Não será tão fácil
O governador Marconi Perillo encara desta vez uma oposição mais organizada
por Rodrigo Martins
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publicado
27/07/2014 10:37
Mantovani Fernandes/O Popular/Futura Press
Assombrado
pelo de envolvimento com a quadrilha do bicheiro Carlinhos
Cachoeira, o tucano Marconi Perillo, governador de Goiás, deve enfrentar
a mais dura disputa eleitoral de sua trajetória. Em 1998 venceu sua
primeira grande disputa e tornou-se, então, o mais jovem governador do
País, com 35 anos. Não teve dificuldade para reeleger-se quatro anos
depois, ainda no primeiro turno. Em 2006, conseguiu vaga no Senado e a
vitória de um aliado político na corrida pelo Palácio das Esmeraldas.
Retornaria ao governo goiano em 2010. O cenário atual é, porém, muito
distinto. Além dos processos que enfrenta na Justiça após o
aparelhamento do estado pela máfia dos jogos de azar, Perillo terá de
superar a crescente rejeição do eleitorado e o desgaste de 16 anos do
PSDB à frente do governo, além da corrupção escancarada no seu governo.
A favor do tucano pesam o controle da
máquina pública e os vultosos investimentos em publicidade oficial, que
somaram mais de 474 milhões de reais desde o início do mandato. Além
disso, Perillo acabou beneficiado pela indefinição e demora das
candidaturas de oposição. Dentro do PMDB arrastou-se por meses a disputa
interna entre o empresário José Batista Júnior, conhecido como Júnior
Friboi, um dos donos do grupo que controla o frigorífico JBS, e o
ex-governador Iris Rezende.
O partido tardou
a optar pelo segundo, o que pesou na decisão do PT de lançar candidato
próprio, o prefeito de Anápolis Antônio Gomide, abrindo mão de uma
aliança com o PMDB que durava desde 2008. Além disso, especulou-se que
Vanderlan Cardoso, do PSB, poderia sair como vice na chapa encabeçada
pelo PMDB. As dúvidas só foram dirimidas após as convenções partidárias,
concluídas no período da Copa do Mundo.
Nenhum instituto de alcance nacional realizou pesquisas
eleitorais no estado nos últimos meses. Nos levantamentos feitos por
empresas regionais, Perillo larga na dianteira. Possui 37,1% das
intenções de voto contra 26,3% do ex-governador Iris Rezende, 9% de
Vanderlan Cardoso e 7,6% de Antônio Gomide, segundo sondagem no início
de julho do Instituto Serpes. O mesmo levantamento revela um índice de
rejeição ao atual governador na casa dos 30%.
Uma pesquisa mais recente, feita pelo
Instituto Veritá, apresenta Perillo com 42,7% das intenções de voto, 16
pontos porcentuais à frente de Rezende. Cardoso segue com 8,9% e Gomide
com 4,9%. Foram consultados 2.065 eleitores de 9 a 12 de julho.
“Perillo só chegou a esse patamar porque
correu praticamente sozinho até agora, com investimento em publicidade
oficial astronômico, muito superior ao de outros estados com o mesmo
perfil”, afirma o ex-deputado federal Barbosa Neto, um dos coordenadores
da campanha de Iris Rezende. “Agora não há mais indefinição. São três
candidatos com forte discurso de oposição ao governo tucano. E o PMDB
está pacificado, a disputa interna ficou para trás.”
Barbosa Neto acredita em uma aliança com o
PT em um eventual segundo turno, ainda que o ruralista Ronaldo Caiado
(DEM) seja candidato a senador na chapa de Rezende. “O histórico dos
partidos acena para essa direção.” Autointitulado o “mais ácido
opositor” ao PT, Caiado antecipou que não dividirá o palanque com Dilma
Rousseff(até porque ela não quer se misturar com uma figura como Caiado). Mas mantém postura cautelosa. De braços dados com Rezende
durante a inauguração de um comitê, na terça-feira 15, concentrou as
críticas em Perillo, sem os costumeiros ataques ao PT.
O PMDB tem promovido debates em cada uma
das dez regiões de planejamento do estado. A promessa é de uma campanha
propositiva, mas Rezende não costuma perder oportunidades para alfinetar
o adversário e lembrar o envolvimento de Perillo com a quadrilha de
Cachoeira. “Temos pesquisas qualitativas que mostram que o nome do
governador está fortemente associado ao do bicheiro, são quase irmãos,
então nem precisamos perder muito tempo com isso. Basta lembrar o povo
de vez em quando”, diz Barbosa Neto.
A Justiça Eleitoral ainda não definiu o
tempo de cada candidatura na televisão aberta, mas estima-se que o
governador terá certa vantagem: cerca de 7 minutos. Rezende deve dispor
de 4 minutos e meio, enquanto o PT conta com 3 minutos e meio e o PSB,
pouco menos de 2 minutos. A oposição aposta na mobilização nas ruas e,
sobretudo, nas redes sociais.
“Com tanto dinheiro investido em
publicidade, o governador tem enorme influência sobre os meios de
comunicação locais. A única forma de romper esse cerco é queimar sola de
sapato e intensificar a mobilização pela internet”, explica Jorcelino
Braga, coordenador da campanha do PSB. “Desde fevereiro do ano passado,
Vanderlan percorre as cidades goianas para identificar as demandas da
população e estruturar seu plano de metas. Mas os jornais daqui
insistiam em alimentar falsas especulações sobre a possibilidade de ele
ser vice de candidatos de outros partidos.”
Os municípios goianos
no entorno de Brasília também são vistos como estratégicos. “Devido a
um problema tecnológico, eles não captam o sinal da tevê de Goiás, e sim
do Distrito Federal. Temos 700 mil eleitores nessas cidades”, diz
Braga.
Em sua chapa puro-sangue, o PT aposta na
popularidade do candidato Antônio Gomide, que deixou a prefeitura de
Anápolis com um índice de aprovação próximo de 90%. Pela lógica, seu
principal cabo eleitoral seria o prefeito da capital, o também petista
Paulo Garcia. Mas o colega não vive dias de glória.
Em junho de 2013, Garcia foi alvo de um pedido de impeachment
protocolado por professores grevistas da rede municipal. Desde então,
luta para recuperar a popularidade. Além disso, o prefeito de Goiânia
foi um dos principais críticos da divisão da oposição em diferentes
frentes. Para ele, PT e PMDB deveriam caminhar juntos desde o primeiro
turno.
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