90 gramas ou 4 colheres de sopa bem cheias de arroz integral todos os dias. Essa é a medida recomendada pelos especialistas para reduzir a gordura abdominal e afastar males como o câncer
por LÚCIA NASCIMENTO | design EDER REDDER e NATH PEREIRA | fotos ALEX SILVA
A começar pela barriga, que dá uma enxugada. Em consequência, o coração é beneficiado: células gordurosas mais murchas significam menos inflamação nas artérias e, claro, menos trabalho para fazer o sangue circular. “Sem contar que, nos últimos anos, a ciência provou que a distribuição da gordura no corpo é importante para determinar o risco cardiovascular”, explica José Renato das Neves, cardiologista do Hospital Samaritano de São Paulo. “Pessoas que nem sequer têm peso elevado, mas apresentam a adiposidade nas vísceras ou órgãos internos, apresentam um risco maior.” Junto a tantas vantagens, existe ainda a menor probabilidade de aparecimento de tumores, como o de mama.
Agora resta a pergunta: como essa casquinha, que parece tão insignificante, consegue resultados tão surpreendentes? “A resposta está no seu teor de fibras. Quanto maior seu valor, menor é a quantidade de glicose e lipídios absorvidos. Esses fatores são importantes para evitar a deposição de gordura intra-abdominal”, esclarece Rosana Radominski, endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). É que as fibras formam uma espécie de goma quando entram em contato com a água e, assim, tornam a digestão mais lenta, fazendo com que o açúcar proveniente dos alimentos seja assimilado aos poucos. Se não fosse dessa forma, aumentaria a produção de insulina, hormônio responsável por mandar a glicose para dentro das células. Só que, em excesso, ele infla os pneus da barriga e, ainda, abre caminho para o diabete.
Quem come arroz diariamente costuma se alimentar de maneira mais saudável em todas as refeições — e aí o corpo agradece com todas as suas forças. Ao analisar dados de 1999 a 2004 sobre a dieta de mais de 25 mil crianças e adultos, pesquisadores americanos constataram que nos apreciadores desse cereal não havia carência de nutrientes essenciais para o organismo, como ácido fólico, potássio e outras vitaminas do complexo B. Muito pelo contrário.
O estudo, realizado por uma empresa de consultoria alimentar, baseou-se no National Health and Nutrition Examination Survey, um levantamento feito periodicamente pelo governo dos Estados Unidos. O resultado mostrou ainda que os consumidores regulares de arroz têm menor propensão a acumular quilos extras, 34% menos risco de hipertensão e 27% menos probabilidade de aumento na circunferência abdominal. “O arroz em si, principalmente o integral, é considerado uma boa fonte de fibras alimentares, de vitaminas do complexo B e de minerais”, confirma a nutricionista Patrícia Ramos, coordenadora do Serviço de Nutrição do Hospital Bandeirantes, na capital paulista. “A longo prazo, sua ingestão diminui mesmo o risco de diversas doenças.”
Os tipos integral e parboilizado também ganham destaque pelos teores de metionina, um aminoácido essencial que evita a queda dos cabelos e hidrata pele e unhas. “Sem contar que a metionina é precursora de um neurotransmissor, a serotonina”, conta Patrícia. Essa substância é uma espécie de antidepressivo natural. O aminoácido ainda auxilia na redução do colesterol e afasta a fadiga crônica. Com tantos benefícios, é triste saber que o cereal deixou de ser o preferido dos brasileiros na hora do almoço e do jantar. Segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) divulgado no fi nal do ano passado, hoje consumimos cerca de 40% menos arroz do que no início dos anos 2000. Mas, justiça seja feita, ele merece dar a volta por cima — e retornar para a sua mesa, principalmente na versão integral, é claro. “O ideal é ingerir o alimento na maioria das refeições”, sugere a nutricionista Renata Garrido, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. “Não há uma recomendação mínima, mas o correto é substituir o branco e incluir o integral aos poucos. Mas, como esse é um hábito novo para boa parte da população, o mínimo consumido já é válido”, conclui. Bom apetite
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