O presidente americano, Barack Obama, afirmou neste domingo em discurso no Theatro Municipal, no Rio, que a transição feita pelo Brasil da ditadura para a democracia é um modelo para o mundo árabe, governado há décadas por líderes fortes mas que passa por um momento em que o povo exige mais liberdades. O líder americano disse ainda que deseja 'Fortalecer a amizade' dos EUA com o país. Leia a íntegra do discurso em português:
"Oi, Rio de Janeiro. Alô, Cidade Maravilhosa!
Boa Tarde, todo o povo brasileiro.
Desde o momento em que chegamos, o povo desta nação tem graciosamente mostrado à minha família o calor e a generosidade do espírito brasileiro.
Obrigado! E um agradecimento especial por vocês estarem aqui mesmo tendo um jogo entre Vasco e Botafogo daqui a algumas horas. Eu sei que os brasileiros não desistem facilmente de seu futebol.
Uma das primeiras referências que eu tive do Brasil foi um filme que eu vi com a minha mãe quando eu era criança, um filme chamado "Orfeu Negro", rodado em favelas do Rio durante o Carnaval. Minha mãe amou esse filme, com suas canções e danças que tinham lindos morros verdes como fundo, ele estreou em forma de uma peça bem aqui, no Teatro Municipal.
Minha mãe já se foi agora, mas ela nunca iria imaginar que a primeira viagem do filho dela ao Brasil iria ser como presidente dos Estados Unidos. E eu nunca imaginei que esse país seria ainda mais deslumbrante do que naquele filme. Vocês são, como diz a canção de Jorge Ben Jor, 'Um país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza'. Eu estou vendo essa beleza nas encostas, nas infinitas extensões de areia e oceano, e na vibrante diversidade de brasileiros que estão aqui hoje.
Nós temos cariocas e paulistas. Nós temos baianas e mineiros. Nós temos homens e mulheres de cidades do interior; e tantos jovens, que são o futuro dessa grande nação.
Ontem, eu encontrei com sua maravilhosa nova presidente, Dilma Rousseff, e conversei sobre como nós podemos estreitar a parceria entre nossos governos. Mas hoje, eu quero falar diretamente ao povo brasileiro sobre como nós podemos estreitar a amizade entre nossas nações. Eu vim para falar dos valores que nós compartilhamos, as esperanças que nós temos em comum, e as diferenças que nós podemos fazer juntos.
Nossas jornadas iniciaram de forma similar. Nossas terras são ricas por criação divina, lar de povos antigos e indígenas. Desde o além-mar, as Américas foram descobertas pelos homens que procuravam um Novo Mundo, e colonizadas por pioneiros que foram empurrados para o oeste, ao longo de vastas fronteiras. Nós nos tornamos colônias reivindicadas por coroas distantes, mas cedo declaramos nossa independência. Nós demos as boas-vindas às ondas de imigrantes em nossos países, e finalmente limpamos a mancha de escravidão de nossas terras.
Os Estados Unidos foram a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil, e a instalar uma representação diplomática nesse país. O primeiro chefe de Estado a visitar os Estados Unidos foi o líder do Brasil, Dom Pedro 2º. Na Segunda Guerra, nossos bravos homens e mulheres lutaram lado a lado pela liberdade.
Depois da Guerra, nossas nações também lutaram para alcançar plenamente a benção da liberdade. Nas ruas dos EUA, homens e mulheres marcharam e sangraram para que cada cidadão pudesse desfrutar da mesma liberdade e das mesmas oportunidades --não importando sua aparência ou origem. No Brasil, vocês lutaram por duas décadas contra ditadores pelo mesmo direito, de serem ouvidos --pelo direito de serem livres do medo e livres para querer. E ainda, durante anos, a democracia e o desenvolvimento só tomaram lugar lentamente, e milhões sofreram por isso.
Aqueles dias já passaram. O Brasil hoje é uma democracia que floresce --um lugar onde as pessoas são livres para dizer o que pensam e para escolher seus líderes; onde uma criança pobre de Pernambuco pode escalar do chão de uma siderúrgica para o cargo mais importante do Brasil.
