A técnica consiste no estudo de três marcadores presentes no líquido cefalorraquidiano (LCR), também chamado de líquor, que banha o cérebro e a medula espinhal. “Por meio da análise laboratorial, utilizando métodos sensíveis para determinar as concentrações desses marcadores no líquor – que é retirado do paciente por meio de uma punção lombar – podemos identificar proteínas que sinalizam a presença da doença no cérebro mesmo antes de ela se manifestar clinicamente”, explica o psiquiatra Orestes Vicente Forlenza, professor associado do Departamento de Psiquiatria da FMUSP e corresponsável pelo estudo.
O objetivo dos pesquisadores é antecipar o diagnóstico da doença entre a fase inicial – que é silenciosa, se desenvolve lentamente e pode durar vários anos ou décadas – até o período em que começam a surgir os primeiros sintomas, como as falhas de memória e de processamento intelectual. Com isso será possível iniciar o tratamento farmacológico e não farmacológico e, assim, aumentar a sobre vida dos pacientes o que, atualmente, costuma variar de 8 a 12 anos. Contudo, nas formas mais graves a doença pode progredir rapidamente, levando ao óbito em menos de cinco anos. Hoje, para um diagnóstico mais preciso na fase pré-demência, o médico tem de esperar por volta de seis meses a um ano para fazer uma reavaliação longitudinal para caracterizar se o sintoma incipiente, como um esquecimento leve, passou a ser mais significativo.
Mesmo com a tecnologia envolvida nesta pesquisa, que dá um grau de segurança acima de 90% quando se trata da doença em fase pré-demencial, os dados laboratoriais gerados pela técnica devem ser confrontados com informações clínicas, neurológicas e psiquiátricas, e com outros exames que descartam causas e anormalidades em outros órgãos que podem causar a perda da memória.
Esta linha de pesquisa é realizada mundialmente de maneira bem consistente e tem grupos fortes na Suécia, Alemanha e Bélgica. No Brasil, o método foi implantado em 2006 pelo grupo do IPq que, além de introduzir a tecnologia, colabora de forma conjunta com outros laboratórios em prol do conhecimento. A pesquisa brasileira também objetiva validar os métodos diagnósticos na população local usando como base as pesquisas realizadas no exterior, já que povos de continentes diferentes nem sempre possuem o mesmo perfil.
Ainda em estudo
Segundo o psiquiatra Orestes Forlenza, este método ainda pertence ao domínio de pesquisa e não pode ser usado clinicamente, pois problemas com a estabilidade da técnica e a confiabilidade do procedimento, assim como a discrepância entre laboratórios que fazem a mesma marcação, devem ser superados. “Mas acreditamos que, em um ou dois anos, o método já estará disponível em laboratórios e hospitais de todo o País. Para isso, esperamos a validação e superação de todas as possibilidades de vieses analíticos, tudo com o envolvimento de agências internacionais de qualidade, como a Food and Drug Administration (FDA) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, reforça.
por Maritiza Neves
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