Central vira palco de passinho e corte de cabelo coletivo, que esculpiu de paisagem a juras de amor
“Os cabelos desenhados e pintados
compõem a ideologia do funk. O cabelo reflete a personalidade do
dançarino, ajuda no julgamento das batalhas de passinho e enche os olhos
da mulherada nos bailes”, afirma o barbeiro Eric Silva, de 21 anos, no
ramo desde os 17. Morador da Cidade de Deus, ele foi um dos 20 designers
(como gostam de ser chamados) que “expuseram sua arte” gratuitamente,
ontem, na Central do Brasil, em evento de divulgação para o Rio Parada
Funk, que acontece dia 14, na Praça da Apoetose.
“Sou apaixonado pelo ritmo. Quando percebi que
não levava jeito para a dança, corri para outro caminho”, explicou Eric,
que aprendeu o ofício em um projeto social e hoje se orgulha de fazer a
cabeça de funkeiros famosos.
E aproveitando a ‘febre’ que se
tornaram nas comunidades, os rapazes têm enchido seus cofres. “Como é
feito com navalha, um corte tem validade média de 10 dias. Depois disso é
necessário retoque. Tenho clientes que voltam ao salão três vezes por
mês, ao custo de R$ 20 a cada ida”, explica Johnatan Salgado, dono de um
salão no Complexo do Alemão, que diz já ter ‘esculpido’ declarações de
amor e até paisagens e ostenta troféus de batalhas de barbeiros, em que
um júri elege o melhor corte de um baile.
Para o produtor musical especializado
em funk Pedro Croata, o modismo reflete a característica do funk como
manifestação cultural. “A ideologia que envolve vestimenta, dança e
comportamento. Somos todos profissionais do mesmo ramo”, salienta.
Performance feita na navalha e ao som de ‘O Barbeiro de Sevilha’
Barbeiro há 54 anos, Sérgio Esgarbe, 82, dono de um salão na Lapa, vê com simpatia as técnicas, pelas quais temeu a extinção, serem perpetuadas pela nova geração. “Pensei que era um ofício com os dias contados. Por que não inovar?”, disse ele, que ressalta a importância da higiene e da troca de lâminas a cada corte.
“O ideal é juntar todas em uma
garrafa PET vazia para então descartá-las. Assim evita que o lixeiro se
fira”, ensina.
Em sua quarta edição, esta será a primeira vez
que a Rio Parada Funk fará parte do Calendário Oficial Cultural do Rio
de Janeiro. No ano passado, o prefeito Eduardo Paes sancionou a lei
5.625, que decreta todo segundo domingo de setembro como a data oficial
do funk na cidade. Das 40 mil pessoas esperadas para o evento, 15 mil já
retiraram seus convites, gratuitamente, no site
www.rioparadafunk.com.br/blog.
Além do corte coletivo de cabelos, na tarde de ontem, a Central do Brasil foi palco de uma apresentação atípica de passinho. O ritmo marcado pelo improviso e pela influência de passos de vários estilos musicais ganhou uma coreografia fixa, montada pelas bailarinas Débora e Raquel Polistchuck.
A apresentação de cinco minutos, contou com 50 dançarinos que dançaram ao som de uma adaptação da ópera ‘O Barbeiro de Sevilha’ (a escolha do nome foi intencional, sim) e reuniu uma multidão de curiosos.
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