11.14.2010

A CIÊNCIA DA SEDUÇÃO

A ciência da sedução - Parte 1

Uma avalanche de estudos do mundo inteiro tenta desvendar
os mistérios da atração e da conquista - e suas conclusões podem ser surpreendentes


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UNIDOS NA BELEZA
Pesquisas dizem que os belos se atraem:
como Rafael e Raquel, juntos há sete anos
Para qual parte do corpo da mulher o homem olha primeiro? Qual é o biótipo mais sexy? Que rosto beira a perfeição? As respostas dependem da pesquisa científica consultada. O meio acadêmico tem teses em profusão sobre o tema. Todos os meses, universidades do mundo inteiro despejam em revistas especializadas dezenas de trabalhos que tentam desvendar o intrincado processo da atração física. Ao longo das últimas duas décadas, o corpo humano foi destrinchado e analisado com todas as ferramentas existentes – da simples observação às tomografias mais avançadas –, com o intuito de entender como, quando e por que os pares se formam. Hoje, se estuda à minúcia o poder de um olhar, a influência de um perfume e até o simples caminhar. As conclusões são tão óbvias quanto inusitadas. Todas, no entanto, têm o mesmo objetivo: tentar desvendar os mistérios da sedução.
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Recentemente, três universidades divulgaram estudos, no mínimo, curiosos. Um grupo da australiana Universidade de New South Wales, por exemplo, queria saber qual era o tipo de mulher mais atraente. Levaram a melhor as altas de braços longos. Para as desprovidas de estatura que acham que um salto dez centímetros seria a solução, mais um balde de água fria. Outra pesquisa, dessa vez britânica, garante que os homens nem sequer percebem quando uma mulher está com um deles. “Apesar de elas acharem que ficam mais altas e com o bumbum empinado, eles não notam muita diferença”, concluiu Nick Neave, psicólogo evolucionista da Universidade de Northumbria. O americano Paul Dobransky, psicólogo pop que é habitué de programas de tevê dos EUA, aconselha: esqueça a altura, os homens olham mesmo é para o cabelo. Afinal, madeixas saudáveis e brilhantes são um sinal de saúde e cuidado. E pesquisadores da Universidade de Rochester, em Nova York, Estados Unidos, garantem que mulheres de vermelho atraem mais olhares, uma vez que, no mundo animal, essa cor é sinal de fertilidade.
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CONTEÚDO
Para Larissa, inteligência e bom humor
são mais afrodisíacos que beleza
Divergências à parte, a grande maioria dos estudiosos do sex appeal concorda que ambos os sexos se voltam primeiro para o rosto. “Eu sempre soube que ele era bonitão, pois todas as mulheres o olhavam na faculdade”, conta a relações-públicas carioca Marcela Vasconcelos, 28 anos, sobre seu marido, o bancário Rodrigo Magalhães, 29. “Mas eu não ligava para ele porque achava que jamais olharia para mim.” Uma troca de olhares e um sorriso mudou o curso da história. “Eu me apaixonei no mesmo instante”, confessa. Depois do encantamento inicial, Marcela resolveu analisar com mais afinco seu objeto de desejo. Só nesse segundo momento reparou que ele também tinha um corpo bonito, em especial, o peitoral. Já para Rodrigo foi o conjunto da obra que chamou a atenção. “Uma morena linda, com olhos arrasadores e um belo cabelo, não tinha como não olhar.” Quando finalmente se conheceram, o bancário também a achou bem-humorada e inteligente.
É pensando no fascínio de um encontro como o de Rodrigo e Marcela que tantos cientistas suam seus jalecos. Afinal, como uma troca de olhares pode se transformar em um sólido casamento de nove anos e uma filha? O que os pesquisadores buscam entender é o que se passa no cérebro de uma pessoa quando ela olha ou é observada por alguém (leia quadro à pág. 79). Para ir mais fundo nos detalhes, cada grupo de estudo busca se especializar em uma parte específica do corpo. A Universidade de Aberdeen, na Escócia, por exemplo, tem um laboratório referência em rostos. A professora Lisa DeBruine e sua equipe passam dias analisando como uma fisionomia é percebida por homens e mulheres e quais as preferências de acordo com gênero, nacionalidade, idade e outras variáveis. O trabalho mais conhecido é o que define faces mais atraentes. Nas mulheres, contorno e queixo fino, somados a sobrancelhas arqueadas. Nos homens, face quadrada, queixo reto e sobrancelhas grossas, o famoso “rosto másculo”. Esse é o padrão geral. Lisa e sua equipe, no entanto, já detectaram preferências fora da curva. Nos países desenvolvidos, por exemplo, homens com fisionomia “feminina” fazem sucesso, pois as mulheres associam traços suaves com pessoas confiáveis e inteligentes.
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À PRIMEIRA VISTA
Uma troca de olhares e um sorriso selaram
o destino de Marcela e Rodrigo

