Poderão ser usados para combater doenças negligenciadas, como esquistossomose e mal de Chagas
Pesquisa em parceria entre universidade e empresa já resultou no depósito de duas patentes de fármacos para o combate a essas doenças, que afetam mais de 20 milhões de brasileiros.A bioprospecção de plantas para uso como protótipos de novos medicamentos ganha espaço no desenvolvimento de fármacos destinados ao tratamento das chamadas doenças negligenciadas, como a esquistossomose e o mal de Chagas, que, ainda hoje, causam graves problemas de saúde pública no Brasil.
Em uma pesquisa contemplada dentro do Programa Fapesp de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica – PITE, pesquisadores da Universidade de Franca (Unifran), no Interior de São Paulo, buscam o desenvolvimento de novos medicamentos para combater essas doenças com base na etnofarmacologia, disciplina que estuda os efeitos práticos de plantas em relação a doenças.
Para chegar a esses medicamentos, os pesquisadores utilizaram lignanas (compostos químicos que protegem o sistema cardiovascular) provenientes das sementes da Piper cubeba, espécie de pimenta originária da Índia, normalmente consumida como condimento alimentar. A planta apresenta dois constituintes majoritários, a cubenina, com ação esquistossomicida, que impede a postura de ovos do parasita Schistosoma mansoni no organismo humano, e a hinoquinina, que combate o Tripanossoma cruzi, causador do mal de Chagas.
A pesquisa, feita em parceria com a JP Indústria Farmacêutica, de Ribeirão Preto (SP), gerou duas patentes, depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A vantagem dos novos remédios para o combate a essas doenças é que os medicamentos atualmente disponíveis apresentam limitações de uso, devido aos efeitos colaterais e à ação tóxica que causam no organismo, sendo inclusive contra-indicados nos casos mais graves.
Segundo o estudo conduzido na Unifran, estima-se que 300 milhões de pessoas em 76 países estejam contaminadas por vermes do gênero Schistosoma, incluindo o Schistosoma mansoni, um dos três agentes que provocam a esquistossomose e comum no Brasil, onde vivem 14 milhões de infectados. No País, aponta a pesquisa, também estão seis milhões dos quase 20 milhões de indivíduos no mundo contaminados pelo Tripanossoma cruzi. Logo, percebe-se que essas moléstias devem ser alvo de permanente combate, pois afeta de modo recorrente um imenso contingente de brasileiros, em diferentes regiões.
De acordo com Márcio Luís Andrade e Silva, coordenador da pesquisa na Unifran, a demanda para tratamento dessas doenças gera um grande potencial para o desenvolvimento de medicamentos no País, incluindo aqueles provenientes de princípios ativos de plantas medicinais, responsáveis por 40% dos remédios atualmente disponíveis no mercado, que têm origem natural ou foram obtidos com base em protótipos naturais. “Embora ainda seja preciso importar as sementes e melhorar a tecnologia de síntese das proteínas, já desenvolvemos uma formulação farmacêutica injetável, que permite maior biodisponibilidade do princípio ativo, resultando em dois medicamentos, com pedidos de patentes depositados no Brasil, Estados Unidos , Europa e Japão”.
Segundo o pesquisador, o fármaco para o tratamento de Chagas, já obtido em escala piloto, consistirá em uma dose única, cujos testes em laboratório apontaram para uma redução de praticamente 100% do parasita. Também está sendo testada uma formulação desenvolvida com base em nanotecnologia, cuja molécula vai atuar em todas as fases da doença a partir de dosagens a cada 90 dias, quando necessário. “Até meados de 2012 serão iniciados os testes pré-clínicos, com testes clínicos previstos para 2013. A expectativa é de que o medicamento esteja pronto para chegar ao mercado em 2014”, estima.
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