Mídia e internet
28.05.2012 10:47
O
conceito da “primavera” foi adotado para descrever países ou
comunidades em que a Internet entrou quebrando barreiras de silêncio.
Nos países de regime ditatorial, a “primavera” significou romper o
controle estatal sobre a informação. Mas em muitos países democráticos,
significou romper cortinas de silêncio impostas pela chamada velha mídia
– os grandes meios de comunicação nacionais.
Nos Estados Unidos, a blogosfera ajudou a romper o sigilo em torno
das guerras do Iraque e Afeganistão. Na Espanha, antes mesmo da explosão
da Internet, os sistemas de SMS (torpedos) telefônicos ajudaram a
desarmar a tentativa de grandes grupos midiáticos de atribuir um
atentado à oposição.
Na Argentina, há um conflito latente entre o governo Cristina
Kirchner e os grandes grupos midiáticos. No momento, passeatas tomam as
ruas da cidade do México, contra a imprensa local.
No Brasil, em pelo menos três episódios exemplares a blogosfera foi fundamental para romper barreiras de silêncio.
O primeiro foi na Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Capitaneados pela revista Veja, a chamada grande mídia se esmerou em
demonizar os agentes públicos, vitimizar o banqueiro Daniel Dantas e
transformar Gilmar Mendes no maior presidente da história do STF
(Supremo Tribunal Federal).
Apenas a blogosfera preocupou-se em mostrar o outro lado, o das investigações.
O episódio terminou com o Opportunity se safando junto à Justiça.
Mas, no campo da opinião pública, poder judiciário, ministros que se
aliaram ao banqueiro, o próprio banqueiro e Gilmar Mendes saíram
amplamente derrotados. O episódio mostrou os limites da grande mídia
para construir ou destruir reputações.
Várias armações foram denunciadas pela blogosfera, como o caso do
falso grampo no STF, o grampo sem áudio da suposta conversa entre
Demóstenes Torres e Gilmar Mendes, a lista falsa de equipamentos da ABIN
(Agência Brasileira de Inteligência) brandida pelo então Ministro da
Justiça Nelson Jobim.
O segundo episódio relevante foi a promoção do livro “A Privataria
Tucana”, com indícios de enriquecimento pessoal do ex-governador José
Serra. Apesar de totalmente ignorado pela velha mídia, o livro bateu
todos os recordes de vendas do ano.
Agora, tem-se o caso do envolvimento da revista Veja com o bicheiro
Carlinhos Cachoeira. Foram quase dez anos de parceria, que transformaram
o bicheiro no mais poderoso contraventor da república.
Graças às reportagens de Veja, o senador Demóstenes Torres tornou-se
símbolo da retidão na política. Com o poder conquistado, participou de
inúmeros lobbies em favor de Cachoeira e de avalista das denúncias mais
extravagantes da revista.
Veja sempre soube das ligações de Demóstenes com Cachoeira. Mas por
quase dez anos enganou seus leitores, não só escondendo essa relação,
como difundindo a ideia de que Demóstenes era político inatacável.
Na velha mídia, não há uma linha sobre essas manobras, nada sobre as
47 conversas gravadas entre o diretor da revista em Brasília e
Cachoeira, as quase 200 dele com todos os membros da quadrilha.
Assim como no Egito, Estados Unidos, Espanha, México, França, é a Internet que está explodindo cortinas de silêncio.
Luiz Nacif
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