Protetoras acolhem animais abandonados às vésperas do Natal
Índice de abandono cresce 70% com proximidade das férias, aponta ONG.
Cães são encontrados amarrados em árvores, doentes e desnutridos.
Cães abandonados são geralmente resgatados
desnutridos e após maus-tratos (Foto:Raul Zito/G1)
A proximidade das férias escolares e a possibilidade de festejar o Natal e o Ano Novo viajando faz crescer significativamente o índice de abandono de animais domésticos no país. Segundo a ONG Arca Brasil, cresce cerca de 70% o abandono de animais à medida em que chega o final do ano - em comparação com os meses anteriores.desnutridos e após maus-tratos (Foto:Raul Zito/G1)
O número alarmante faz parte da realidade de quem cuida durante todo o ano de cães deixados por seus donos pelas ruas. Os animais, em geral doentes e desnutridos, são acolhidos nas casas das chamadas "protetoras", que muitas vezes passam por dificuldades, mas dividem o que têm para tornar a vida desses bichinhos um pouco melhor.
A protetora Telma de Cássia Pereira, 56 anos, se dedica a cuidar de cães abandonados há 32 anos. Hoje em sua casa no Riacho Grande, em São Paulo, são mais de 60 animais que foram abandonados e recolhidos após denúncias de maus-tratos e casos de atropelamento. “Muitos foram encontrados amarrados em árvores, em portões, ou doentes, desnutridos. É uma situação muito triste”, conta.
Telma, que é auxiliar de enfermagem aposentada, sobrevive com as doações que recebe para cuidar dos seus animais. Aos sábados, é possível encontrá-la em frente a uma loja de artigos para animais na Avenida Ricardo Jafet, em São Paulo, pedindo doações que vão de ração a sabão em pó, para ajudar na higiene do canil que mantém no quintal.
“Eu não era muito chegada a cachorros até que um dia uma cadelinha cheia de pulgas apareceu na empresa em que eu trabalhava e decidi acolher. Desde então, mudei a minha vida para tentar tornar a vida desses bichinhos melhor”, diz.
Além de cuidar dos animais, Telma realiza um trabalho de castração de animais de rua em parceria com a Prefeitura de São Bernardo do Campo e alimenta cães abandonados, perto de onde mora, que não podem ser acolhidos em sua casa. “Eu não tenho mais espaço para receber nenhum cachorro. E infelizmente nesta época do ano em que o povo quer viajar, muitos são abandonados. Como não tenho como acolher, saio distribuindo comida sempre que possível.” Só entre novembro e dezembro, mais de 50 cães foram deixados na região onde Telma mora. Em meses ao longo do ano, esse número não costuma passar de 20, segundo relata a protetora.
Protetora Telma cuida de mais de 60 animais, e se dedica a cães abandonados há mais de 20 anos (Foto: Raul Zito/G1)
Solicitações sobre abandonoNeste ano, pela primeira vez, a ONG Arca Brasil decidiu quantificar a percepção que já era evidente em anos anteriores: o aumento de abandono de cães com a proximidade das festas de fim de ano. De acordo com levantamento feito pela entidade, com base em solicitações recebidas por email e por telefone, o abandono de animais domésticos cresceu cerca de 70% nos últimos dias com relação aos demais meses do ano.
“É um número impressionante. E certamente isso se deve à proximidade das férias e das festas de fim de ano. É importante frisar que o gesto de adotar e conviver com o animal tem que ser um compromisso como o que se assume com um membro da família. Hoje em dia existem muitos hotéis, pet shops e até famílias que recebem animais para cuidar durante viagens de famílias, então não é necessário abandonar. Além disso, o abandono é crime”, afirma Marco Ciampi, fundador e presidente da ARCA Brasil.
A ONG recebe denúncias de todo o Brasil, mas não atua no recolhimento de animais abandonados. O trabalho da Arca Brasil é voltado à orientação e intermediação em caso de relatos de abandono e maus-tratos.
Abandono de cães cresce com proximidade das
férias de fim de ano (Foto: Raul Zito/G1)
Sem doaçõesférias de fim de ano (Foto: Raul Zito/G1)
A protetora Clotilde Angelo de Souza, 65 anos, também dedica grande parte do seu tempo ao cuidado de seus mais de 130 cachorros e 60 gatos recolhidos do abandono. Ao contrário de Telma, no entanto, Clotilde sustenta os animais com seus próprios rendimentos.
"A vida de uma protetora é muito dramática. Se eu dependesse de doações, grande parte dos meus animais já teria morrido. O maior problema que enfrentamos é que as pessoas aparecem com um saco de ração para doar, mas deixam em nossa porta diversos cachorros. Muitos acham que a doação dá direito ao abandono. E com a proximidade do fim do ano a situação fica ainda pior", diz a protetora.
Clotilde cuida de seus animais em uma chácara com cerca de 3 mil metros quadrados, comprada por ela após a venda de uma confecção de cortinas com que trabalhava. Além do cuidado dos animais abandonados e doentes, a protetora também batalha pela castração dos bichinhos.
