Ajuda humanitária depende cada vez menos dos mais ricos
Colaboração e doações do Brasil e outros países emergentes são essenciais, principalmente no momento atual, em que se vive uma 'crise sem precedentes'
Cecília Araújo
Sobreviventes das enchentes tentam subir em helicóptero do exército que distribuía comida em Lal Pir, Paquistão (Arif Ali/AFP)
"O lado positivo é que cada vez mais o humanitarismo se torna realmente universal, não apenas visto como um produto dos países desenvolvidos do Ocidente."
Michael Barnett, professor da Elliott School of International Affairs
Michael Barnett, professor da Elliott School of International Affairs
Confira, no infográfico abaixo, os países mais afetados pela crise humanitária:
s Para Unni Karunakara, a própria noção de humanitarismo foi alterada: hoje, não importa onde as pessoas vivem, todas têm o mesmo direito a ajuda médica de boa qualidade. "Não adianta apenas conseguir medicamentos e se deslocar aos países em situação de crise. É preciso saber lidar com a falta de estrutura e com os pacientes", destaca. O crescimento do processo de migração em todo o mundo também influencia nessa transformação, além das mudanças climáticas, que fazem com que algumas doenças alcancem lugares antes inimagináveis. "Em Genebra, por exemplo, estamos com um surto de Doença de Chagas", conta. E todas essas mudanças vêm se desenhando há pelo menos 100 anos, período no qual a ajuda humanitária evoluiu significativamente: o que se resumia a iniciativas impulsionadas pela possibilidade de conversão, como o movimento missionário no século XIX, ganhou dimensão internacional.
"A religião deixou de ser o critério, e todos os necessitados passaram a ser visados, especialmente por motivos políticos", explica Michael Barnett, professor da Elliott School of International Affairs, integrada à Universidade George Washington. E à medida que o enfoque religioso se enfraquecia, o papel dos estados e das organizações governamentais ganhava relevância. Antes, os governantes não passavam tanto tempo manejando suas finanças para o humanitarismo, como fazem atualmente. Os missionários eram protegidos pelos militares, mas quase todo o dinheiro vinha da Igreja. "Hoje, mais ou menos 70% da ajuda humanitária vêm de governos. Está crescentemente ligada aos estados e cada vez mais política", observa Barnett.
Nos EUA, campanhas como 'Crianças contra a Fome' são como publicidade
Países emergentes - E quando deixa de ser função apenas das grandes potências, as mais atingidas pela recessão mundial, abre-se espaço para o envolvimento de países que estão ganhando cada vez importância na economia. É a vez dos países emergentes, como Índia e China, destacarem-se também nas questões humanitárias. Além do Brasil, claro, que este ano fez a maior doação de alimentos de sua história: 710.000 toneladas, inicialmente, segundo um relatório da Coordenação-Geral das Ações Internacionais de Combate à Fome (CGFOME), do Ministério das Relações Exteriores. "O que impulsionou a crescente ajuda de países emergentes foi o aumento da cooperação. O Brasil está olhando para fora do país, ajudando outros em situação pior, criando novas parcerias e projetos. O foco da política externa brasileira é cooperação técnica, em especial a de reaplicar em outros lugares projetos que deram certo aqui", diz Tyler Fainstat, diretor-executivo da Médicos Sem Fronteiras no Brasil.
Como fazer uma doação
Médico Sem Fronteiras (www.msf.org.br)Cadastro - O primeiro passo é se cadastrar no site da instituição ou pelo telefone (21) 2215-8688, e se tornar Doador Sem Fronteiras.
Valores - Depois, é preciso escolher a forma de contribuição. Os possíveis valores (superiores a 10 reais) são associados ao tratamento que é possível ser feito com aquela quantia: com 30 reais, por exemplo, é possível ajudar uma criança com menos de 5 anos a cada mês.
Repasse - Após a transferência, o dinheiro doado vai para um fundo geral da MSF, que será repassado aos projetos de maior necessidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário