- Pesquisa on-line coloca em evidência irritação da ala feminina com o que os machos veem como um esporte nacional
Barbara Marcolini
Luiza Barros
RIO - A manhã estava quente, e a bela moça passava pela Rua do
Ouvidor, no Centro do Rio. Com vassoura em punho, mas atento às beldades
que lhe cruzavam o caminho, o gari não hesitou: “Morena, pra você eu
daria todo o meu vale-transporte!”. A divertida cena aconteceu há alguns
anos com a então rainha de bateria da Mangueira, Tânia Bisteka, que na
verdade é mulata. Com um longo histórico de cantadas ouvidas na rua, a
carioca garante que esta foi a melhor que já recebeu.
— Achei incrível porque ele soube usar os artifícios dele. E uma cantada dessas de um gari é um grande elogio, porque, afinal, ele fica o dia inteiro vendo mulher passar, então entende do assunto — conta Bisteka, que, na ocasião, parou de caminhar para agradecer o elogio, diante de um galanteador paralisado pela surpresa embutida na resposta.
Característica dos brasileiros, como o samba ou o futebol, cantadas como essa muitas vezes causam estresse e aborrecimentos, no lugar de satisfação ou alegria. Na verdade, quase sempre. Segundo a pesquisa nacional on-line “Chega de fiu fiu”, a maioria das mulheres não aprova a abordagem. Entre as 7.762 mulheres que responderam ao questionário, 83% não gostam de ouvir cantadas. Ainda segundo a amostragem, 81% das mulheres já deixaram de passar por algum lugar por medo de serem abordadas, e 90% já trocaram de roupa antes de sair de casa para evitar alguma provocação.
As precauções revelam-se incipientes, diante da paixão com que os marmanjos se entregam ao esporte nacional da cantada. Eles, aliás, costumam se esconder atrás de eufemismos, como chamar de “galanteio” a palavrinha cheia de veneno para a moça bonita que vem e que passa. Elas se ofendem — e, no império do politicamente correto, enxergam um jogo de dominação pelo sexo oposto.
Nem tudo é baixaria, e alguns gracejos acabam consagrados pelo noticiário. O caso mais recente foi protagonizado por Fred, o artilheiro do Fluminense e da seleção que, ao encontrar uma morena exuberante numa avenida de Belo Horizonte, caprichou na finalização:
— O que você faz, além de sucesso? — mandou, como prova o vídeo que se transformou num hit instantâneo da internet.
Seja qual for o tom, cantada pode?
Autora da pesquisa, a jornalista Karin Hueck acredita que o resultado serve para demonstrar que, por trás de uma cantada na rua, mesmo que aparentemente inocente, sempre há o risco de assédio. Em depoimentos feitos ao fim da aferição, mulheres adultas e adolescentes narraram diversos casos de cantadas obscenas e até agressões físicas.
— As cantadas da forma que a pesquisa apresenta, quando é um desconhecido no meio da rua, em uma via pública, de uma pessoa que não deu abertura para isso, podem ser uma agressão, sim, por mais que seja só um “fiu fiu”. Quando a mulher responde, a maioria dos homens chama de vagabunda para baixo. Então não é algo inofensivo — opina a jornalista, dizendo que a resposta masculina negativa em relação ao assunto começou com a enquete ainda no ar. — Alguns homens começaram a xingar. Eles acham que a gente está querendo tolher a liberdade deles, sendo que é o oposto, eles é que cortam a nossa quando fazem isso (cantadas na rua).
Para a antropóloga Mírian Goldenberg, esse tipo de campanha reflete uma mudança profunda em curso na sociedade brasileira. Ela explica que, tradicionalmente, as brasileiras estão acostumadas a receber elogios em relação a sua beleza desde muito jovens, e esses elogios costumavam representar uma espécie de reconhecimento.
— O momento que a gente vive, e talvez essa pesquisa retrate, é de uma certa transição de uma lógica em que o valor e a visibilidade da mulher estavam atrelados ao corpo, para uma lógica em que os valores femininos estão ligados a outros capitais: a personalidade, a inteligência, a atitude — explica Mírian. — Uma coisa que a mulher brasileira gosta é de se sentir única. A cantada te padroniza, te torna igual a todas as mulheres. O “fiu fiu” faz você se sentir igual a todas as outras.
