Desenvolvimento de germicidas anti-HIV e vacinas contra gripe são exemplos de produtos em teste no Brasil e nos Estados Unidos
Na unidade de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa, Elibio
Rech coordena mais do que pesquisas de produtos transgênicos para a
agricultura, e até a prevenção da Aids está na pauta. Árduo defensor dos
transgênicos, Rech acredita que a medicina pode se beneficiar muito da
biogenética, por reduzir os custos e tempo de fabricação de remédios.
Ele diz que este é um caminho sem volta.
A Embrapa tem uma pesquisa de prevenção da Aids a partir de transgênicos. Em que estágio está?
Está muito avançada. Em alguns tipos de algas foram descobertas moléculas que inibem a replicação do HIV. Hoje temos essas proteínas sendo produzidas no nosso laboratório, na soja; na Europa, em arroz e milho; nos Estados Unidos, em tabaco. Elas seriam usadas por mulheres como um gel microbicida antes do ato sexual. São muito importantes para a África, onde há países com mais de 60% das mulheres com HIV.
Ele não tem efeito no homem?
Não. O objetivo principal deste estudo foi para as mulheres, porque muitas africanas não têm opção da utilização de preservativos pelos parceiros. Então, com isto, elas decidiriam.
Qual é a viabilidade da pesquisa?
Durante o processo de avanço tecnológico, existem dois grandes desafios: o principal é saber fazer a engenharia; e depois, é tornar isto economicamente viável. Agora estamos neste ponto. É uma iniciativa de um consórcio entre países, que conta com o apoio dos governos brasileiro, americano e inglês.
Faltam recursos para produção em larga escala?
O Brasil tem investido em Ciência e Tecnologia. São alguns bilhões, uma percentagem de 1 a 1,7 do PIB. Não é um valor pequeno, inclusive comparado a países desenvolvidos. A nossa diferença é que o investimento do setor privado é insipiente. E não existe possibilidade de, com o custo das pesquisas atualmente, chegarmos ao desenvolvimento de produtos se não houver uma participação maior do setor privado.
Por que o senhor acha que o setor privado não se mobiliza, já que os produtos poderiam trazer ganho para a própria indústria?
Não existe uma cultura de investimento em ciência nas empresas.
A Embrapa está sob o Ministério da Agricultura, e em geral, o foco do órgão é esse. A linha farmacêutica seria um novo viés?
Continuamos na área de alimentos. Esta pesquisa é uma expansão natural da utilização de plantas, até então limitadas ao consumo humano e animal, a outros setores de produção. A Embrapa não estará envolvida no desenvolvimento de produtos farmacêuticos. Nós temos uma semente de soja produzindo uma molécula contra HIV, já fizemos uma parte. Os testes de HIV são feitos na UFRJ e nos EUA. A pesquisa de fronteira hoje demanda um relacionamento interinstitucional.
Como a biogenética poderá beneficiar a saúde?
Poderá reduzir o custo de produção. Esperamos ser capazes de produzir moléculas, inclusive que já estão no mercado, como o hormônio de crescimento humano, até 40% mais baratas. Isto possibilita acesso de uma maior camada da população. Na farmácia, ele custa R$ 4 mil por mês. A base da medicina do futuro terá como fundamento o uso de moléculas transgênicas. Reduzir o custo destas moléculas será um objetivo das indústrias.
A Lei de Biossegurança, que trata dos transgênicos no Brasil, é de 1995. Ela atende aos avanços atuais?
Nossa legislação é boa. Foi muito bem equacionada e atende perfeitamente à segurança alimentar e ambiental dos produtos desenvolvidos.
Com início de pesquisas na década de 1960, os transgênicos hoje ainda são polêmicos em setores da sociedade. Como o senhor lida com isto?
Não há polêmica. Existem segmentos que insistem em levantar e continuar discutindo este ponto, que deve obviamente ser discutido. Mas estes produtos são consumidos há 15 anos, e não existe evidência de qualquer malefício à saúde humana, ambiental ou animal. Existem reivindicações de segmentos, mas não evidência.
Uma das preocupações é que se trata de um método relativamente novo e que não há um longo prazo para avaliar seus prejuízos ou benefícios.
Não vamos ter nunca. Nada que façamos vai estar totalmente imune.
Mas como a ciência então pode garantir a segurança de transgênicos?
Isto se garante por ensaios e avaliações. Mas o que significa segurança num cenário em que nenhum alimento que você comeu hoje no almoço é natural? Absolutamente todos eles são produtos da tecnologia. O arroz, o feijão, a carne, todos os vegetais. Não vai existir nunca a possibilidade de garantir efeito zero, de nada. Mas nós podemos reduzi-los.
Em que ponto chegamos com o desenvolvimento de transgênicos?
A um bom ponto. Nos anos 60, acreditávamos que queríamos ir até onde estamos hoje. Temos o domínio da biologia sintética, o que vai acelerar o desenvolvimento de numerosos produtos com benefícios para a sociedade. E um ponto importante é que os transgênicos têm a premissa de que todo e qualquer produto desenvolvido a partir de hoje tenha embutida a redução de emissões de CO2 na atmosfera.
Como o senhor vê para os próximos anos o potencial da biogenética?
É uma tecnologia que chegou para solucionar vários problemas sérios. Estive num congresso internacional onde foi apresentada uma célula sintética. Para se ter ideia, se aparecer hoje um vírus mortal da gripe, nós precisamos de 35 dias para produzir uma vacina. Com a célula sintética, dá para produzir em sete, e o objetivo é chegar a um. Você acha que isto tem volta? Se aparecer uma epidemia que pode matar milhões de pessoas, vamos esperar 35 dias, tendo uma técnica mais rápida? Isso é uma ilusão.
