Exames e medicamentos individualizadas minimizam os efeitos colaterais e aumentam eficácia no tratamento de tumores
Flávia Milhorance
RIO - Os números de câncer crescem progressivamente. Estimam-se 27
milhões de novos casos em 2030, contra 12 milhões em 2008, segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS). Numa velocidade talvez até maior,
também avançam as terapias contra a doença. Equipamentos de radioterapia
atingem precisamente os tumores, e as chamadas terapias alvo atacam
apenas as moléculas das células cancerosas. Ao final, menos efeitos
colaterais e maior eficácia. Os métodos de ponta foram o tema da edição
deste mês dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar.
O evento, realizado na quarta-feira na Casa do Saber O GLOBO, foi mediado pela editora de Ciência e Saúde do jornal, Ana Lucia Azevedo, e coordenado pelo cardiologista Cláudio Domênico, que iniciou o debate com projeções:
- Será o câncer no futuro uma doença curável? Será uma doença crônica, como temos visto com o câncer de próstata? Ou controlável? É uma doença que tem múltiplos comportamentos e vai ter múltiplos desfechos.
Domênico lembra que a compreensão sobre o câncer avançou bastante nas últimas décadas. Nos anos 1940, sabia-se que as células cancerosas proliferavam além do limite, invadindo tecidos e podendo atingir vasos sanguíneos, levando à chamada metástase. Mas não se sabia por que uma célula normal se tornava cancerosa.
Hoje o câncer já é entendido como doença genética. Ou seja, é causado por alterações no DNA da célula, que se multiplica descontroladamente. A quimioterapia, ou droga citotóxica, atua exatamente sobre as células que proliferam muito depressa, malignas ou não. Este é o motivo para a queda de cabelo, por exemplo.
Grupo de várias doenças
O conhecimento sobre a doença avançou a tal ponto que é possível identificar vários tipos e subtipos de tumores. Um dos tipos de câncer de pulmão, por exemplo, é o adenocarcinoma, que pode ser dividido ainda em mais dez subtipos, com diferenças moleculares muito específicas. Por isso, a ciência buscou drogas direcionadas especialmente para estas alterações. Em vez de ser um medicamento genérico como a quimioterapia, que atua sobre qualquer célula que se multiplica rapidamente, atua sobre alterações moleculares específicas daquele determinado tipo de câncer.
- Isto representou a segunda onda da terapia oncológica que a gente viveu principalmente na década passada, em que não há mais um único tipo de medicamento, mas vários. Ainda assim, não era possível identificar o paciente candidato às drogas - explica o oncologista Carlos Gil Ferreira, do Grupo COI e do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que apresentou a chamada terceira onda tecnológica e mais nova classe de terapias contra o câncer.
Trata-se do diagnóstico molecular, em que técnicas identificam, num grupo de pacientes, aqueles com alterações moleculares nas quais drogas específicas oferecem o melhor efeito.
- Pelo casamento destas duas tecnologias, eu tenho uma droga direcionada ao alvo e o teste de diagnóstico que identifica o paciente candidato àquela droga. Assim, a gente evolui de droga alvo para terapia alvo. Cada paciente recebe o tratamento mais individual possível - conclui Carlos Gil.
O mesmo conceito pode ser aplicado à radioterapia. Antes, pacientes recebiam altas doses de radiação em grandes partes do corpo, o que trazia efeitos adversos. Até os profissionais que operavam as máquinas desconheciam o risco de se expor aos raios. As técnicas e equipamentos foram avançando no sentido de diminuir a toxicidade e diminuir a área a receber a radiação, como explica a radioterapeuta Lisa Morikawa, do COI.
- É possível planejar a dose de radiação onde há necessidade, não importa o formato do tumor, mesmo que ele seja complexo. É um tratamento personalizado. Para cada paciente, há um plano diferente - afirma Lisa.
Alguns testes e equipamentos como estes já estão disponíveis no Brasil, mas há desafios, como por exemplo o treinamento de profissionais e, principalmente, o custo para ampliar o uso dessa nova tecnologia.