Nada como a prática para superar a teoria. Dona de um corpo escultural e um rosto de modelo, a dançarina Elaine Ribeiro foi a nossa convidada para um passeio pela Saara, centro de comércio popular no Rio de Janeiro. Com seu 1,74m (turbinado por sapatos salto 12) e 61 quilos, de short e blusa decotada, a moça — ex-rainha de bateria da Porto da Pedra — atraiu a atenção de quase todos os muitos homens (e de algumas mulheres) que se aproximaram. Houve os que ficaram hipnotizados, observando longamente, sem constrangimento, cada detalhe da anatomia impecável da mulata. Para comprovar que homem, além de abusado, é bobo, poucos tiveram coragem de arriscar um gracejo.
Mas Elaine está acostumada a receber cantadas por onde passa. Só detesta ouvir a clássica “queria uma dessas lá em casa”, justamente por se sentir objeto.
— Por acaso eu sou eletrodoméstico pro cara me querer em casa? Sou geladeira? — indaga aos homens.
A cobiça masculina já causou problemas para a dançarina até com outras mulheres. Elaine conta que, certa vez, após ouvir uma gracinha de um malandro acompanhado, teve de se entender com a mulher dele.
— Ela veio dizer que eu não deveria me vestir daquele jeito, porque chamava muita atenção dos homens — conta, recusando-se a aceitar a ideia de criminalização da vítima. — Respondi que ela deveria tomar conta da criatura a seu lado.
Profundo conhecedor do universo feminino, o escritor Marcelo Rubens Paiva acredita que a discussão chegou em boa hora. Autor da peça que deu origem à comédia “E aí, comeu?”, ele entende que o assédio nas ruas é um problema enfrentado diariamente pela maioria das mulheres, brasileiras ou não, e admite sentir certa “vergonha alheia” pelos machões.
— Só o fato de a mulher ter festejado o vagão de metrô separado já mostra o quanto essa é uma questão importante. A brasileira está encurralada o tempo todo. Concordo com aquelas que reclamam. Você está na sua, aí vem um motoboy e buzina, um caminhoneiro faz uma grosseria... Deve ser insuportável — opina o escritor, acrescentando que esse tipo de abordagem só surte efeitos negativos. — Uma troca de olhares é a cantada mais eficiente que existe.
Apesar de concordar que um elogio dito na hora e no local errados pode ser incômodo ou até ameaçador, o jornalista Xico Sá admite soltar os seus por aí, quase instintivamente. Para ele, a diferença entre uma cantada ingênua e um assédio estão em como o elogio é dito, e dispara: não há um homem sequer que jamais tenha suspirado um “gostosa” ou sinônimo ao ver uma bela mulher passar.
— Tem uma comoção que arrasta um “gostosa”. Hoje mesmo, já disse uns 40 gostosas pra dentro. Tem hora em que você não se aguenta e fala, mas não pode fazer daquilo uma arma — pondera o jornalista, que se surpreendeu com a lista de elogios elencada pela pesquisa “Chega de fiu fiu”. — O que mais me chamou atenção naquela lista foi o “Nossa Senhora”, que é a coisa mais católica do mundo. Mas é claro que tudo depende da forma como o elogio é dito. A gente está falando do cara que te fala aquilo num beco qualquer da cidade, de uma forma muito incisiva mesmo.
No quesito eficácia, homens e mulheres concordam: as cantadas de rua raramente surtem efeito positivo. São, na verdade, uma simples expressão de masculinidade — geralmente na frente de outros homens — e de poder sobre o sexo oposto.
— Esse homem que canta de forma agressiva é um frustrado que desconta na mulher por saber que é mais forte, que não vai haver reação — sugere Marcelo.
— É um amostramento de homem para homem — atesta Xico.
Criador do site Papo de Homem, voltado para o universo masculino, o publicitário Guilherme Nascimento Valadares vai mais longe e diz que a cantada é o “sintoma de um mal profundo”. O mal, no caso, é a objetificação da mulher.