Durante a última década, o progresso alcançado pelo povo brasileiro tem inspirado o mundo. Mais da metade dessa nação é hoje considerada classe média. Milhões vêm sendo retirados da pobreza. Pela primeira vez, a esperança está retornando a lugares onde o medo prevaleceu por muito tempo. Eu vi isso hoje, quando visitei a Cidade de Deus. Não são apenas os novos programas sociais e esforços da segurança pública que estão transformando as favelas; trata-se de uma mudança de atitude. Como disse um jovem morador, 'as pessoas não têm de olhar para as favelas com pena, mas como uma fonte de presidentes, advogados, doutores, artistas, [e] pessoas com soluções'.
A cada dia que passa, o Brasil é um país com mais soluções. Na comunidade global, vocês confiaram em outras nações para ajudar a combater a pobreza e as doenças, onde quer que elas existam.
Vocês desempenham um importante papel nas instituições globais que protegem nossa segurança comum e promovem nossa prosperidade comum. E vocês irão receber o mundo em seu litoral quando a Copa do Mundo e as Olimpíadas vierem para o Rio de Janeiro.
Você deve ter ouvido que esta cidade não era exatamente a minha primeira escolha para as Olimpíadas. Mas se os Jogos não pudessem ser realizados em minha cidade natal Chicago, não haveria lugar que gostaria de vê-lo do que aqui, na cidade do Rio de Janeiro. E pretendo voltar em 2016 para assistir.
Por muito tempo, o Brasil foi uma nação com muito potencial, mas prejudicada pela política, tanto interna quanto externa. Por muito tempo, vocês foram chamados de um país do futuro, e diziam para que esperassem por um dia melhor que estava sempre muito próximo. Meus amigos, esse dia finalmente chegou. E o Brasil não é mais o país do futuro. Para o povo brasileiro, o futuro chegou.
Nossos países nunca concordaram em todos os assuntos. E, como muitas nações, nós teremos divergências de opinião no futuro. Mas estou aqui para dizer a vocês que os americanos não apenas reconhecem o sucesso brasileiro -- nós torcemos por isso. Enquanto vocês enfrentam os muitos desafios que ainda têm pela frente em casa e fora dos seus domínios, permitam que os EUA estejam juntos - não como uma relação de parceiro experiente e iniciante, mas como parceiros em condições de igualdade, parceiros por causa de um espírito de interesse e respeito comuns, voltado para o progresso que podemos alcançar juntos.
Juntos, podemos obter avanços na nossa prosperidade comum. Como duas das maiores economias do mundo, nós trabalhamos lado a lado durante a crise financeira para restaurar o crescimento e a confiança. E para manter nossas economias crescendo, nós sabemos o que é necessários em nossas duas nações.
Nós precisamos de uma mão de obra qualificada, educada, é por isso que empresas americanas e brasileiras têm se comprometido a ajudar aumentar os intercâmbios de estudantes entre nossas nações. Nós precisamos de um compromisso com inovação e tecnologia, é por isso que concordamos em expandir a cooperação entre nossos cientistas, pesquisadores, e engenheiros. Nós precisamos de infraestrutura de primeiro nível, é por isso que empresas americanas querem ajudar vocês a construírem e prepararem esta cidade para um sucesso Olímpico.
Em uma economia global, os EUA e o Brasil deveriam expandir o comércio e o investimento de forma a criar novos empregos e oportunidades em ambas nossas nações. É por isso que estamos trabalhando para romper barreiras à realização de negócios, e é por isso que estamos construindo relações mais próximas entre nossos trabalhadores e empreendedores.
Juntos, nós podemos promover segurança em energia e proteger nosso bonito planeta. Como duas nações comprometidas com economias mais verdes, nós sabemos que a solução definitiva para nosso desafio energético está em fontes limpas, renováveis. É por isso que metade dos veículos desse país consegue rodar com biocombustíveis, e a maior parte da nossa eletricidade vem de hidrelétricas. É por isso que nós impulsionamos uma indústria de energia limpa nos EUA. E é por isso que os EUA e o Brasil estão criando novas parcerias na área de energia --para compartilhar tecnologias, criar novos empregos, e deixar para nossas crianças um mundo mais limpo e seguro do que encontramos.
