Dilma se emociona ao instalar comitê de combate à tortura
Colegiado terá a missão de fortalecer o enfrentamento à tortura em instituições de privação de liberdade
Agência Brasil
Vítima de tortura na ditatura militar, a
presidenta Dilma Rousseff se emocionou nesta sexta-feira ao instalar o
Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT). O colegiado
terá a missão de fortalecer o enfrentamento à tortura em instituições de
privação de liberdade, como delegacias, penitenciárias, locais de
permanência para idosos e hospitais psiquiátricos. “A experiência, a minha especificamente, mas
falo no sentido geral também, mostra que a tortura é como um câncer, que
começa em uma cela, mas compromete toda a sociedade. Quem tortura,
obviamente, o torturado, porque afeta a condição mais humana de todos
nós, que é sentir dor, e destrói os laços civilizatórios da sociedade”,
disse a presidenta com a voz embargada.
Cerimônia de posse dos membros do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT)
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Ao posar para foto com os 23 membros
do comitê - 11 indicados pelo Poder Executivo Federal e 12 por
organizações da sociedade civil, escolhidos por meio de uma consulta
pública – a presidenta abraçou emocionada a ministra da Secretaria de
Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci. “Quando poderíamos
imaginar que estaríamos aqui hoje, Eleonora?”, perguntou Dilma.
Assim como a presidenta, Menicucci também foi
presa e torturada durante o regime militar. À época, ela esteve no
presídio Tiradentes com Dilma Rousseff, de quem era vizinha e colega de
faculdade em Belo Horizonte. A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, Ideli Salvatti, disse que com a criação do
comitê o país não quer apenas combater a tortura, mas eliminá-la do
Brasil. “Ao estarmos aqui instalando o comitê fica bastante claro que
uma das principais tarefas é a criação do mecanismo [Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT). Esse instrumento vai permitir que
as pessoas escolhidas a adentraram qualquer espaço de privação de
liberdade para conferir as condições, dar flagrante, contribuir de forma
efetiva para que seja eliminada [a tortura]”, frisou. “Não queremos apenas combater, queremos
eliminar a tortura do no nosso país. Isso é um compromisso internacional
assumido pelo Brasil”, acrescentou Ideli. Entre as atribuições do comitê, estão a
avaliação e a proposição de ações de prevenção e combate à tortura,
integrando a atuação de órgãos do governo e segmentos sociais. Com a
instalação do colegiado, os membros terão 90 dias para criar o Mecanismo
de Prevenção e Combate à Tortura que será composto por 11 peritos
independentes que deverão recomendar medidas para a adequação dos
espaços de privação de liberdade aos parâmetros nacionais e
internacionais, bem como o acompanhamento e a diligência para o
cumprimento das recomendações feitas. Um dos representantes da sociedade civil, José
Jesus Filho, da Associação de Apoio e Acompanhamento da Pastoral
Carcerária Nacional, classificou o momento como histórico. “Já estamos
em processo de levar a política adiante. O banco de dados de coleta de
informações sobre tortura já está em processo de construção,
investigações estão sendo levantadas e isso significa que, para nós,
esse é um momento histórico”. De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos,
a escolha dos locais a serem visitados será definida pelo mecanismo
nacional, com base nas informações e dados fornecidos pelo Comitê. Além
do mecanismo nacional, sete unidades federativas já criaram seus
mecanismos locais por meio de leis estaduais: Rio de Janeiro, Paraíba,
Alagoas, Espírito Santo, Rondônia e Minas Gerais. O mecanismo do estado
do Rio de Janeiro está em funcionamento desde 2011 e, recentemente, o
estado de Pernambuco concluiu o processo de seleção dos membros do seu
mecanismo estadual.
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