Pesquisa revela que maioria desconhece que chance de cura chega a 95% com detecção precoce; muitas acreditam que sentimentos como tristeza e mágoa podem contribuir para o surgimento do câncer, o que os cientistas contestam
A auxiliar administrativa Andrea Peixoto, 38, diagnosticada com câncer de mama há quase um ano
Foram entrevistadas 1.000 mulheres saudáveis, 240 mulheres que têm ou tiveram câncer de mama, 400 homens, além de médicos, gestores de saúde e profissionais de ONGs ligadas ao tema. A amostra incluiu pessoas de todas as classes sociais.
Palavras como medo, pavor, morte e desespero são as primeiras a vir à mente das brasileiras quando a doença é mencionada.
E o pior de tudo é que o medo surge como um obstáculo que afasta as mulheres do único exame que poderia garantir o diagnóstico precoce e um tratamento mais bem-sucedido: 50% das mulheres opinam que é o medo de descobrir a doença que faz com que muitas evitem fazer a mamografia.
Para a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), inconscientemente, a mulher ainda associa o câncer à tragédia. “No momento em que ela começar a se dar conta de que tem tantas pessoas curadas, o medo vai diminuir.”
A pesquisa confirma a visão trágica: 60% das mulheres e 56% dos homens apontam o câncer como a pior doença que se pode ter, à frente de enfarte, derrame, depressão e aids. Os motivos mencionados por mulheres e homens são os mesmos – a doença mataria rápido, não teria cura e causaria muita dor física.
O médico Max Mano, chefe do Grupo de Câncer de Mama do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), observa que essa reação ao câncer é generalizada. “Essa palavra causa um pânico em todas as classes sociais e níveis culturais.”
Outro aspecto destacado pelo estudo é que, entre as mulheres que têm ou tiveram câncer de mama, 54% acreditam que sentimentos como tristeza, depressão e mágoa podem ter contribuído para o aparecimento da doença, apesar de nenhuma evidência científica corroborar essa ideia.
“Uma queda brutal, e por longos períodos de tempo, da imunidade pode contribuir para que um câncer preexistente se estabeleça. Mas não que isso seja a causa do câncer”, diz Maira.
De acordo com a médica Rita Dardes, diretora médica do Instituto Avon, é esse aspecto psicológico do câncer que torna importante que a doença seja tratada não apenas pelo mastologista, mas por uma equipe multidisciplinar envolvendo outras especialidades, como psicólogos e fisioterapeutas. “A mulher tem que ser tratada como um todo.”
Mais um motivo que pode levar as mulheres a não se submeterem à mamografia, de acordo com o levantamento, é a crença de que são imunes ao câncer. Entre as mulheres ouvidas, 31% declarou que não poderia vir a ter a doença, já que nenhum parente a desenvolveu. Na realidade, apenas de 5% a 10% dos casos estão relacionados à hereditariedade.
A pesquisa deve orientar a ação de ONGs, de acordo com Maira. “O estudo é relevante para desenhar estratégias de atuação de uma organização como a Femama, que procura identificar os gargalos que fazem com que pacientes continuem morrendo de câncer de mama.”
Dia a Dia
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