Juntas, nossas duas nações podem ajudar a defender a segurança de nossos cidadãos.
Estamos trabalhando juntos para parar o tráfico de drogas que tem destruído muitas vidas neste hemisfério. Nós perseguimos o objetivo de um mundo sem armas nucleares, and estamos trabalhando juntos para aumentar a segurança nuclear em nosso hemisfério. Da África ao Haiti, estamos trabalhando lado a lado para combater a fome,a doença e a corrupção que pode estragar uma sociedade e privar seres humanos de dignidade e oportunidade. E hoje, nós estamos oferecendo assistência a apoio ao povo japonês em seu momento de maior necessidade.
Os vínculos que unem nossas nações ao Japão são fortes. No Brasil vocês abrigam a maior população japonesa fora do Japão. Nos EUA, nós formamos uma aliança de mais de 60 anos. O povo do Japão é um dos nossos amigos mais próximos, e nós vamos rezar com eles, estar ao lado deles, e reconstruir com eles até que esta crise tenha passado.
Nesse e em outros esforços para promover paz e prosperidade pelo mundo, os EUA e o Brasil são parceiros não apenas porque compartilhamos uma história e um continente; não apenas porque compartilhamos laços comerciais e culturais; mas porque compartilhamos determinados valores e ideais duradouros.
Nós acreditamos no poder e na promessa de democracia. Nós acreditamos que nenhuma outra forma de governo é mais efetiva na promoção do crescimento e da prosperidade que atinja todo ser humano. E aqueles que creem no contrário --que acreditam que a democracia impede o progresso econômico-- deve se confrontar com o exemplo do Brasil.
Os milhões neste país que saíram da pobreza para a classe média não o fizeram em uma economia fechada controlada pelo estado. Vocês estão prosperando como um povo livre com mercados abertos e um governo que atende aos seus cidadãos. Vocês estão provando que o objetivo de justiça social pode ser melhor atingido por meio da liberdade, que a democracia é o melhor parceiro do progresso humano.
Nós acreditamos também que em nações tão grandes e com tanta diversidade como as nossas, modeladas por gerações de imigrantes de todas as raças e crenças e origens, a democracia oferece a melhor esperança de que todo cidadão seja tratado com dignidade e respeito; que nós podemos resolver nossas diferenças pacificamente e encontrar forças em nossas adversidades.
Nós sabemos por experiência que nossa forma escolhida de governo pode ser lenta e desordenada; que a democracia deve ser constantemente fortalecida e aperfeiçoada ao longo do tempo. Nós sabemos que nações diferentes tomam caminhos diferentes para realizar suas promessas, e que nenhuma outra nação deve impor seu desejo a outra.
Mas nós também sabemos que existem certas aspirações compartilhadas por todos os seres humanos: Nós queremos ser livres e ouvidos. Nós ansiamos por viver sem medo ou discriminação; por escolher como somos governados e por moldar nosso próprio destino. Essas não são ideias Americanas ou Brasileiras. Não são ideias ocidentais. São direitos universais, e nós devemos apoiá-los em todos os lugares.
Hoje, nós temos visto a luta por esses direitos se desdobrar pelo Oriente Médio e o Norte da África. Nós temos visto uma revolução nascer de um anseio por dignidade humana básica na Tunísia. Nós temos visto protestos pacíficos na praça Tahir --homens e mulheres, jovens e idosos, cristãos e muçulmanos. Nós temos visto o povo da Líbia ter a coragem de se levantar contra um regime determinado a brutalizar seu próprio povo. Em toda a região, nós vimos jovens se levantando - uma nova geração exigindo o direito de definir seu próprio futuro.
Desde o começo, nós deixamos claro que as mudanças que buscavam precisavam nascer do seu próprio povo. Mas, como duas nações que vêm perseguindo a perfeição em nossas democracias ao longo das gerações, os EUA e o Brasil sabem que o futuro do Mundo Árabe será determinado por seu povo.
