3.23.2011

Continuar trabalhando depois da aposentadoria faz bem



Essa estratégia ajuda a manter a saúde do cérebro, que fica menos vulnerável ao Alzheimer


Tem gente que não vê a hora de se aposentar para dar o chute inicial em um novo projeto de vida — o sonhado plano B. E há quem, apesar da baixa na carteira profissional, nem pensa em ficar na reserva. Para todos, a boa notícia é: deixar para pendurar as chuteiras mais tarde posterga a perda de memória. O estímulo para continuar pegando no batente veio de um estudo do Instituto de Psiquiatria do King’s College London, na Inglaterra.

Depois de analisar os dados de 1 320 pessoas com demência senil, os pesquisadores constataram que, mais do que o nível de educação e o tipo de trabalho, aqueles que suaram a camisa por períodos mais longos demoraram igualmente mais para apresentar os primeiros sintomas da doença. A cada ano extra de serviço, a investigação apurou seis meses de lambuja das lembranças.

As habilidades mentais exigidas para resolver as encrencas e desafios do dia a dia de uma corporação, por exemplo, ajudam a malhar o cérebro. “Como toda atividade intelectual, isso provoca maior oxigenação dos circuitos neurais, produção e liberação de neurotransmissores. E ativa as sinapses, local de contato entre os neurônios, reduzindo o risco de morte dessas células”, explica Wagner Gattaz, presidente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

É verdade que quem trabalha por mais tempo são as pessoas que se sentem melhor. “Daí vem a boa pergunta: é o trabalho que conserva a saúde ou a saúde que sustenta a força de trabalho?”, questiona Paulo Caramelli, neurologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Os estudos precisam se aprofundar para encontrar a resposta. Seja ela qual for, a ordem é prosseguir com o jogo. Mesmo que em um ritmo mais leve, até porque prazer também é fundamental. E melhor ainda: uma das novidades na prevenção do Alzheimer defendida no último Icad (International Conference on Alzheimer’s Disease), o grande congresso sobre o tema, que aconteceu em julho, em Viena, capital austríaca, foi a possibilidade de o trabalho retardar os sintomas dessa degeneração neurológica mesmo que a gente só se atente para isso aos 50 anos.

Para os que estavam de pijama sem nada mais interessante para fazer, ainda é hora de levantar do sofá e recomeçar o bate-bola. “Sabe-se que de 10 a 15% dos indivíduos se aposentam com um transtorno cognitivo leve, algo que não chega a atrapalhar sua rotina, mas já denota falhas nas recordações. Se o estilo de vida não mudar, em um ano aumenta-se o risco de desenvolver Alzheimer”, lembra Gattaz.

Acenda o raciocínio
O perigo de a demência aparecer evolui com a idade — depois dos 65 anos, dobra a cada cinco. “E diminui à medida que se incluem na rotina atividades cognitivo-intelectuais, exercícios físicos, dieta apropriada, prazer e controle dos fatores de dano vascular como hipertensão, diabete e colesterol alto”, entusiasma-se Caramelli. “A aposentadoria é uma conquista, o começo de uma nova fase. Mas cuidado: não desligue o cérebro”, alerta o especialista. Esse segundo tempo vale ouro.

E a grana? É preciso garantir o básico com a aposentadoria, ok. Então, além do INSS, o consultor financeiro Paul Lesbaupin, de São Paulo, fez um cálculo de quanto aplicar por mês na previdência privada para engordar a renda mensal vitalícia com R$ 500. Ao imaginar que a aposentadoria virá aos 55 anos, se você tem 40, poupe R$ 530 por mês durante 15 anos. Para os que estão na casa dos 45, R$ 900 por dez anos. E, para os cinquetinhas, R$ 2 025 por cinco anos. Quer dobrar a renda? Duplique a poupança.

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