— O que faz com que homens se sintam impelidos a chamar uma mulher de gostosa no meio da rua é uma noção de abuso em relação ao feminino. Se isso é OK por um lado cultural, talvez seja um problema cultural — diz Guilherme, que enxerga a insegurança como principal fator por trás de investidas agressivas.
Gerente de uma loja de lingerie na Saara, Mario Luiz Oliveira é testemunha ocular do que as mulheres sofrem nas ruas. Casado, o comerciante jura de pés juntos que não canta ninguém, mas admite ser adepto do ditado “olhar não tira pedaço”.
— Tem muito homem que fica aqui falando besteira para as mulheres que passam. Uma vez, teve um garoto que chamou de gostosa uma mulher que estava toda de amarelo. Ela respondeu: “Por acaso você me confundiu com uma banana?”
Ainda que a maioria garanta não cair nas investidas, humor e sorte podem fazer a felicidade dos galanteadores de plantão. A funkeira Renata Frisson, mais conhecida como Mulher Melão, fala de um relacionamento que nasceu numa investida de rua.
— O cara parou o carro quando eu estava passeando com meu cachorro, e mandou aquela bem manjada: “Posso saber o telefone do cachorrinho?”. Ele era um gato e estava num carro importado, não tinha como não dar o telefone, né?
Coordenadora do Núcleo de Estudos de Desigualdades e Relações de Gênero (Nuderg) da Uerj, a cientista social Clara Araújo também acha que não é o caso de iniciar uma repressão à cantada de rua. Para ela, o quadro pode ser invertido à medida que as mulheres se sintam à vontade para também abordar os homens ou manifestar sua insatisfação com eles.
— Há uma característica predominantemente machista, mas não podemos dizer que toda cantada é uma agressão, senão começaremos a cercear toda e qualquer iniciativa. O ideal não seria uma proibição que nos levaria a uma cultura saxã, em que não existe essa troca de afeto. Proibir a cantada seria uma contenção artificial. Precisamos da afirmação do respeito mútuo — sugere.
Mesmo Bisteka, alvo da cantada certeira que abre esta reportagem, admite que o galanteio é um “antídoto para a baixa estima”, mas há limites.
— Está bem deselegante ultimamente. Já foi melhor. Antes tinha mais sutileza, era mais uma piada. Hoje está muito vulgar.
— Achei incrível porque ele soube usar os artifícios dele. E uma cantada dessas de um gari é um grande elogio, porque, afinal, ele fica o dia inteiro vendo mulher passar, então entende do assunto — conta Bisteka, que, na ocasião, parou de caminhar para agradecer o elogio, diante de um galanteador paralisado pela surpresa embutida na resposta.
Característica dos brasileiros, como o samba ou o futebol, cantadas como essa muitas vezes causam estresse e aborrecimentos, no lugar de satisfação ou alegria. Na verdade, quase sempre. Segundo a pesquisa nacional on-line “Chega de fiu fiu”, a maioria das mulheres não aprova a abordagem. Entre as 7.762 mulheres que responderam ao questionário, 83% não gostam de ouvir cantadas. Ainda segundo a amostragem, 81% das mulheres já deixaram de passar por algum lugar por medo de serem abordadas, e 90% já trocaram de roupa antes de sair de casa para evitar alguma provocação.
As precauções revelam-se incipientes, diante da paixão com que os marmanjos se entregam ao esporte nacional da cantada. Eles, aliás, costumam se esconder atrás de eufemismos, como chamar de “galanteio” a palavrinha cheia de veneno para a moça bonita que vem e que passa. Elas se ofendem — e, no império do politicamente correto, enxergam um jogo de dominação pelo sexo oposto.
Nem tudo é baixaria, e alguns gracejos acabam consagrados pelo noticiário. O caso mais recente foi protagonizado por Fred, o artilheiro do Fluminense e da seleção que, ao encontrar uma morena exuberante numa avenida de Belo Horizonte, caprichou na finalização:
— O que você faz, além de sucesso? — mandou, como prova o vídeo que se transformou num hit instantâneo da internet.
