2.19.2012

Fatores culturais e falta de informação são alguns dos motivos que levam à preferência nacional pelo parto com data marcada

Preocupação com sexualidade afasta brasileira do parto normal

SABINE RIGHETTI
.  Hoje, o Brasil é um dos recordistas mundiais em partos cesáreos. Em 2010, o número de nascimento cirúrgicos chegou a 52%, passando os partos normais.  A preocupação com a quantidade de cirurgias no nascimento é tanta que o Ministério da Saúde vai fazer uma pesquisa com 24 mil mulheres para entender o que leva à escolha da cirurgia com data marcada para dar à luz.  O trabalho vai verificar qual indicação médica e os motivos que levaram a mulher a escolher um determinado tipo de parto --normal, cesáreo ou até em casa.  A hipótese é que fatores culturais contam muito nesse tipo de decisão.  "A mulher brasileira se preocupa com a sexualidade e teme que o parto altere o períneo, o que é é um mito", diz Vera Fonseca, diretora da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e do Conselho Federal de Medicina.  MEDO DA DOR  O medo da dor também afasta a mulher do parto normal. "Temos uma imagem de parto normal como se vê no cinema, com dor e sofrimento. Isso afasta as mulheres da opção natural", analisa a historiadora da ciência Germana Barata, da Unicamp.  De acordo com a ginecologista da USP, Sonia Penteado, alguma mulheres até tentam enfrentar a dor do parto, mas não aguentam.  "Já tive pacientes que chegaram a ter dilatação completa no parto, mas não toleraram a dor e pediram para que fosse feita a cesárea", conta.  Esse tipo de intervenção é possível no sistema privado. "No público, a mulher tem de aguentar a dor porque faltam cirurgiões", diz Penteado.  Por isso, a quantidade de partos cesáreos no SUS gira em torno de 37% dos nascimentos. Na rede privada, o número sobe para 82%.  DECISÃO DO MÉDICO  Mas, além da cultura, a opinião dos médicos também conta --e muito-- na decisão.  "Nunca chegou uma paciente no meu consultório dizendo 'quero cesárea e pronto'", diz Penteado.  Segundo ela, a maioria das mulheres decide com seu médico o tipo de parto.  Ela recomenda parto normal a suas pacientes desde que não existam fatores de riscos, como hipertensão. Hoje, a doença é a principal causa de morte de mulheres no parto no Brasil (na Europa e nos EUA é a hemorragia).  Para Fonseca, muitos médicos incentivam a cesárea por receio de falta de leitos, inclusive na rede privada.  O Brasil tem 0,28 leitos para cada mil usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) --o que, de acordo com o Ministério de Saúde, atende a demanda. Mas países desenvolvidos têm o dobro disso.  "Se a paciente entra em trabalho de parto de maneira inesperada, corre risco de não ter vaga. Isso dá insegurança para o médico."

Fatores culturais e falta de informação são alguns dos motivos que levam à preferência nacional pelo parto com data marcada.
Hoje, o Brasil é um dos recordistas mundiais em partos cesáreos. Em 2010, o número de nascimento cirúrgicos chegou a 52%, passando os partos normais.
A preocupação com a quantidade de cirurgias no nascimento é tanta que o Ministério da Saúde vai fazer uma pesquisa com 24 mil mulheres para entender o que leva à escolha da cirurgia com data marcada para dar à luz.
O trabalho vai verificar qual indicação médica e os motivos que levaram a mulher a escolher um determinado tipo de parto --normal, cesáreo ou até em casa.
A hipótese é que fatores culturais contam muito nesse tipo de decisão.
"A mulher brasileira se preocupa com a sexualidade e teme que o parto altere o períneo, o que é é um mito", diz Vera Fonseca, diretora da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e do Conselho Federal de Medicina.
MEDO DA DOR
O medo da dor também afasta a mulher do parto normal. "Temos uma imagem de parto normal como se vê no cinema, com dor e sofrimento. Isso afasta as mulheres da opção natural", analisa a historiadora da ciência Germana Barata, da Unicamp.
De acordo com a ginecologista da USP, Sonia Penteado, alguma mulheres até tentam enfrentar a dor do parto, mas não aguentam.
"Já tive pacientes que chegaram a ter dilatação completa no parto, mas não toleraram a dor e pediram para que fosse feita a cesárea", conta.
Esse tipo de intervenção é possível no sistema privado. "No público, a mulher tem de aguentar a dor porque faltam cirurgiões", diz Penteado.
Por isso, a quantidade de partos cesáreos no SUS gira em torno de 37% dos nascimentos. Na rede privada, o número sobe para 82%.
DECISÃO DO MÉDICO
Mas, além da cultura, a opinião dos médicos também conta --e muito-- na decisão.
"Nunca chegou uma paciente no meu consultório dizendo 'quero cesárea e pronto'", diz Penteado.
Segundo ela, a maioria das mulheres decide com seu médico o tipo de parto.
Ela recomenda parto normal a suas pacientes desde que não existam fatores de riscos, como hipertensão. Hoje, a doença é a principal causa de morte de mulheres no parto no Brasil (na Europa e nos EUA é a hemorragia).
Para Fonseca, muitos médicos incentivam a cesárea por receio de falta de leitos, inclusive na rede privada.
O Brasil tem 0,28 leitos para cada mil usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) --o que, de acordo com o Ministério de Saúde, atende a demanda. Mas países desenvolvidos têm o dobro disso.
"Se a paciente entra em trabalho de parto de maneira inesperada, corre risco de não ter vaga. Isso dá insegurança para o médico."

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