2.24.2015

Toda mulher precisa enlouquecer de vez em quando, ou acaba por enlouquecer de vez


Curiosamente, um mundo loucamente imperfeito nos exige perfeição o tempo todo. 
De todos nós, de fato, mas, em se tratando de mulheres, as exigências são ainda mais exorbitantes e cruéis. O mundo espera de nós o que, talvez, sequer saibamos
 se é possível – e que muito provavelmente não é.
O mundo espera que sejamos bonitas, acima de tudo. Lindas, se possível.
 Bem cuidadas, magras, torneadas, gostosas e sexys. E tenta nos convencer
 que não somos bonitas se não vamos ao salão de beleza semanalmente.
Uma mulher ~perfeita~ para o mundo atual tem que trabalhar o dia inteiro
 – porque precisa ser independente – estudar – porque precisa ser culta
 – fazer dieta, ir à academia e manter os cabelos com um brilho espetacular. 
Ir à manicure, sorrir para a sogra e, depois de tudo isso, ter disposição 
para fazer um sexo memorável a qualquer hora, para que o mundo
 – e, em alguns casos, excepcionalmente o seu companheiro
 – a considere uma mulher que vale a pena.
E ainda é preciso encontrar tempo pra rezar pra não ser trocada por outra
 – por que, como já ouvi incontáveis vezes: homens disponíveis estão mesmo
 difíceis de encontrar. E depois de nos aterrorizar com toda essa história 
de que precisamos agradar nossos homens, muito mais, até mesmo, do que
 sermos nós mesmas, ele nos cobra lucidez. Segurança. Serenidade.
A verdade é que o mundo nos cobra equilíbrio quando tudo o que ele faz 
é nos desequilibrar. Nos cobra segurança quando tudo converge para que
 acreditemos que não somos nada sem um homem ao lado, nos cobra união
 enquanto, culturalmente, nos lança umas contra as outras, fazendo-nos
 uma cruel lavagem cerebral que tenta nos convencer de que somos 
desunidas e competitivas.
E os homens de nossas vidas – pais, companheiros, amigos – embora, 
muitas vezes, cheios de boas intenções, acabam por nos atribuir uma 
responsabilidade que talvez sejamos incapazes de assumir: a de sermos
 boas o suficiente o tempo todo.
De não mexer no celular dele. De deixá-lo ver futebol em paz. De não 
sentir ciúmes da amiga gostosa. De se portar dignamente, elegantemente, 
graciosamente. De não enlouquecer nunca – e se você aceita um conselho, 
toda mulher precisa enlouquecer de vez em quando, ou acaba por 
enlouquecer de vez.
Se cada homem no mundo pudesse escutar a minha voz, o único
 conselho que eu daria é: deixe-nos enlouquecer quando quisermos. 
Porque não há amor sem uma dose de loucura. Porque equilíbrio 
absoluto numa relação jamais foi um bom sinal. E toda mulher tranquila
 e que nunca te interroga sobre o seu atraso pode não ser tão equilibrada assim: 
ela pode, simplesmente, não te amar.
A intensidade é parte de cada passo nosso. A insensatez eventual nos
 é necessária e característica. E se não lhe tivermos um pouco de
 loucura, certamente não lhe temos sequer um pouco de amor.

Nathali Macedo

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