Entidade
nacional que representa os surdos pede mudanças na Meta 4 do Plano
Nacional de Educação (PNE). A preocupação é que, com a atual redação, os
surdos deixem de receber uma educação voltada para eles e sejam
prejudicados. Apesar das mudanças propostas na quinta-feira pelo senador
Vital do Rêgo (PMDB-PB), os surdos não se sentem contemplados. O PNE
estabelece metas para o setor para os próximos dez anos. A Meta 4 trata
do acesso de alunos com deficiência à educação básica e tem sido alvo de
polêmica desde o mês passado.
A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
(Feneis) pede que sejam feitas alterações no item 4.6 da meta. Eles
pedem que a redação aprovada na Câmara dos Deputados seja retomada. O
texto dizia que a oferta de educação bilíngue em Língua Brasileira de
Sinais (Libras) deveria ser garantida aos alunos surdos e com
deficiência auditiva com até 17 anos, em escolas e classes bilíngues e
em escolas inclusivas.
No Senado, as escolas inclusivas foram retiradas do
texto. "O que os surdos querem é garantir a diversidade de opções e que
os familiares consigam e tenham o direito de escolherem onde os filhos
estudam", diz a doutora em linguística e assessora da diretoria de
Políticas Educacionais da Fenesis, Sandra Patrícia de Faria do
Nascimento.
Sandra explica que, nas escolas inclusivas, um
intérprete traduz a aula dada em português para os alunos surdos. Já na
escola bilíngue, a aula é dada em Libras. Segundo a especialista, a
maior parte dos surdos prefere a escola bilíngue por ter Libras como a
primeira língua. Com a ausência de "escolas inclusivas" no PNE, a
entidade teme que as escolas bilíngues e inclusivas sejam consideradas
iguais e que as inclusivas predominem, prejudicando o aprendizado dos
alunos.
No Brasil, são quase 10 milhões de surdos e pessoas com
deficiência auditiva. Do total, cerca de 800 mil tem até 17 anos,
segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
No Distrito Federal, a Escola Bilíngue, Libras e
Português Escrito de Taguatinga foi uma conquista da comunidade surda da
cidade. Segundo a diretora da escola, Marciley Ferreira Côrtes, foram
20 anos de luta até que o centro de ensino fosse criado em julho deste
ano. A escola funcionava como escola inclusiva. Agora como bilíngue,
continua oferecendo classes regulares, além das classes voltadas para os
surdos.
"Vimos que em uma escola inclusiva acabávamos perdendo
muito. O vocabulário do surdo é limitado em relação ao do ouvinte", diz
Marciley. A escola atende a 120 estudantes surdos e filhos de surdos em
classes bilíngues e 350 alunos em classes regulares.
O funcionário público Orlando Ilorca é pai de Fernanda,
de 14 anos. Ela tem distúrbio do processamento auditivo, "um primo do
surdo", explica. Apesar de a filha não estudar em classe bilíngue, pela
distância do local onde mora, o pai defende o tipo de escola. "Vejo que
em um ensino inclusivo, não há inclusão. Pode ir em uma escola onde haja
surdos e ouvintes. Um fica de um lado e o outro do outro", diz ele.
"Quando o professor entende os gestos dos alunos e não
há mediador, a motivação de estudar é diferente", explica, defendendo o
ensino bilíngue. Sobre a possibilidade de o texto do PNE atrapalhar o
surgimento das escolas em detrimento das inclusivas, Ilorca lamenta:
"Agora que as escolas bilíngues estão surgindo. Abriram um caminho para
os surdos que muitas outras pessoas com deficiência não conseguiram".
O novo texto deve ser votado na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal na próxima
semana. Em audiência no Senado Federal, o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, ressaltou a importância de que as crianças estudem em
escolas públicas comuns como forma de estimular o respeito e a
convivência com pessoas diferentes. 'Por exemplo, uma criança surda
precisa estar em um momento do desenvolvimento dela na escola especial
para aprender Libras [Língua Brasileira de Sinais], aprender a conversar
na linguagem dos surdos. Mas ela precisa ir para a escola pública para
aprender a conviver com os outros e para os outros aprenderem a conviver
com a diferença".
Para Orlando, a convivência pode ser estimulada em uma
escola bilíngue. "A escola não exclui o ouvinte. A inclusão é inversa, o
colégio de surdo absorve o ouvinte".
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