- Infelizmente, falta de mão de obra especializada e os remédios personalizados são excessivamente caros, e isto limita o acesso - ressalta Carlos Gil. - Se há pacientes que não têm acesso nem mesmo a uma mamografia, quanto mais a um diagnóstico molecular.
O evento, realizado na quarta-feira na Casa do Saber O GLOBO, foi mediado pela editora de Ciência e Saúde do jornal, Ana Lucia Azevedo, e coordenado pelo cardiologista Cláudio Domênico, que iniciou o debate com projeções:
- Será o câncer no futuro uma doença curável? Será uma doença crônica, como temos visto com o câncer de próstata? Ou controlável? É uma doença que tem múltiplos comportamentos e vai ter múltiplos desfechos.
Domênico lembra que a compreensão sobre o câncer avançou bastante nas últimas décadas. Nos anos 1940, sabia-se que as células cancerosas proliferavam além do limite, invadindo tecidos e podendo atingir vasos sanguíneos, levando à chamada metástase. Mas não se sabia por que uma célula normal se tornava cancerosa.
Hoje o câncer já é entendido como doença genética. Ou seja, é causado por alterações no DNA da célula, que se multiplica descontroladamente. A quimioterapia, ou droga citotóxica, atua exatamente sobre as células que proliferam muito depressa, malignas ou não. Este é o motivo para a queda de cabelo, por exemplo.
Grupo de várias doenças
O conhecimento sobre a doença avançou a tal ponto que é possível identificar vários tipos e subtipos de tumores. Um dos tipos de câncer de pulmão, por exemplo, é o adenocarcinoma, que pode ser dividido ainda em mais dez subtipos, com diferenças moleculares muito específicas. Por isso, a ciência buscou drogas direcionadas especialmente para estas alterações. Em vez de ser um medicamento genérico como a quimioterapia, que atua sobre qualquer célula que se multiplica rapidamente, atua sobre alterações moleculares específicas daquele determinado tipo de câncer.
- Isto representou a segunda onda da terapia oncológica que a gente viveu principalmente na década passada, em que não há mais um único tipo de medicamento, mas vários. Ainda assim, não era possível identificar o paciente candidato às drogas - explica o oncologista Carlos Gil Ferreira, do Grupo COI e do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que apresentou a chamada terceira onda tecnológica e mais nova classe de terapias contra o câncer.
Trata-se do diagnóstico molecular, em que técnicas identificam, num grupo de pacientes, aqueles com alterações moleculares nas quais drogas específicas oferecem o melhor efeito.
- Pelo casamento destas duas tecnologias, eu tenho uma droga direcionada ao alvo e o teste de diagnóstico que identifica o paciente candidato àquela droga. Assim, a gente evolui de droga alvo para terapia alvo. Cada paciente recebe o tratamento mais individual possível - conclui Carlos Gil.
O mesmo conceito pode ser aplicado à radioterapia. Antes, pacientes recebiam altas doses de radiação em grandes partes do corpo, o que trazia efeitos adversos. Até os profissionais que operavam as máquinas desconheciam o risco de se expor aos raios. As técnicas e equipamentos foram avançando no sentido de diminuir a toxicidade e diminuir a área a receber a radiação, como explica a radioterapeuta Lisa Morikawa, do COI.
- É possível planejar a dose de radiação onde há necessidade, não importa o formato do tumor, mesmo que ele seja complexo. É um tratamento personalizado. Para cada paciente, há um plano diferente - afirma Lisa.
Alguns testes e equipamentos como estes já estão disponíveis no Brasil, mas há desafios, como por exemplo o treinamento de profissionais e, principalmente, o custo para ampliar o uso dessa nova tecnologia.
- Infelizmente, falta de mão de obra especializada e os remédios personalizados são excessivamente caros, e isto limita o acesso - ressalta Carlos Gil. - Se há pacientes que não têm acesso nem mesmo a uma mamografia, quanto mais a um diagnóstico molecular.
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