6.13.2012

A importância do namoro na vida a dois

Algumas perguntas sempre surgem a respeito desta disposição humana de se aproximar, de escolher a vida a dois. Namorar é experimentar o outro, é uma fase onde as duas pessoas se curtem, se aproveitam e criam juntas condições de fazerem planos em comum — mas sem as responsabilidades inerentes a um casamento.
Hoje em dia vemos crescer particularmente dois tipos de namoro que parecem ser bem opostos entre si. Enquanto muitos casais optam por morar juntos com um tempo de relacionamento muito curto, outros casais desenvolvem e alimentam uma relação praticamente virtual (seja realmente pela internet ou namorando à distância, quando ambos moram longe).
As relações virtuais tornaram-se um campo vasto para pesquisas. Há muitas questões sobre a real possibilidade de se desenvolver uma relação saudável sem o contato físico. No entanto, não vejo por que a distância possa ser um problema, nem como possa ser uma solução ou benefício, a priori. Tudo vai depender de cada um dos envolvidos, e como conseguem lidar com esta questão como casal. Depende do que o casal está buscando nesta distância. Será que se está fugindo de um contato mais íntimo, por exemplo? Ou, na verdade, se está justamente buscando a possibilidade de um contato íntimo, difícil de permitir pessoalmente?
Talvez no outro oposto estejam os casais que acreditam que morar junto é a maneira ideal de realmente conhecer o parceiro. Da mesma forma que com relação aos namoros virtuais ou à distância, não diria que existe uma implicação necessariamente positiva ou negativa para os namorados que optam por morarem juntos. Isto vai depender do sentido que guia o casal a morar junto. Se estiverem fazendo isso para evitar a distância, no sentido de evitar a frustração e a espera para se verem, pode ser ruim, pois não ensina ao casal ter paciência e dar o tempo “da colheita”. No entanto, se morar juntos estiver em função de encontrarem o “canto” do casal, de se permitirem ser um casal, por exemplo, pode ser muito construtivo.
O que vai reger a relação, o que dirá se é uma relação boa ou ruim para ambos os envolvidos não está ligado ao formato que o casal dá para o namoro, mas ao que ambos têm a oferecer um ao outro.
Somos todos diferentes, uns dos outros. Portanto, somos existencialmente únicos, pois não haverá ninguém no mundo que tenha tido a mesma experiência que nós. Assim, as afinidades ligadas a alguém que se parece conosco podem até mesmo ser ilusórias. O casal ganha força não nos aspectos onde os dois são parecidos, e sim nas possibilidades de serem diferentes. O que quero dizer é que, na vida a dois, podemos nos dar muito bem quando se trata de assunto em que o casal concorda, mas que o complicado é justamente quando há um assunto para o qual não há consenso entre os dois. É a capacidade de compreender o modo de pensar do outro e aprender a lidar com isso que faz a diferença entre um casal feliz e um casal infeliz.
Daí surge a velha questão sobre os opostos se atraírem ou não. Pessoas parecidas conosco podem assustar, enquanto pessoas muito diferentes podem nos trazer grande desconforto. De fato, é difícil ficar com alguém que tem crenças e objetivos de vida opostos aos nossos ou simplesmente que apontem para um estilo de vida no qual não nos vemos. Por outro lado, isto pode nos trazer ideias novas, maneiras diferentes de ver o mundo que podem abrir nossos horizontes e serem muito úteis em nosso desenvolvimento pessoal.
Ao mesmo tempo, ficar com alguém parecido conosco pode nos deixar em uma zona de conforto, que, apesar de não nos abrir para novas ideias, facilita algumas buscas e decisões a serem tomadas em direção ao futuro. Pessoas muito parecidas conosco também podem assustar por potencializar nosso próprio modo de ser ou refletir nossos defeitos, espelhando para nós mesmos os modos de agir que não necessariamente conseguimos ou gostamos de aceitar.
E é justamente esta diferença de modos de ser ou esta denúncia, que vemos escancarada no outro, o lugar mais propício para as brigas e desentendimentos. Isto porque, em grande parte, as brigas internas de um casal estão ligadas à manutenção do poder interno. Ninguém gosta de ceder ou de se retirar de uma discussão de forma geral. Isto é visto em nossa cultura como ato de fraqueza, de submissão, de falta de amor próprio, etc. Quando se trata de um casal, isto é ainda mais intenso. Há muitas vezes a crença de que aceitar uma posição do outro, que é diferente da nossa, é parecer fraco, e que ao aceitar tal posição se abrirão as portas para que o outro faça o que quiser, desconsiderando os sentimentos do casal.
Assim, não importa a forma que o casal dá ao namoro, se moram juntos ou namoram virtualmente, se são muito parecidos ou totalmente diferentes. O casal deve estar sempre em sintonia, cada um consigoi mesmo e os dois com esta unidade que formam. O casal deve entender o que rege seus sentimentos e comportamentos, entender as brigas, entender os planos, entender o sentido que rege o “estar junto”.
 Vitor Samapaio  é psicólogo

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