GOLPE PRECISO NA LUTA CONTRA O CÂNCE
Estratégias inéditas alcançam resultados melhores do que a terapia convencional no combate aos tumores de mama e de pele em pacientes com a doença em estágio avançado
Mônica TarantinoPROGRESSO
Diferentes combinações de remédios dão mais qualidade de vida aos pacientes
No caso do melanoma, testes com o uso de dois medicamentos combinados, trametinibe e dabrafenibe, desenvolvidos pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline, conseguiram brecar a progressão do tumor por cerca de 11 meses. Primeiro, os dois remédios foram testados separadamente. O dabrafetinibe conseguiu neutralizar uma das proteínas que nutre o tumor, também chamada Braf, mas o câncer ainda assim conseguia crescer por uma outra via. Outras substâncias existentes já haviam conseguido o mesmo efeito, como o vemurafenibe. Em um outro experimento, porém, quando as drogas foram dadas em conjunto aos pacientes, os cientistas obtiveram os resultados que surpreenderam os médicos. A associação da dupla foi capaz de fechar também a segunda via usada pelo tumor para se expandir e contra a qual ainda não havia nenhuma forma de tratamento, segundo os resultados divulgados no 48º Asco. Desse modo, os remédios cortaram o fornecimento das proteínas que alimentam a progressão do tumor, levando suas células à morte.
“Embora sejam estudos iniciais, que precisam de confirmação, são de longe os resultados mais promissores que já tivemos em melanoma”, disse por telefone à ISTOÉ, de Chicago, Bernardo Garicochea, diretor de oncogenética do Hospital Sírio-Libanês. Essas descobertas representam um grande passo no tratamento do melanoma, que também avança em outros fronts. Há mais substâncias em teste consideradas promissoras que agem por mecanismos diferentes, como o ipilimumabe. Trata-se de um anticorpo que se liga às células do sistema imune para impedir que elas se inativem, como ocorre nesse tipo de doença, e voltem a defender o corpo. A outra droga é chamada de anti-PD1, e se liga de outras maneiras às células do sistema imune para também incitá-las a atacar o câncer.
O estudo envolveu 991 pacientes (cerca de 50 brasileiras) já tratadas anteriormente com o trastuzumabe. Metade do grupo recebeu T-DM1, e a outra metade o tratamento padrão com a substância lapatinibe e o quimioterápico capecitabina. “As pacientes que tomaram T-DM1 não apresentaram progressão da doença por um tempo 35% maior”, observa o oncologista Garicochea. A droga será agora submetida ainda este ano à aprovação das agências americana e europeia, que regulam medicamentos. Além disso, ofereceu menores efeitos colaterais como queda de cabelo, diarreia e ânsia de vômito. “É um mecanismo importante que agora precisa ser testado em mais pacientes”, afirma a médica Nise Yamaguchi, do Instituto Avanços em Medicina e pesquisadora da Universidade de São Paulo. Os resultados positivos desses estudos confirmam uma mudança importante de paradigma no tratamento do câncer. “O caminho é a terapia personalizada e que atua sobre mecanismos moleculares”, diz Paulo Hoff, diretor de oncologia do Hospital Sírio-Libanês e do Instituto do Câncer de São Paulo, hospital público de referência.
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