Ninguém pode dizer ao certo como esse levante vai terminar, mas eu sei que a mudança não é algo que devemos temer. Quando jovens insistem que a história está em movimento, o peso do passado é levado pela água. Quando homens e mulheres pacificamente pedem direitos humanos, nossa humanidade em comum sai fortalecida. Onde quer que a luz da liberdade apareça, o mundo se torna um lugar mais brilhante, mais vivo.
Esse é o exemplo do Brasil. Brasil --um país que mostra que uma ditadura pode virar uma democracia próspera. Brasil --um país que mostra que a democracia oferece liberdade e oportunidade para seu povo. Brasil --um país que mostra como um chamado por mudança que começa nas ruas pode transformar a cidade, o país e o mundo.
Décadas atrás, fora desse teatro em região próxima daqui, na Cinelândia, onde o chamado para a mudança foi ouvido no Brasil. Estudantes e artistas e líderes políticos de todos os tipos se reuniram com cartazes que diziam: 'Abaixo a ditadura. O povo no poder'. Suas aspirações democráticas não se tornaram realidade nos anos que se seguiram, mas uma das jovens brasileiras do movimento daquela geração persistiu para mudar para sempre a história desta nação.
Uma criança filha de imigrantes, sua participação no movimento a levou à cadeia, presa e torturada nas mãos do seu próprio governo. E soube o que significa viver sem os direitos humanos mais básicos, direitos pelos quais muitos estão lutando hoje em dia. Mas ela também sabe o que é perseverar. Ela sabe o que é se superar. Porque, hoje em dia, essa mulher é Dilma Rousseff, a presidente da nação.
Nossas duas nações enfrentam muitos desafios. Na estrada à frente, haverá muitos obstáculos. Mas, no final, é a nossa história que concede a esperança de um amanhã melhor. É o conhecimento de que homens e mulheres que vieram antes de nós obtiveram sucesso em desafios maiores que os de hoje --que nós vivemos em um lugar que pessoas comuns fizeram coisas extraordinárias.
É esse senso de possibilidade e otimismo que fez parte dos desbravadores do Novo Mundo. É o que faz com que nossas nações sejam parceiras no novo século. E é a razão de acreditarmos, nas palavras de Paulo Coelho, um dos seus mais famosos escritores, 'com a força do seu amor e da sua vontade, nós podemos mudar nosso destino, assim como o destino de muitos outros'.
Muito obrigado. Obrigado, e que Deus abençoe nossas nações.
"Oi, Rio de Janeiro. Alô, Cidade Maravilhosa!
Boa Tarde, todo o povo brasileiro.
Desde o momento em que chegamos, o povo desta nação tem graciosamente mostrado à minha família o calor e a generosidade do espírito brasileiro.
Obrigado! E um agradecimento especial por vocês estarem aqui mesmo tendo um jogo entre Vasco e Botafogo daqui a algumas horas. Eu sei que os brasileiros não desistem facilmente de seu futebol.
Uma das primeiras referências que eu tive do Brasil foi um filme que eu vi com a minha mãe quando eu era criança, um filme chamado "Orfeu Negro", rodado em favelas do Rio durante o Carnaval. Minha mãe amou esse filme, com suas canções e danças que tinham lindos morros verdes como fundo, ele estreou em forma de uma peça bem aqui, no Teatro Municipal.
Minha mãe já se foi agora, mas ela nunca iria imaginar que a primeira viagem do filho dela ao Brasil iria ser como presidente dos Estados Unidos. E eu nunca imaginei que esse país seria ainda mais deslumbrante do que naquele filme. Vocês são, como diz a canção de Jorge Ben Jor, 'Um país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza'. Eu estou vendo essa beleza nas encostas, nas infinitas extensões de areia e oceano, e na vibrante diversidade de brasileiros que estão aqui hoje.
Jason Reed/Reuters | ||
Barack Obama acena à plateia no Theatro Municipal do Rio antes de discuso a mais de 2.000 pessoas |
Ontem, eu encontrei com sua maravilhosa nova presidente, Dilma Rousseff, e conversei sobre como nós podemos estreitar a parceria entre nossos governos. Mas hoje, eu quero falar diretamente ao povo brasileiro sobre como nós podemos estreitar a amizade entre nossas nações. Eu vim para falar dos valores que nós compartilhamos, as esperanças que nós temos em comum, e as diferenças que nós podemos fazer juntos.