Seja qual for o tom, cantada pode?
Autora da pesquisa, a jornalista Karin Hueck acredita que o resultado serve para demonstrar que, por trás de uma cantada na rua, mesmo que aparentemente inocente, sempre há o risco de assédio. Em depoimentos feitos ao fim da aferição, mulheres adultas e adolescentes narraram diversos casos de cantadas obscenas e até agressões físicas.
— As cantadas da forma que a pesquisa apresenta, quando é um desconhecido no meio da rua, em uma via pública, de uma pessoa que não deu abertura para isso, podem ser uma agressão, sim, por mais que seja só um “fiu fiu”. Quando a mulher responde, a maioria dos homens chama de vagabunda para baixo. Então não é algo inofensivo — opina a jornalista, dizendo que a resposta masculina negativa em relação ao assunto começou com a enquete ainda no ar. — Alguns homens começaram a xingar. Eles acham que a gente está querendo tolher a liberdade deles, sendo que é o oposto, eles é que cortam a nossa quando fazem isso (cantadas na rua).
Para a antropóloga Mírian Goldenberg, esse tipo de campanha reflete uma mudança profunda em curso na sociedade brasileira. Ela explica que, tradicionalmente, as brasileiras estão acostumadas a receber elogios em relação a sua beleza desde muito jovens, e esses elogios costumavam representar uma espécie de reconhecimento.
— O momento que a gente vive, e talvez essa pesquisa retrate, é de uma certa transição de uma lógica em que o valor e a visibilidade da mulher estavam atrelados ao corpo, para uma lógica em que os valores femininos estão ligados a outros capitais: a personalidade, a inteligência, a atitude — explica Mírian. — Uma coisa que a mulher brasileira gosta é de se sentir única. A cantada te padroniza, te torna igual a todas as mulheres. O “fiu fiu” faz você se sentir igual a todas as outras.
Nada como a prática para superar a teoria. Dona de um corpo escultural e um rosto de modelo, a dançarina Elaine Ribeiro foi a nossa convidada para um passeio pela Saara, centro de comércio popular no Rio de Janeiro. Com seu 1,74m (turbinado por sapatos salto 12) e 61 quilos, de short e blusa decotada, a moça — ex-rainha de bateria da Porto da Pedra — atraiu a atenção de quase todos os muitos homens (e de algumas mulheres) que se aproximaram. Houve os que ficaram hipnotizados, observando longamente, sem constrangimento, cada detalhe da anatomia impecável da mulata. Para comprovar que homem, além de abusado, é bobo, poucos tiveram coragem de arriscar um gracejo.
Mas Elaine está acostumada a receber cantadas por onde passa. Só detesta ouvir a clássica “queria uma dessas lá em casa”, justamente por se sentir objeto.
— Por acaso eu sou eletrodoméstico pro cara me querer em casa? Sou geladeira? — indaga aos homens.
A cobiça masculina já causou problemas para a dançarina até com outras mulheres. Elaine conta que, certa vez, após ouvir uma gracinha de um malandro acompanhado, teve de se entender com a mulher dele.
— Ela veio dizer que eu não deveria me vestir daquele jeito, porque chamava muita atenção dos homens — conta, recusando-se a aceitar a ideia de criminalização da vítima. — Respondi que ela deveria tomar conta da criatura a seu lado.
Profundo conhecedor do universo feminino, o escritor Marcelo Rubens Paiva acredita que a discussão chegou em boa hora. Autor da peça que deu origem à comédia “E aí, comeu?”, ele entende que o assédio nas ruas é um problema enfrentado diariamente pela maioria das mulheres, brasileiras ou não, e admite sentir certa “vergonha alheia” pelos machões.
— Só o fato de a mulher ter festejado o vagão de metrô separado já mostra o quanto essa é uma questão importante. A brasileira está encurralada o tempo todo. Concordo com aquelas que reclamam. Você está na sua, aí vem um motoboy e buzina, um caminhoneiro faz uma grosseria... Deve ser insuportável — opina o escritor, acrescentando que esse tipo de abordagem só surte efeitos negativos. — Uma troca de olhares é a cantada mais eficiente que existe.