A Embrapa tem uma pesquisa de prevenção da Aids a partir de transgênicos. Em que estágio está?
Está muito avançada. Em alguns tipos de algas foram descobertas moléculas que inibem a replicação do HIV. Hoje temos essas proteínas sendo produzidas no nosso laboratório, na soja; na Europa, em arroz e milho; nos Estados Unidos, em tabaco. Elas seriam usadas por mulheres como um gel microbicida antes do ato sexual. São muito importantes para a África, onde há países com mais de 60% das mulheres com HIV.
Ele não tem efeito no homem?
Não. O objetivo principal deste estudo foi para as mulheres, porque muitas africanas não têm opção da utilização de preservativos pelos parceiros. Então, com isto, elas decidiriam.
Qual é a viabilidade da pesquisa?
Durante o processo de avanço tecnológico, existem dois grandes desafios: o principal é saber fazer a engenharia; e depois, é tornar isto economicamente viável. Agora estamos neste ponto. É uma iniciativa de um consórcio entre países, que conta com o apoio dos governos brasileiro, americano e inglês.
Faltam recursos para produção em larga escala?
O Brasil tem investido em Ciência e Tecnologia. São alguns bilhões, uma percentagem de 1 a 1,7 do PIB. Não é um valor pequeno, inclusive comparado a países desenvolvidos. A nossa diferença é que o investimento do setor privado é insipiente. E não existe possibilidade de, com o custo das pesquisas atualmente, chegarmos ao desenvolvimento de produtos se não houver uma participação maior do setor privado.
Por que o senhor acha que o setor privado não se mobiliza, já que os produtos poderiam trazer ganho para a própria indústria?
Não existe uma cultura de investimento em ciência nas empresas.
A Embrapa está sob o Ministério da Agricultura, e em geral, o foco do órgão é esse. A linha farmacêutica seria um novo viés?
Continuamos na área de alimentos. Esta pesquisa é uma expansão natural da utilização de plantas, até então limitadas ao consumo humano e animal, a outros setores de produção. A Embrapa não estará envolvida no desenvolvimento de produtos farmacêuticos. Nós temos uma semente de soja produzindo uma molécula contra HIV, já fizemos uma parte. Os testes de HIV são feitos na UFRJ e nos EUA. A pesquisa de fronteira hoje demanda um relacionamento interinstitucional.
Como a biogenética poderá beneficiar a saúde?
Poderá reduzir o custo de produção. Esperamos ser capazes de produzir moléculas, inclusive que já estão no mercado, como o hormônio de crescimento humano, até 40% mais baratas. Isto possibilita acesso de uma maior camada da população. Na farmácia, ele custa R$ 4 mil por mês. A base da medicina do futuro terá como fundamento o uso de moléculas transgênicas. Reduzir o custo destas moléculas será um objetivo das indústrias.
A Lei de Biossegurança, que trata dos transgênicos no Brasil, é de 1995. Ela atende aos avanços atuais?
Nossa legislação é boa. Foi muito bem equacionada e atende perfeitamente à segurança alimentar e ambiental dos produtos desenvolvidos.
Com início de pesquisas na década de 1960, os transgênicos hoje ainda são polêmicos em setores da sociedade. Como o senhor lida com isto?
Não há polêmica. Existem segmentos que insistem em levantar e continuar discutindo este ponto, que deve obviamente ser discutido. Mas estes produtos são consumidos há 15 anos, e não existe evidência de qualquer malefício à saúde humana, ambiental ou animal. Existem reivindicações de segmentos, mas não evidência.
Uma das preocupações é que se trata de um método relativamente novo e que não há um longo prazo para avaliar seus prejuízos ou benefícios.
Não vamos ter nunca. Nada que façamos vai estar totalmente imune.
Mas como a ciência então pode garantir a segurança de transgênicos?
Isto se garante por ensaios e avaliações. Mas o que significa segurança num cenário em que nenhum alimento que você comeu hoje no almoço é natural? Absolutamente todos eles são produtos da tecnologia. O arroz, o feijão, a carne, todos os vegetais. Não vai existir nunca a possibilidade de garantir efeito zero, de nada. Mas nós podemos reduzi-los.
Em que ponto chegamos com o desenvolvimento de transgênicos?
A um bom ponto. Nos anos 60, acreditávamos que queríamos ir até onde estamos hoje. Temos o domínio da biologia sintética, o que vai acelerar o desenvolvimento de numerosos produtos com benefícios para a sociedade. E um ponto importante é que os transgênicos têm a premissa de que todo e qualquer produto desenvolvido a partir de hoje tenha embutida a redução de emissões de CO2 na atmosfera.
Como o senhor vê para os próximos anos o potencial da biogenética?
É uma tecnologia que chegou para solucionar vários problemas sérios. Estive num congresso internacional onde foi apresentada uma célula sintética. Para se ter ideia, se aparecer hoje um vírus mortal da gripe, nós precisamos de 35 dias para produzir uma vacina. Com a célula sintética, dá para produzir em sete, e o objetivo é chegar a um. Você acha que isto tem volta? Se aparecer uma epidemia que pode matar milhões de pessoas, vamos esperar 35 dias, tendo uma técnica mais rápida? Isso é uma ilusão.
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