Nossas jornadas iniciaram de forma similar. Nossas terras são ricas por criação divina, lar de povos antigos e indígenas. Desde o além-mar, as Américas foram descobertas pelos homens que procuravam um Novo Mundo, e colonizadas por pioneiros que foram empurrados para o oeste, ao longo de vastas fronteiras. Nós nos tornamos colônias reivindicadas por coroas distantes, mas cedo declaramos nossa independência. Nós demos as boas-vindas às ondas de imigrantes em nossos países, e finalmente limpamos a mancha de escravidão de nossas terras.
Os Estados Unidos foram a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil, e a instalar uma representação diplomática nesse país. O primeiro chefe de Estado a visitar os Estados Unidos foi o líder do Brasil, Dom Pedro 2º. Na Segunda Guerra, nossos bravos homens e mulheres lutaram lado a lado pela liberdade.
Depois da Guerra, nossas nações também lutaram para alcançar plenamente a benção da liberdade. Nas ruas dos EUA, homens e mulheres marcharam e sangraram para que cada cidadão pudesse desfrutar da mesma liberdade e das mesmas oportunidades --não importando sua aparência ou origem. No Brasil, vocês lutaram por duas décadas contra ditadores pelo mesmo direito, de serem ouvidos --pelo direito de serem livres do medo e livres para querer. E ainda, durante anos, a democracia e o desenvolvimento só tomaram lugar lentamente, e milhões sofreram por isso.
Aqueles dias já passaram. O Brasil hoje é uma democracia que floresce --um lugar onde as pessoas são livres para dizer o que pensam e para escolher seus líderes; onde uma criança pobre de Pernambuco pode escalar do chão de uma siderúrgica para o cargo mais importante do Brasil.
Durante a última década, o progresso alcançado pelo povo brasileiro tem inspirado o mundo. Mais da metade dessa nação é hoje considerada classe média. Milhões vêm sendo retirados da pobreza. Pela primeira vez, a esperança está retornando a lugares onde o medo prevaleceu por muito tempo. Eu vi isso hoje, quando visitei a Cidade de Deus. Não são apenas os novos programas sociais e esforços da segurança pública que estão transformando as favelas; trata-se de uma mudança de atitude. Como disse um jovem morador, 'as pessoas não têm de olhar para as favelas com pena, mas como uma fonte de presidentes, advogados, doutores, artistas, [e] pessoas com soluções'.
A cada dia que passa, o Brasil é um país com mais soluções. Na comunidade global, vocês confiaram em outras nações para ajudar a combater a pobreza e as doenças, onde quer que elas existam.
Vocês desempenham um importante papel nas instituições globais que protegem nossa segurança comum e promovem nossa prosperidade comum. E vocês irão receber o mundo em seu litoral quando a Copa do Mundo e as Olimpíadas vierem para o Rio de Janeiro.
Você deve ter ouvido que esta cidade não era exatamente a minha primeira escolha para as Olimpíadas. Mas se os Jogos não pudessem ser realizados em minha cidade natal Chicago, não haveria lugar que gostaria de vê-lo do que aqui, na cidade do Rio de Janeiro. E pretendo voltar em 2016 para assistir.
Por muito tempo, o Brasil foi uma nação com muito potencial, mas prejudicada pela política, tanto interna quanto externa. Por muito tempo, vocês foram chamados de um país do futuro, e diziam para que esperassem por um dia melhor que estava sempre muito próximo. Meus amigos, esse dia finalmente chegou. E o Brasil não é mais o país do futuro. Para o povo brasileiro, o futuro chegou.
Nossos países nunca concordaram em todos os assuntos. E, como muitas nações, nós teremos divergências de opinião no futuro. Mas estou aqui para dizer a vocês que os americanos não apenas reconhecem o sucesso brasileiro -- nós torcemos por isso. Enquanto vocês enfrentam os muitos desafios que ainda têm pela frente em casa e fora dos seus domínios, permitam que os EUA estejam juntos - não como uma relação de parceiro experiente e iniciante, mas como parceiros em condições de igualdade, parceiros por causa de um espírito de interesse e respeito comuns, voltado para o progresso que podemos alcançar juntos.