A ciência da sedução - Parte 2

Uma avalanche de estudos do mundo inteiro tenta desvendar
os mistérios da atração e da conquista - e suas conclusões podem ser surpreendentes

Débora Rubin
 Do outro lado do Atlântico, uma americana se dedica aos mistérios da face de forma mais cartesiana. Ph.D. em estatística, Kendra Schmid, da Universidade de Nebraska, criou um software que calcula o grau de atratividade de um rosto a partir de 29 medidas, com base num conceito matemático. Kendra comprovou por a + b que é tudo uma questão de simetria. Quanto mais perfeitas as medidas – distância entre os olhos, tamanho do nariz comparado à boca, largura do rosto –, mais atraente se é. Após mensurar centenas de voluntários, a pesquisadora chegou à média 6 para ser considerado belo e sensual. A grande maioria dos indivíduos, no entanto, fica mesmo entre 4 e 6. “Olhos e lábios são as coisas que as pessoas mais reparam”, afirma Kendra, que promete disponibilizar o teste na internet em breve para quem tiver coragem de saber sua própria nota.
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Se captar a mente humana durante o processo de sedução é um desafio para cientistas de renome, entender a cabeça feminina é ainda mais complexo. Isso porque os hormônios variam conforme o ciclo menstrual e interferem no desejo. Lisa percebeu que as mulheres ganham um brilho natural quando estão ovulando. O período fértil também faz com que elas notem os homens mais bonitos com uma perspicácia maior. Foi o que concluiu um grupo da Universidade do Arizona (EUA), comandado por Doug Kenrick, outro especialista no tema. Os pesquisadores americanos pediram que dezenas de mulheres olhassem fotos de homens com belezas variadas. Depois, testaram a capacidade de memorização das voluntárias e, por fim, perguntaram em que período do ciclo elas estavam. Perceberam que elas olham muito mais depressa para um homem considerado atraente quando estão ovulando. Mas isso não quer dizer que se lembrem do rosto dos bonitões mais tarde. Uma das conclusões da equipe é que a mulher, apesar de também sentir atração física, precisa de mais subsídios para fazer valer a memória. A arquiteta potiguar Larissa Marinho é um exemplo. Aos 24 anos, já definiu seu tipo ideal. Ele é moreno, alto, bonito e sensual – tal e qual o hit dos anos 80. Mas essa equação pode cair por terra a qualquer instante; basta o discurso do tal ser inconsistente. Seu lema é: “beleza atrai, conteúdo convence”. “Inteligência e bom humor são bem mais afrodisíacos que ombros largos”, diz a arquiteta. Larissa acredita na “teoria do equilíbrio”, segundo a qual um homem tem que ser um pouco de tudo. “Aquele que quer chamar a atenção só pela beleza é tão chato quanto o que só quer se mostrar superinteligente, ou rico, ou engraçado. Tudo o que é demais cansa.”
Além das ferramentas que a natureza dá, a atração física também acontece por meio dos códigos de comportamento. O jeito que uma pessoa caminha, como ela mexe nos cabelos e até como dança pode atrair mais olhares. O inglês Nick Neave, o mesmo que estudou a questão do salto alto, divulgou recentemente um estudo no qual mostra o jeito mais sexy de um homem dançar. Ele colocou 32 voluntários rebolando numa sala e depois criou avatares deles, assexuados, para apresentar para as mulheres. Os mais apreciados foram aqueles que mesclavam movimentos curtos e longos, expandindo os braços e mexendo bem o tronco, ao melhor estilo John Travolta em “Os Embalos de Sábado à Noite”. Para Neave, esses são os homens que demonstram mais autoconfiança e virilidade.
No Brasil, quem sabe dançar coladinho também ganha pontos no processo de sedução. É o caso do gerente de marketing Felipe Critis Secol, aplicado aluno de uma escola de dança paulistana. “Tinha acabado de me separar e confesso que nem sabia muito bem como voltar a conhecer mulheres”, conta. “A dança foi um caminho.” O professor André Toffani garante que grande parte dos homens que procura sua escola quer ganhar pontos com o público feminino. “É uma ferramenta pronta de sedução. Sem precisar falar nada, o homem tem argumento para abraçar, passar a mão na cintura e criar a proximidade.”
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ESTRATÉGIA
