, cérebro, os
médicos partem do pressuposto que ele não pode mais ser curado por
cirurgia. Mesmo assim, ela pode ser indicada para ajudar o paciente a
viver mais ou ter mais qualidade de vida. Em um seleto grupo de
pacientes, a cirurgia pode ser considerada curativa, principalmente
quando ocorre um tempo razoável (maior que um ano) entre o tratamento do
melanoma na pele e o aparecimento de uma ou poucas metástases.
Quimioterapia:
é o uso de medicamentos, por via oral ou injetados, para matar células
cancerosas em todo o organismo. A quimioterapia é muito útil quando o
câncer se espalhou. A quimioterapia mata as células cancerosas, mas
também as normais, podendo, eventualmente, produzir alguns efeitos
colaterais, entre eles:
- náusea e vômito
- perda de apetite
- feridas na boca
- maior risco de infecções (porque diminui o número de glóbulos brancos)
- risco de sangramento ou hematoma por causa de pequenos cortes ou pancadas
(por causa da redução na quantidade de plaquetas no sangue)
- cansaço (por causa do menor número de glóbulos vermelhos)
- cansaço (por causa do menor número de glóbulos vermelhos)
A maioria dos sintomas desaparece com o fim do tratamento.
Há
vários tipos de quimioterapia que podem ser usados no tratamento do
melanoma de estádio IV. Embora ela não funcione tão bem em casos de
melanoma quanto em outros tipos de câncer, ela pode melhorar a qualidade
de vida e prolongar a vida do paciente.
Imunoterapia: ela ajuda o sistema de defesa do paciente a combater o câncer e pode ser usada em paciente com melanoma avançado:
Imunoterapia: com os interferons, que são substâncias que o organismo produz para combater infecções. Um deles, o interferon-alfa2b, pode ser usado, mas são necessários altas doses e muitos doentes não suportam os efeitos colaterais, que incluem febre, calafrios, dores, fadiga extrema e danos ao fígado e coração. Essa terapia só pode ser conduzida por oncologistas especializados.
Vacina terapêutica: a lógica é semelhante à das vacinas comuns. Células enfraquecidas de melanoma ou substâncias obtidas a partir dessas células são injetadas no paciente para estimular o sistema imunológico a combater as células cancerosas. É difícil “produzir” essas vacinas, que podem ser usadas em pacientes com melanomas em estágio IV. Essa terapia ainda está sendo pesquisada e seus benefícios, avaliados.
Bioquimioterapia: esta opção de tratamento é reservada a pacientes jovens e que apresentem condição de desempenho mais preservada. Deve ser apresentada de maneira equilibrada tendo em vista a toxicidade envolvida e a ausência de dados definitivos sobre a eficácia do tratamento.
Estadiamento
Estadiamento é o processo de classificar o quanto o câncer se espalhou e isso determina tanto o tratamento quando as suas chances de recuperação. Os estádios da doença são indicados por algarismos romanos, que vão de zero a IV (4) e quanto maior o número, mais grave a fase da doença.
Há dois tipos de estadiamento para melanomas. O estádio (estágio) clínico, que se baseia nos resultados de exames físicos, biópsia, raios-X, tomografias, e o estádio patológico, que usa todos esses dados mais os obtidos pelas biópsias da pele, dos linfonodos ou outros órgãos.
Quanto mais fino o melanoma, menor o risco de ele se espalhar. A espessura do melanoma também determina a escolha do tratamento. Uma das maneiras de medir a espessura do melanoma é o uso de uma pequena régua especial e o resultado é chamado medida de Breslow.
Outro sistema avalia a profundidade do melanoma em relação às camadas da pele. É o chamado nível de Clark, que usa uma escala de I a V (1 a 5) e descreve quais camadas da pele estão comprometidas pela doença, sendo o I o menor e V o melanoma mais profundo.
Metástases
Uma série de exames podem ser utilizados para verificar se há metástase, se o câncer já se espalhou e que órgãos foram atingidos:
Biópsia Aspirativa com Agulha Fina (BAAF): é utilizada quando se suspeita de metástase do melanoma para pulmão, fígado ou linfonodos. O exame causa pouco desconforto e remove pequenas amostras de tecido para análise.
Biópsia cirúrgica de linfonodo: é a remoção de um nódulo linfático aumentado através de uma pequena incisão. Ela é usada quando se acredita que o melanoma atingiu os gânglios, mas o BAAF não encontra células cancerosas.
Biópsia do linfonodo sentinela: é o método-padrão para saber se o câncer atingiu linfonodos em pacientes com melanoma e quando os linfonodos não parecem clinicamente aumentados. Uma substância radioativa é injetada no melanoma ou na cicatriz da biópsia prévia e uma hora depois os linfonodos são examinados para ver qual deles é o primeiro a drenar a região do melanoma. Durante a cirurgia, novamente uma substância é injetada na lesão, um contraste azul, para que também vá para o primeiro nódulo a receber a drenagem linfática do tumor, que é o chamado linfonodo sentinela. É feita também a biópsia deste linfonodo, chamado sentinela, e encaminhada para estudo anátomo-patológico com cortes seriados, na tentativa de se identificar a presença de micrometástases.
Raios-X: podem ser pedidos para ver se o melanoma atingiu os pulmões.
Tomografia computadorizada: se houver suspeita de que a doença se espalhou para o fígado ou outros órgãos, a equipe médica pode pedir uma tomografia, que nada mais é do que múltiplas imagens de raios-X combinadas por computador, para produzir uma imagem detalhada de várias secções do organismo. O exame demora cerca de 30 minutos, durante os quais o paciente tem de permanecer imóvel sobre uma mesa. Normalmente a tomografia é usada para casos mais preocupantes, como aqueles que tiveram metástase para linfonodos, ou se há algum sintoma que possa indicar uma possível metástase para outros órgãos.
Ressonância magnética (MRI): ele é semelhante à tomografia, mas usa ondas magnéticas e ímãs fortes para produzir uma imagem. É usada principalmente para suspeita de metástases cerebrais.
Tomografia por emissão de pósitrons (PET): PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons) é uma técnica de imagem que revela as alterações do metabolismo celular por todo o corpo. Ela permite a detecção precoce de mínimas lesões tumorais ou novos focos da doença. Consiste na injeção de uma pequena quantidade de radiofármaco (glicose marcada pelo material radioativo Flúor 18 FDG), que após sua distribuição pelo corpo, gera informações únicas, que nenhum outro exame de imagens consegue. A CT (Tomografia Computadorizada) utiliza-se dos recursos de Raios-X e tecnologia computacional para produzir imagens diagnósticas detalhadas que determinam, com precisão, a localização e a forma das lesões num determinado órgão. Assim como a tomografia, o PET é indicado para casos mais preocupantes.
Marcelle Matoso.
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