"É um trabalho intenso, que não se resume ao cuidado no dia a dia. Lutamos pela castração desses animais e para que eles sejam também adotados. Todos os sábados levo meus cães castrados para uma feira de adoção, mas as famílias não costumam querer pets adultos e a demora para a castração de filhotes causa ainda mais problemas", conta.
Para poder viajar, donos deixam cães e gatos em hotéis em MG
Em Uberaba e Uberlândia, reservas estão quase esgotadas.
'A separação é difícil, mas necessária', diz dona de três gatos siameses.
Paula Virgínia de Oliveira tem hotel em Uberaba
(Foto: Luiz Vieira/G1)
As festas de fim de ano movimentam não só as vendas no comércio com as compras de presentes, mas também outros setores como o de hotelaria. Sim, isso é fato. Mas em Uberaba e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, tem gente que lucra com outro tipo de hospedagem no fim de ano: são os hotéis para animais.(Foto: Luiz Vieira/G1)
Empresários destas cidades criaram a opção depois que perceberam que algumas pessoas não tinham com quem deixar os bichinhos de estimação para viajar. Nas duas cidades, as reservas estão praticamente lotadas para o Natal e o Ano Novo. E esta movimentação nos pet shops deve continuar até o Carnaval, quando a procura pelo serviço também é grande.
Em Uberaba, Paula Virgínia de Oliveira tem um pet shop onde também funciona um hotel para cães. A empresária comemora o bom momento do setor. Segundo a veterinária, na última segunda-feira (19) as vagas para hospedagem do Natal já estavam 90% preenchidas. “Eu montei uma tabela e nela tem os meses de dezembro e de janeiro com as reservas já programadas. Estou com meus canis na semana do Natal e do Ano Novo 90% ocupados faltando pouco menos de uma semana para o Natal. E eu gosto sempre de deixar uma margem de dias a mais para os clientes, pois se o dono decidir ficar no local onde está por mais alguns dias, ele tem esta opção”, explicou.
O hotel para cães conta com oito canis, cada um com capacidade para receber quatro animais de um mesmo dono. As diárias podem variar conforme a quantidade de dias e o número de animais. “O serviço inclui apenas o valor da diária. E é o dono que precisa aplicar algum remédio para proteger o animal de carrapato e pulga. Para receber os animais existem algumas restrições como, por exemplo: não aceitamos animais bravos e fêmeas no cio porque pode acontecer algum acidente, então evitamos”, comentou a veterinária.
E os donos dos animais, além da hospedagem, precisam tomar conta da alimentação. Segundo Paula Virgínia, a medida serve para evitar que os bichos sofram algum desgaste, já que estão acostumados com certo tipo de ração dentro de casa ou até mesmo com alimentos oferecidos pelo dono. Além disso, é preciso atenção, pois tanto cães quanto gatos sentem a mudança de local e a ausência dos donos.
Para Karla de Almeida, a separação é difícil mas
necessária (Foto: Andréia Candido/G1)
Para a dona dos gatos siameses Chico, Beethoven e Zé, a autônoma Karla de Almeida Borges, a experiência de se separar deles é difícil, mas necessária. Ela que já teve que recorrer ao serviço por outras duas vezes e afirmou que os animais ficam mais seguros, mas sentem falta dos donos. “Já deixei eles em um hotel para gatos por duas vezes, foram bem tratados, mas quando voltamos estavam diferentes, parece que se sentiam estranhos em casa. Aí foi um período de readaptação deles com a casa”, contou.necessária (Foto: Andréia Candido/G1)
Karla de Almeida vai viajar este fim de ano e novamente precisou recorrer aos serviços de hospedagem de um pet shop. Mas as reservas foram feitas com antecedência, já que segundo ela, hotel para gatos é um serviço raro de se encontrar na cidade de Uberlândia. “Quando o assunto são os gatos é difícil encontrar um local para mantê-los. Então fiz a reserva antecipadamente. Antes, quando não tinha hotel eu pagava uma pessoa para olhar o meu trio de siameses lá em casa. E como viajar levando-os junto é complicado, esta foi a melhor opção, já que vou ficar quase uma semana fora”, concluiu.
Marina oferece hospedagem para gatos em
Uberlândia (Foto: Hismênia Keller/G1)
A empresária de Uberlândia, Marina Aparecida Franco, é uma das que oferece hospedagem para gatos na cidade. Ela administra uma clínica veterinária onde funciona um hotel com estrutura para atender cães e gatos. São três gatis e dez canis. Conforme a empresária, a proporção de vagas para gatos é ligada à procura pelo serviço, mas a de cães é mais comum.Uberlândia (Foto: Hismênia Keller/G1)
“A hospedagem de gatos pode ser um pouco mais complicada. São animais que gostam de passear e precisam de espaço. Além disso, precisam ficar em local fechado ou podem fugir, o que exige mais atenção. No caso dos gatos, os donos precisam trazer a caixa de areia, a alimentação deles e o animal precisa ser dócil. As reservas para cães e gatos aqui estão completas até o dia 23 de janeiro. Será um período movimentado”, finalizou a empresária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário