A entidade máxima do futebol toma posse dos estádios e centros de treinamento em todo o País para adequá-los aos padrões internacionais e cria um mundo paralelo em torno das arenas esportivas
Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
Se antes
pairava entre os brasileiros a impressão de que a Federação
Internacional de Futebol (Fifa) vinha ditando regras no País, agora o
bastão foi passado, de fato, à entidade. Na terça-feira 20, a Fifa e o
Comitê Organizador Local (COL) começaram a tomar posse dos 12 estádios
e campos oficiais de treinamento. O objetivo da operação, respaldada
pela Lei Geral da Copa, é adequar as arenas aos padrões internacionais,
instalar equipamentos de segurança, montar salas de imprensa, trocar
anúncios de patrocinadores e, claro, verificar as condições dos estádios
às vésperas do Mundial. Enquanto isso, clubes nacionais terão de
treinar fora do Brasil, ruas próximas às arenas serão isoladas e a
circulação de pessoas nos locais será controlada até o dia 13 de julho,
quando acaba o torneio. “É um novo poder que se estabelece, uma nova
ordem sobre esses lugares”, afirma Andrea Benedetto Arantes, advogada
especialista em direito internacional, que pesquisou os impactos dos
comandos da Fifa sobre a soberania nacional.
PADRÃO FIFA
O secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, no Itaquerão,
em São Paulo, na semana passada, quando a entidade
tomou posse dos estádios brasileiros
O secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, no Itaquerão,
em São Paulo, na semana passada, quando a entidade
tomou posse dos estádios brasileiros
Primeiro estádio a ficar sob o domínio da
Fifa, a Arena Corinthians, recém-inaugurada em São Paulo, terá de passar
por mais um teste por determinação da entidade. A arena sediará um jogo
entre Corinthians e Botafogo no dia 1º de junho para avaliar as
arquibancadas temporárias que elevarão a capacidade do espaço de 48 mil
para 67,8 mil torcedores. Caberá à Fifa a instalação dos bancos
reservas, traves, redes e até aparelhos de tecnologia para a transmissão
dos jogos. Outra cidade que também já passou a bola adiante é Salvador.
Inaugurada em abril do ano passado, a Arena Fonte Nova deverá
disponibilizar a equipe de funcionários que cuidam da manutenção do
estádio à entidade máxima do futebol. De acordo com o diretor comercial
Cláudio Najar, algumas adaptações estão previstas. “O estádio ganhará
cinco mil assentos temporários e o estacionamento será utilizado como
espaço de convivência”, diz. Apesar dos transtornos que a limitação de
acesso a uma das ruas próximas ao estádio pode causar, Najar acredita
que a exposição será positiva. “A Bahia receberá jogos importantes e as
áreas em torno do estádio estão passando por melhorias”, diz.
AJUSTES
Funcionários dão os últimos retoques na Arena Corinthians, acima,
e membros da Fifa e do Comitê Organizador Local (COL)
fazem tour de inspeção no Mineirão
Funcionários dão os últimos retoques na Arena Corinthians, acima,
e membros da Fifa e do Comitê Organizador Local (COL)
fazem tour de inspeção no Mineirão
Um dos estádios elogiados pelo
secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, em sua maratona pelo País
foi o Mineirão. O espaço administrado pela empresa Minas Arena passou as
chaves da casa para a Fifa depois de comandar uma reforma que levou
três anos e meio e custou R$ 666,3 milhões. “Preparamos o estádio para a
Copa do Mundo”, afirma Severiano Braga, gerente de operações da
empresa. “Agora, a Fifa vai montar estruturas temporárias, como tendas
para patrocinadores e equipamentos para transmissão de imagens.” Outro
quesito que ficará a cargo da Fifa é a segurança. Além do equipamento
das arenas – o Mineirão, por exemplo, possui 364 câmeras de vigilância
–, a entidade terá efetivo próprio para policiar o entorno dos estádios.
No Rio de Janeiro, cidade que sediará a final da Copa do Mundo, o
Maracanã está sob controle da Fifa desde a quinta-feira 22. A entidade
dispensou até a equipe de manutenção da arena e usará seus próprios
técnicos.
Além dos estádios, estão sob uso exclusivo
da Fifa os campos oficiais de treinamento (COTs). Estruturas como campos
e academias de clubes serão usadas para o treino de seleções durante as
48 horas que antecedem cada jogo. Em São Paulo, foram escolhidos o
Estádio do Pacaembu e o Centro de Treinamento do Palmeiras. Para os
eleitos, pode ser um bom negócio. “Investimentos extras nos gramados e
equipamentos para o vestiário ficarão por conta da Fifa”, explicou
Francisco Carlos Dada, coordenador de equipamento do Pacaembu. O Centro
de Treinamento do Palmeiras também será utilizado em treinos oficiais e
sofreu adaptações. “Tivemos de fazer um realinhamento da equipe para
esvaziar o espaço e retirar as placas de publicidade”, afirma José
Carlos Brunoro, diretor-executivo do Palmeiras. “Não ganhamos
financeiramente, mas o retorno institucional é grande: o clube será
conhecido por mais jogadores e a marca será divulgada
internacionalmente.”
O mundo paralelo criado em torno das
arenas, porém, pode gerar incômodo, na opinião de especialistas. “A
população fica à parte, aqueles que não têm acesso aos jogos ficarão
marginalizados”, acredita a advogada Andrea Arantes, para quem a Lei
Geral da Copa fere direitos já consagrados. Mas essa tese não é
consenso. Contrário à ideia de quarto poder exercido pela entidade,
Pedro Trengrouse, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa
que a autoridade da Fifa foi concedida pelo Congresso Nacional com a
aprovação da lei da Copa posteriormente sancionada pela presidenta
Dilma. “Se alugo um imóvel, o dono da casa não pode entrar no espaço a
hora que quiser”, diz. “A Fifa alugou esses centros esportivos por um
determinado período e ficará a cargo dela administrá-los.” Algumas
iniciativas da entidade, contudo, são difíceis de explicar. Na semana
passada, o substantivo “pagode” foi registrado como marca de alto renome
pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A palavra
virou marca exclusiva da Fifa, que batizou com o nome de um dos gêneros
musicais mais conhecidos no Brasil a fonte da impressão do Mundial 2014.
As fontes Times New Roman e Arial ganharam a companhia de Pagode.
Um comentário:
A COPA DAS COPAS.
A COPA DOS BRASILEIROS
A COPA DA DILMA
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