- Em 2011, gente no mundo todo entrou em coma, famílias foram destruídas e pessoas ficaram deficientes, porque alguém falava ao celular, dirigindo ou atravessando a rua.
- Em 2011, vários carros ficaram amassados, pessoas discutiram e brigaram no trânsito e muitos veículos sofreram perda total, porque alguém falava ao celular.
- Em 2011, crianças foram atropeladas, saíram machucadas e velhinhos entraram em coma. Porque alguém falava ao celular.
- Em 2011, esteja certo, que animais morreram, outros sofreram e equipamentos públicos foram destruídos, porque alguém falava ao celular.
Ninguém sabe ao certo qual o grau de envolvimento dos celulares nas estatísticas de acidentes de trânsito porque ninguém, infelizmente, faz esse controle. E quem confessa? Depois da tragédia consumada, o culpado vai lá dizer assim “é que eu estava no telefone…”?
Mas há uma fórmula perigosa em gestação: há cada vez mais veículos circulando e mais celulares sendo usados. São pessoas armadas de carros e telefones inseridas numa rotina de urgência. Eu tenho que adiantar meus telefonemas agora antes de chegar no trabalho. Eu tenho que marcar minhas consultas enquanto o trânsito está parado. Eu tenho que avisar em casa que vou demorar por causa desse acidente. E assim vamos todos, embarcando nas nossas incontestáveis e individuais necessidades, justificando o que está errado. Conheço essa cilada porque também sou vítima dela.
O maior risco que o celular representa para a saúde pública reside nessas estatísticas pouco precisas, sobre as vítimas da combinação carros + celulares. Todo mundo tem uma história para contar. Se não tiver, olhe para o lado, ande de táxi. Até os profissionais atendem o telefone enquanto dirigem.
Há duas semanas, dois queridos amigos foram vítimas de um desatento ao celular. O passageiro de 85 anos está em coma induzido, num quadro grave com lenta evolução. Não viu o bisneto nascer dois dias depois.
O genro, que estava ao volante quando teve o carro abalroado violentamente na lateral, está muito machucado, magoado, traumatizado e triste. Vítimas de acidentes de trânsito, mesmo não sendo culpadas, ficam revendo a história na própria mente em busca do milagre que poderiam ter produzido a fim de evitar a batida. Um exercício dolorido e inútil do qual só irão se livrar com a benevolência do tempo.
Uma família exposta à tragédia, porque um irresponsável distraído falava no celular enquanto dirigia. Ao saber que perdera a entrada do sítio que procurava, parou imediatamente no acostamento sem dar seta e seguiu a ordem de quem estava do outro lado da linha. Volte! Ele voltou na hora e bateu. Tão incapaz de perceber a parcela de culpa, e protegido por uma legislação ineficiente, contou para a polícia o que fez para voltar a rodar impunemente pelas ruas. Nem bronca do guarda levou.
Por sorte, se é que se pode chamar isso de sorte, o carro atingido não pegou um caminhão ou um ônibus de frente na pista contrária. Pegou um poste, e dele saiu despedaçado. E agora estamos nós agradecendo pelo milagre de a vida ter resistido a isso.
Em 2012, não atenda o celular enquanto dirige ou atravessa a rua. Se for urgente, pare. Seja responsável. Tragédias acontecem numa fração de segundos.
Isabel Clemente
Revista Época
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