O fundamental para a saúde da criança é não envolvê-la em brigas e competições
‘Sua mãe (ou pai) não gosta mais da gente, por isso saiu de casa’. Frases como esta, ditas frequentemente por adultos, são capazes de destruir a autoestima de uma criança e colocar em suas costas a culpa pelo término do relacionamento. De acordo com o chefe da psiquiatria infantil da Santa Casa de Misericórdia, Fabio Barbarito, muitos pais e mães esquecem que não devem de forma alguma desabafar com seus filhos. “É um crime, independentemente da idade que ele tenha, usá-lo para descarregar mágoas como se fosse seu ombro amigo”, alerta.
Outra atitude nada aprovada pelo
psiquiatra é usar a criança como moeda de troca, fazendo ameaças ao ex
através do filho, como por exemplo deixar de dar algo à criança para
‘castigar’ o outro. Tentativas de convencer os filhos de que o casamento
ainda existe, mesmo quando não há mais uma relação, abalam ainda mais
os meninos, já que, mesmo pequenos, percebem o que é ‘teatro’, diz
Barbirato.
A psicanalista Priscila Gasparini
lembra que crianças, não confortáveis com as mudanças, podem apresentar
dificuldade para se relacionar na escola, nervosismo, problemas para
comer e comportamentos de crianças mais novas. “Já os adolescentes não
aceitam as orientações dos pais e ficam agressivos”.
Entre os menores, acontece a somatização: insegurança e medo decorrentes da separação dos pais aparecem em forma de sintomas físicos, como enjoo, dores e febre.
Entre os menores, acontece a somatização: insegurança e medo decorrentes da separação dos pais aparecem em forma de sintomas físicos, como enjoo, dores e febre.
Mas existem formas de amenizar essa
angústia, e isso depende da forma como o ex-casal conduz a situação,
segundo a psicóloga Robertha Haddad Blatt. O indicado é conversar com o
filho, sempre levando em consideração sua idade — quando bem pequenos, é
bom adotar um diálogo lúdico —, deixando claro que ele ainda poderá
contar com os dois e que a família não acabou.
Procurando a melhor maneira de cuidar
de Miguel, de apenas 4 anos, Renata Rodrigues, 43, e Leonardo Botelho,
40, mantêm uma relação respeitosa e tomam decisões em conjunto sobre a
educação do menino. “Quando nos separamos, Miguel estava com 1 e 8
meses, procuramos a creche e pedimos orientações. No começo, foi
complicado,” conta a estilista. O bebê estranhava a casa do pai, mas
depois de um mês, tudo foi se normalizando. Hoje, os dois convivem bem e
preservam momentos só dos três, o que deixa Miguel muito feliz.
Problemas e soluções
- Até 3 anos
Apesar de não entenderem o que é um divórcio, crianças desta idade sentem a ausência de quem foi embora. Podem transformar a tristeza em sintomas físicos como dores, enjoo e febre, ou chorar muito ao se separar de um dos pais. Nos primeiros finais de semana na casa do pai, a mãe pode ir junto, para a criança se sentir confiante. Se estiver matriculado em uma creche, é bom conversar com a equipe de psicólogas e estabelecer uma parceria.
- De 4 a 5 anos
Estão na fase de formação de autoestima e dos grupos de amizades. Podem perder a confiança em si mesmos. Esclarecer que a responsabilidade pela separação não é dela ajuda. E demonstrar satisfação durante o período que o filho passa com o(a) ex-parceiro(a) também, para evitar que a criança sinta culpa.
- De 6 a 10 anos
Ficam agressivos e podem ter problemas de desempenho escolar. Também se sentem responsáveis pelo que aconteceu e podem apresentar melancolia e vontade de se isolar. Estão em uma fase do desenvolvimento em que constroem identificações com as figuras dos adultos. É imprescindível o contato frequente tanto com o pai quanto com a mãe.
- Adolescentes
Como já são maiores e mais conscientes, podem se sentir no dever e no direito de forçar uma reconciliação. Quando os pais não voltam, há muita frustração e decepção. Podem ficar com dificuldade em receber ordens e até se recusar a manter relações com um dos progenitores. É importante que pai e mãe não desabafem sobre os problemas íntimos com o filho, mesmo que ele se mostre maduro.
Colaborou Isabela Borges
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