Juntos, podemos obter avanços na nossa prosperidade comum. Como duas das maiores economias do mundo, nós trabalhamos lado a lado durante a crise financeira para restaurar o crescimento e a confiança. E para manter nossas economias crescendo, nós sabemos o que é necessários em nossas duas nações.
Nós precisamos de uma mão de obra qualificada, educada, é por isso que empresas americanas e brasileiras têm se comprometido a ajudar aumentar os intercâmbios de estudantes entre nossas nações. Nós precisamos de um compromisso com inovação e tecnologia, é por isso que concordamos em expandir a cooperação entre nossos cientistas, pesquisadores, e engenheiros. Nós precisamos de infraestrutura de primeiro nível, é por isso que empresas americanas querem ajudar vocês a construírem e prepararem esta cidade para um sucesso Olímpico.
Em uma economia global, os EUA e o Brasil deveriam expandir o comércio e o investimento de forma a criar novos empregos e oportunidades em ambas nossas nações. É por isso que estamos trabalhando para romper barreiras à realização de negócios, e é por isso que estamos construindo relações mais próximas entre nossos trabalhadores e empreendedores.
Juntos, nós podemos promover segurança em energia e proteger nosso bonito planeta. Como duas nações comprometidas com economias mais verdes, nós sabemos que a solução definitiva para nosso desafio energético está em fontes limpas, renováveis. É por isso que metade dos veículos desse país consegue rodar com biocombustíveis, e a maior parte da nossa eletricidade vem de hidrelétricas. É por isso que nós impulsionamos uma indústria de energia limpa nos EUA. E é por isso que os EUA e o Brasil estão criando novas parcerias na área de energia --para compartilhar tecnologias, criar novos empregos, e deixar para nossas crianças um mundo mais limpo e seguro do que encontramos.
Juntas, nossas duas nações podem ajudar a defender a segurança de nossos cidadãos.
Estamos trabalhando juntos para parar o tráfico de drogas que tem destruído muitas vidas neste hemisfério. Nós perseguimos o objetivo de um mundo sem armas nucleares, and estamos trabalhando juntos para aumentar a segurança nuclear em nosso hemisfério. Da África ao Haiti, estamos trabalhando lado a lado para combater a fome,a doença e a corrupção que pode estragar uma sociedade e privar seres humanos de dignidade e oportunidade. E hoje, nós estamos oferecendo assistência a apoio ao povo japonês em seu momento de maior necessidade.
Marcelo Sayão/Efe | ||
Barack Obama gesticula durante seu discurso no Theatro Municipal do Rio de Janeiro |
Nesse e em outros esforços para promover paz e prosperidade pelo mundo, os EUA e o Brasil são parceiros não apenas porque compartilhamos uma história e um continente; não apenas porque compartilhamos laços comerciais e culturais; mas porque compartilhamos determinados valores e ideais duradouros.
Nós acreditamos no poder e na promessa de democracia. Nós acreditamos que nenhuma outra forma de governo é mais efetiva na promoção do crescimento e da prosperidade que atinja todo ser humano. E aqueles que creem no contrário --que acreditam que a democracia impede o progresso econômico-- deve se confrontar com o exemplo do Brasil.
Os milhões neste país que saíram da pobreza para a classe média não o fizeram em uma economia fechada controlada pelo estado. Vocês estão prosperando como um povo livre com mercados abertos e um governo que atende aos seus cidadãos. Vocês estão provando que o objetivo de justiça social pode ser melhor atingido por meio da liberdade, que a democracia é o melhor parceiro do progresso humano.
Nós acreditamos também que em nações tão grandes e com tanta diversidade como as nossas, modeladas por gerações de imigrantes de todas as raças e crenças e origens, a democracia oferece a melhor esperança de que todo cidadão seja tratado com dignidade e respeito; que nós podemos resolver nossas diferenças pacificamente e encontrar forças em nossas adversidades.
