12.21.2011

Malária: Vacina

Nova vacina neutralizaria toda as cepas do parasita da malária

Testes clínicos do medicamento, desenvolvido por Oxford, devem começar em três anos

LONDRES — Uma nova vacina, com potencial de neutralizar todas as cepas do parasita do gênero Plasmodium, que causa a malária, foi desenvolvida por cientistas da Universidade de Oxford. O próximo passo será fazer testes de segurança para sua utilização. Os testes em pacientes devem começar dentro de dois ou três anos.
A nova vacina confirma a importância de uma descoberta feita no mês passado por cientistas do Wellcome Trust Sanger Institute e publicada na revista “Nature”. O trabalho mostrou que a forma mais letal do protozoário causador da malária, o Plasmodium falciparum, depende de que um único receptor, conhecido como “basigin”, esteja na superficie das células vermelhas do sangue para invadi-las. O parasita liga uma proteína — o antígeno RH5 — ao receptor, com o objetivo de “destravar” a entrada. Uma vez no interior da célula, ele cresce e se replica, causando a doença. A nova vacina, segundo divulgado pela revista “Nature Communications”, induz o desenvolvimento de um anticorpo capaz de eliminar todas as cepas testadas do Plasmodium falciparum, responsável por nove em cada dez mortes por malária. Ela foi desenvolvida por uma equipe de cientistas do Instituto Jenner, da Universidade de Oxford, em parceria com o Wellcome Trust Sanger Institute e com o Instituto de Pesquisa Médica do Quênia.
— Nossa descoberta inicial, relatada no mês passado, foi inesperada, e mudou completamente o modo de entender como o parasita da malária invade as células vermelhas do sangue — diz Gavin Wright, do Wellcome Trust Sanger Institute, e coautor dos dois estudos. — Ela revelou que o calcanhar de Aquiles do parasita está na forma como ele entra nas células, e nos forneceu um novo alvo no desenvolvimento de vacinas.
De acordo com o “World Malaria Report 2010”, a malária matou cerca de 781 mil pessoas em 2009, principalmente crianças pequenas e mulheres grávidas. Ela é causada por parasitas introduzidos na corrente sanguínea por mosquitos infectados. Apesar dos esforços feitos em várias partes do mundo para desenvolver um imunizante eficaz, ainda não existem vacinas aprovadas contra a doença. Uma das mais promissoras está em desenvolvimento na África, e é conhecida como RTS,S. Os primeiros testes clínicos indicam que ela é capaz de proteger metade das pessoas vacinadas contra a malária, mas alguns cientistas acreditam que é preciso desenvolver outra mais eficaz.
Os antígenos do parasita da malária são geneticamente muito diversos, uma vez que eles são forçados a se modificar para estar sempre à frente do sistema imunológico e evitar que os anticorpos o reconheçam. É isso que torna tão difícil desenvolver vacinas contra a doença. O RH5, porém, parece ter pouca variação genética. Os pesquisadores acreditam que isso ocorre porque, mesmo as pessoas que foram expostas à malária tenham níveis baixos ou não detectáveis de anticorpos contra este antígeno especificamente, o que faz com que ele não precise evoluir muito para se proteger.
— Criamos uma vacina que confirma a recente descoberta relacionada à biologia do RH5, o que pode gerar uma resposta imune capaz de neutralizar muitas, e, potencialmente, todas as cepas do parasita Plasmodium falciparum, o mais mortífero. Este é um passo importante para desenvolver uma vacina contra um dos grandes assassinos do mundo — disse Sandy Douglas, da Universidade de Oxford, principal autor do estudo.
O Globo

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