Após se separar, Felipe aprendeu a dançar para reaprender a seduzir
A ciência da atração física também revela muito sobre o ser humano. Uma das descobertas mais surpreendentes foi feita por Doug Kenrick, da Universidade do Arizona. Num experimento, ele colocou dez homens e dez mulheres vestidos com roupas iguais, que escondiam ao máximo seus corpos, e toucas na cabeça. Na touca, cada um levava um número de acordo com seu grau de “atratividade”. Sem saber qual algarismo levavam na testa, o psicólogo pedia que cada um buscasse um par com qual se identificasse mais. Ao final, percebeu que os que tinham números similares terminaram juntos – o dois com o três, o nove com o dez e assim por diante. A conclusão do pesquisador é que, mesmo no quesito beleza, a tendência é buscar alguém similar a si próprio.
O casal de modelos Rafael Leite Patrício, 29 anos, e Raquel Tolardo, 28, confirma a tese. “Como a gente circula em um meio com muita gente bonita, é até difícil achar alguém que seja superinteressante, acima da média”, diz Raquel. “E o primeiro impacto é visual, não tem jeito”, complementa Rafael. Ambos, no entanto, são a prova de que, mesmo com toda a beleza que a natureza lhes deu, são necessários outros atributos para fazer valer um relacionamento. Juntos há sete anos, começaram a namorar quando já se conheciam fazia quatro. “Primeiro ficamos amigos, só depois o cupido flechou”, conta a modelo catarinense.
Outras pistas sobre as escolhas amorosas dadas pelas pesquisas remontam aos nossos antepassados. No geral, quase todas levam à conclusão de que as artimanhas da atração física, inconscientes ou não, têm como pano de fundo o imperativo biológico. Homens olham o rosto, o cabelo e a proporção entre cintura e quadril com o intuito de achar uma parceira saudável o suficiente para parir e cuidar de seus filhos. As mulheres, por sua vez, preferem os que transpiram testosterona – altos, ombros largos e traços fortes –, em busca dos genes perfeitos para suas crias.
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“Achar que tudo é pela reprodução e evolução da espécie é uma grande bobagem”, critica o psicólogo e antropólogo Christopher Ryan, que escreveu o livro “Sex at Dawn” (Sexo ao Alvorecer) com sua mulher, Cacilda Jethá. “Isso não é científico, é moralismo.” Para o pesquisador americano, se o imperativo biológico explicasse a química da atração, não haveria casais homossexuais e nem desejo nas idades mais avançadas, quando as mulheres já não podem mais engravidar. “Os pesquisadores que focam somente nessa explicação se esquecem de uma das razões que mais movem o ser humano em relação ao outro: o prazer.” E entenda por prazer a simples descarga elétrica composta por dopamina, serotonina e outras substâncias que desaguam no corpo quando uma pessoa se sente atraída pela outra. “Somos, com os bonobos, a única espécie que faz sexo face a face, olhos nos olhos.” Ou seja, buscamos, ou deveríamos buscar, o prazer antes de tudo.
Ter em mente que a atração tem mais a ver com a busca pelo prazer do que pela reprodução é uma informação decisiva na hora de escolher parceiros. Afinal, a famosa química que nasce entre duas pessoas num primeiro encontro pode ser traiçoeira. Nesse caso, sai de cena a biologia e entra a psicologia. “O desejo é um termômetro para investir em um relacionamento”, explica o psicólogo Thiago de Almeida. “O problema é que, dependendo de como está a autoestima, a pessoa pode rebaixar seu crivo de seletividade na busca desesperada por alguém.” Para o psicólogo Ailton Amélio, da Universidade de São Paulo, autor do livro “O Mapa do Amor”, a maior prova de que a atração não leva necessariamente a uma relação são os números levantados durante pesquisas feitas com alunos e pacientes desde a década de 90. Cerca de 80% dos casais que ele entrevistou não foram formados com base no irresistível amor à primeira vista. Eles já se conheciam ou foram apresentados por alguém em comum. Resta saber quais armas esses entrevistados utilizaram para atrair seus parceiros. Afinal, nunca é demais exercer o poder de sedução. Na pior das hipóteses, será um grande prazer.
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