Bonita em nome do senhor: Na mesma velocidade em que cresce o rebanho cristão, multiplicam-se as lojas de vestuário evangélico
Rio - Cafonas, feios e malvestidos. Se algum
dia esses três adjetivos foram atribuídos aos evangélicos,
definitivamente isso é coisa do passado. Estilosa, dentro de um casaco
de oncinha e calça de couro, a cantora gospel Pamela Jardim, 31 anos, é
um dos mais fiéis retratos de uma nova geração que quer estar divina sem
parecer vulgar.
Na mesma velocidade em que cresce o
rebanho cristão — 16 milhões de novos fiéis em 10 anos — multiplicam-se
as lojas de vestuário evangélico. Blogueiras, sacoleiras, que compram no
atacado artigos de grifes como a ‘Bela Loba’ e lojas virtuais tentam
dar conta da demanda de quem não pode ir a São Paulo, centro de moda
cristã.
Polo de compras no estado, a Rua
Teresa, em Petrópolis, também se rendeu ao look chic crente, de olho num
universo que movimenta R$ 15 bilhões por ano (entre produtos culturais e
de consumo). Evangélicas chegam a gastar, em média, R$ 6 mil por mês
com roupas e sapatos.
Na hora das compras, um olho na vitrine e outro
na Bíblia. O livro sagrado respalda a vaidade: “A mulher de verdade
cuida bem da aparência e dos que dela dependem”, diz o provérbio. Na
Igreja ou no trabalho, as fiéis devem se vestir de acordo com a palavra
de Deus. “Que Deus ponha em nossos corações a vontade de sermos fiéis a
Ele e que possamos dar bom testemunho através do nosso vestir”, citou a
blogueira Mari Raugust, no blog ‘Passarela Estreita’.
A regra, no caso, é que as mulheres de Deus são
a atração, não as partes do seu corpo. É o que procura seguir a cantora
Pamela. “Não uso roupas curtas e provocantes. As meninas da Igreja se
inspiram em mim”, conta ela, que tem em seu closet marcas de luxo, como
Chanel, Dior e Louis Vuitton.
O sucesso não a livrou do preconceito. “Uma
vez, gostei de uma bolsa da Dior, mas a vendedora disse que custava R$ 5
mil e tinha que ser à vista. Minha tia, que estava comigo, pediu duas e
pagamos no ato”, diz Pamela, que vendeu 400 mil cópias (o novo CD,
‘Tempo de Sorrir’, sai em agosto).
A empresária Liz Lanne, ex-cantora gospel,
deixou os palcos para se dedicar ao mundo fashion depois de muito
garimpar peças sofisticadas, mas recatadas. Abriu uma grife, a 7Liz, no
Recreio, na Zona Oeste. “Antes, as pessoas tinham vergonha de ser
evangélicas. A imagem era a pior possível. Hoje, é sinal de status”,
diz.
Liz explica o que pode ser usado. “Não é
colocar tudo justo, transparente e curto. Fica demais. A Igreja só quer
que a gente esteja decentemente vestida”. Ela completa: “Não tem que ser
feia só porque é crente. Temos o direito de sermos lindas e de usar as
melhores roupas”.
‘Se a Igreja proíbe o que você gosta, vá para outra’
Na dúvida entre vestir o modelito preferido ou
seguir as regras da Igreja, fique com a primeira. A dica é da blogueira
evangélica Maanuh Scotá, que tem 270 mil visualizações por mês em sua
página na internet, no ‘Blog da Maanuh’. “A pessoa tem que se sentir
bem. Se a Igreja proíbe o que você gosta de usar, vá para outra”,
aconselha Maanuh, 25 anos, que adora roupas curtas, coloridas e
descoladas.
A blogueira, que é casada e não tem filhos,
dita as tendências da moda gospel para suas fãs, a maioria adolescentes,
que acompanham religiosamente seu “look do dia”. “Elas se identificam
muito com o meu perfil: bonita sem ser vulgar”, diz a baiana, que
frequenta os cultos da Igreja Maranata. O pastor libera o uso de calças
compridas, mas Maanuh gosta mesmo é de saias rodadas. Todas as roupas e
sapatos exibidos no blog são doados a ela por lojas de grifes.
O fotógrafo é o próprio marido, Diogo Scotá, 25
anos. É ele quem limita o tamanho da saia. “Quando está muito curta ele
pede para trocar. O jeito é usar com meia por baixo, que fica legal”,
ensina Maanuh, que vê como uma bênção o espaço virtual
recém-conquistado. “Serviu para desmistificar a imagem de que o
evangélico é cafona”, reconhece.
Outros dois blogs _‘Evangélicas Top’ e ‘Crente Chic’ _também dão sugestões para as princesas.
A VEZ DELES
Terno e gravata: indispensáveis
Elas não são as únicas a se preocupar com a
aparência. Os homens também têm o seu estilo e gostam de estar na moda. O
blog ‘Essas e Outras’ dá algumas dicas para acertar no visual. O estilo
social é um dos mais usados pelos evangélicos. Terno, camisa e gravata
são artigos indispensáveis.
Assim como para as mulheres, o que vale é a
discrição. “Nada de camisas muito coloridas, gravatas estampadas demais.
Nada como um pretinho básico ou um tom de cinza para dar seriedade à
composição”, sugere.
Para os homens, não podem faltar no armário a
calça e a camisa social. “Nesse caso, aposte em tons claros de camisas e
sapatos sociais. Não é necessário usar gravatas, mas tome cuidado com a
cor do cinto”. Com a chegada da estação mais fria do ano, os
evangélicos ficam muito elegantes vestidos com blazers, suéteres e
casacos.
Para os homens evangélicos que são adeptos de
um visual mais básico, a dica é usar uma boa calça jeans, uma camiseta
ou camisa polo; e nos pés, um sapatênis
Nenhum comentário:
Postar um comentário