Nós sabemos por experiência que nossa forma escolhida de governo pode ser lenta e desordenada; que a democracia deve ser constantemente fortalecida e aperfeiçoada ao longo do tempo. Nós sabemos que nações diferentes tomam caminhos diferentes para realizar suas promessas, e que nenhuma outra nação deve impor seu desejo a outra.
Mas nós também sabemos que existem certas aspirações compartilhadas por todos os seres humanos: Nós queremos ser livres e ouvidos. Nós ansiamos por viver sem medo ou discriminação; por escolher como somos governados e por moldar nosso próprio destino. Essas não são ideias Americanas ou Brasileiras. Não são ideias ocidentais. São direitos universais, e nós devemos apoiá-los em todos os lugares.
Hoje, nós temos visto a luta por esses direitos se desdobrar pelo Oriente Médio e o Norte da África. Nós temos visto uma revolução nascer de um anseio por dignidade humana básica na Tunísia. Nós temos visto protestos pacíficos na praça Tahir --homens e mulheres, jovens e idosos, cristãos e muçulmanos. Nós temos visto o povo da Líbia ter a coragem de se levantar contra um regime determinado a brutalizar seu próprio povo. Em toda a região, nós vimos jovens se levantando - uma nova geração exigindo o direito de definir seu próprio futuro.
Desde o começo, nós deixamos claro que as mudanças que buscavam precisavam nascer do seu próprio povo. Mas, como duas nações que vêm perseguindo a perfeição em nossas democracias ao longo das gerações, os EUA e o Brasil sabem que o futuro do Mundo Árabe será determinado por seu povo.
Ninguém pode dizer ao certo como esse levante vai terminar, mas eu sei que a mudança não é algo que devemos temer. Quando jovens insistem que a história está em movimento, o peso do passado é levado pela água. Quando homens e mulheres pacificamente pedem direitos humanos, nossa humanidade em comum sai fortalecida. Onde quer que a luz da liberdade apareça, o mundo se torna um lugar mais brilhante, mais vivo.
Esse é o exemplo do Brasil. Brasil --um país que mostra que uma ditadura pode virar uma democracia próspera. Brasil --um país que mostra que a democracia oferece liberdade e oportunidade para seu povo. Brasil --um país que mostra como um chamado por mudança que começa nas ruas pode transformar a cidade, o país e o mundo.
Décadas atrás, fora desse teatro em região próxima daqui, na Cinelândia, onde o chamado para a mudança foi ouvido no Brasil. Estudantes e artistas e líderes políticos de todos os tipos se reuniram com cartazes que diziam: 'Abaixo a ditadura. O povo no poder'. Suas aspirações democráticas não se tornaram realidade nos anos que se seguiram, mas uma das jovens brasileiras do movimento daquela geração persistiu para mudar para sempre a história desta nação.
Uma criança filha de imigrantes, sua participação no movimento a levou à cadeia, presa e torturada nas mãos do seu próprio governo. E soube o que significa viver sem os direitos humanos mais básicos, direitos pelos quais muitos estão lutando hoje em dia. Mas ela também sabe o que é perseverar. Ela sabe o que é se superar. Porque, hoje em dia, essa mulher é Dilma Rousseff, a presidente da nação.
Nossas duas nações enfrentam muitos desafios. Na estrada à frente, haverá muitos obstáculos. Mas, no final, é a nossa história que concede a esperança de um amanhã melhor. É o conhecimento de que homens e mulheres que vieram antes de nós obtiveram sucesso em desafios maiores que os de hoje --que nós vivemos em um lugar que pessoas comuns fizeram coisas extraordinárias.
É esse senso de possibilidade e otimismo que fez parte dos desbravadores do Novo Mundo. É o que faz com que nossas nações sejam parceiras no novo século. E é a razão de acreditarmos, nas palavras de Paulo Coelho, um dos seus mais famosos escritores, 'com a força do seu amor e da sua vontade, nós podemos mudar nosso destino, assim como o destino de muitos outros'.
Muito obrigado. Obrigado, e que Deus abençoe nossas nações.
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