Apesar de concordar que um elogio dito na hora e no local errados pode ser incômodo ou até ameaçador, o jornalista Xico Sá admite soltar os seus por aí, quase instintivamente. Para ele, a diferença entre uma cantada ingênua e um assédio estão em como o elogio é dito, e dispara: não há um homem sequer que jamais tenha suspirado um “gostosa” ou sinônimo ao ver uma bela mulher passar.
— Tem uma comoção que arrasta um “gostosa”. Hoje mesmo, já disse uns 40 gostosas pra dentro. Tem hora em que você não se aguenta e fala, mas não pode fazer daquilo uma arma — pondera o jornalista, que se surpreendeu com a lista de elogios elencada pela pesquisa “Chega de fiu fiu”. — O que mais me chamou atenção naquela lista foi o “Nossa Senhora”, que é a coisa mais católica do mundo. Mas é claro que tudo depende da forma como o elogio é dito. A gente está falando do cara que te fala aquilo num beco qualquer da cidade, de uma forma muito incisiva mesmo.
No quesito eficácia, homens e mulheres concordam: as cantadas de rua raramente surtem efeito positivo. São, na verdade, uma simples expressão de masculinidade — geralmente na frente de outros homens — e de poder sobre o sexo oposto.
— Esse homem que canta de forma agressiva é um frustrado que desconta na mulher por saber que é mais forte, que não vai haver reação — sugere Marcelo.
— É um amostramento de homem para homem — atesta Xico.
Criador do site Papo de Homem, voltado para o universo masculino, o publicitário Guilherme Nascimento Valadares vai mais longe e diz que a cantada é o “sintoma de um mal profundo”. O mal, no caso, é a objetificação da mulher.
— O que faz com que homens se sintam impelidos a chamar uma mulher de gostosa no meio da rua é uma noção de abuso em relação ao feminino. Se isso é OK por um lado cultural, talvez seja um problema cultural — diz Guilherme, que enxerga a insegurança como principal fator por trás de investidas agressivas.
Gerente de uma loja de lingerie na Saara, Mario Luiz Oliveira é testemunha ocular do que as mulheres sofrem nas ruas. Casado, o comerciante jura de pés juntos que não canta ninguém, mas admite ser adepto do ditado “olhar não tira pedaço”.
— Tem muito homem que fica aqui falando besteira para as mulheres que passam. Uma vez, teve um garoto que chamou de gostosa uma mulher que estava toda de amarelo. Ela respondeu: “Por acaso você me confundiu com uma banana?”
Ainda que a maioria garanta não cair nas investidas, humor e sorte podem fazer a felicidade dos galanteadores de plantão. A funkeira Renata Frisson, mais conhecida como Mulher Melão, fala de um relacionamento que nasceu numa investida de rua.
— O cara parou o carro quando eu estava passeando com meu cachorro, e mandou aquela bem manjada: “Posso saber o telefone do cachorrinho?”. Ele era um gato e estava num carro importado, não tinha como não dar o telefone, né?
Coordenadora do Núcleo de Estudos de Desigualdades e Relações de Gênero (Nuderg) da Uerj, a cientista social Clara Araújo também acha que não é o caso de iniciar uma repressão à cantada de rua. Para ela, o quadro pode ser invertido à medida que as mulheres se sintam à vontade para também abordar os homens ou manifestar sua insatisfação com eles.
— Há uma característica predominantemente machista, mas não podemos dizer que toda cantada é uma agressão, senão começaremos a cercear toda e qualquer iniciativa. O ideal não seria uma proibição que nos levaria a uma cultura saxã, em que não existe essa troca de afeto. Proibir a cantada seria uma contenção artificial. Precisamos da afirmação do respeito mútuo — sugere.
Mesmo Bisteka, alvo da cantada certeira que abre esta reportagem, admite que o galanteio é um “antídoto para a baixa estima”, mas há limites.
— Está bem deselegante ultimamente. Já foi melhor. Antes tinha mais sutileza, era mais uma piada. Hoje está muito vulgar.
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