6.12.2012

O papel de São Paulo na repressão

Em São Paulo, Comissão da Verdade mostrou saber muito bem onde está o foco do trabalho
Publicado em 12-Jun-2012

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Adriano Diogo
Vejo como um passo da maior importância as reuniões entre a Comissão Nacional da Verdade, familiares de militantes que foram vítima da ação da ditadura militar e a Comissão da Verdade Rubens Paiva, criada em São Paulo, por iniciativa da Assembleia Legislativa. Como disse o deputado Adriano Diogo (PT), as reuniões em São Paulo abriram um momento novo e que certamente será muito produtivo na busca da verdade.

A Comissão Nacional teve duas atividades diferentes ontem em São Paulo. Na primeira, pela manhã, seus integrantes se reuniram com 50 familiares de vítimas da repressão política e desaparecidos durante a ditadura militar. À tarde ela se reunião com integrantes da Comissão da Verdade Rubens Paiva, de São Paulo que, depois desse encontro, passou a revestir-se de um caráter oficial, pois poderá trabalhar como um prolongamento da Comissão Nacional da Verdade.

Pedi ao deputado Adriano Diogo uma avaliação sobre o que ocorreu. Embora ele esclareça que não participou da reunião da manhã, disse que obteve relatos fiéis de como foi esta reunião. Sobre a segunda reunião, ele esteve presente, como presidente que é da Comissão Rubens Paiva. Leiam o que disse o deputado. Resumi e separei por assunto, para facilitar a leitura:

Sobre o foco de atuação da Comissão da Verdade

“Há 40 anos os familiares dos que sofreram nas mãos da repressão da ditadura e dos desaparecidos estão falando, dando depoimentos e muita coisa já se tornou conhecida. O que não foi feito ainda, e é o foco do trabalho da Comissão Nacional da Verdade, da Comissão Rubens Paiva e das demais Comissões, é descobrir onde estão os corpos dos desaparecidos, quem cometeu os atos de tortura e os assassinatos e quem os ordenou. E isso é um trabalho sistemático, feito com método e persistência, com um sentido profissional e não amador. A criação da Comissão Nacional da Verdade vai permitir cruzar dois grupos de informações: as que têm origem nas famílias dos desaparecidos e dos que foram submetidos a torturas e as informações dos que praticaram e comandaram as torturas e que cometeram os assassinatos. Este é o trabalho que ainda não foi feito no Brasil e é daí que sairão as informações completas do que de fato aconteceu”.

O papel de São Paulo na repressão

“A reunião de ontem foi importante porque nós sabemos que São Paulo concentrou o comando da repressão. Embora a mais alta hierarquia estivesse no Ministério da Guerra, em Brasília, aqui estavam o major Ustra e o delegado Fleury. Foram daqui que partiram as ordens para as incursões nas fronteiras e nos países vizinhos. Aqui foi criado o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), que depois se espalhou por outros comandos do Exército, pelo país.

Sobre o trabalho conjunto das Comissões

Ao oficializarmos o trabalho da Comissão Rubens Paiva de comum acordo com a Comissão Nacional da Verdade, nós teremos a mesma cobertura legal, trabalharemos com o mesmo método e com a mesma seriedade, de forma profissional e oficial, rigorosa, utilizando o sigilo quando for necessário, dando às testemunhas as garantias e a proteção que a lei prevê, indo atrás dos depoimentos e da documentação ainda não foi coletada. Só assim toda a verdade virá à luz. Queremos saber, entre outras coisas, quem desapareceu com o ex-deputado Rubens Paiva. Quem torturou e matou Vladimir Herzog. De quem são afinal as ossadas que foram encontradas no cemitério de Perus. Onde estão os restos mortais dos 60 que desapareceram no Araguaia. As famílias têm o direito de encontrar e enterrar condignamente seus mortos, assim como têm o direito de conhecer o que aconteceu. Para isso, trabalharemos em total sintonia com a Comissão Nacional da Verdade”.

Os familiares das vítimas e a Comissão da Verdade

“A imagem de que havia choques entre os integrantes da Comissão da Verdade e os familiares dos desaparecidos foi construída por meio da imprensa. Mas, se havia algum problema de fato, isso acabou na reunião que os integrantes da Comissão Nacional da Verdade fizeram com 50 familiares de desaparecidos políticos ontem pela manhã aqui em São Paulo. O que houve foi uma total sintonia, um esclarecimento sobre os objetivos e métodos de atuação da Comissão”.

José Carlos Dias

O próprio advogado e ex-ministro da Justiça José Carlos Dias já havia falado ao repórter Fausto Macedo, do Estadão, que no encontro, com duração de quatro horas, os integrantes da Comissão da Verdade mostraram aos familiares das vítimas como estão trabalhando, a metodologia e fizeram uma exposição da lei que criou a Comissão para mostrar os poderes que ela tem.

Dias disse ainda ao jornal que "a comissão se colocou à disposição (dos familiares) para manter um grande entrosamento. Formalmente, não tomamos depoimentos, mas cada um deles foi relatando sua história de dor. Uma conversa muito importante. Me tocou muito o relato de uma mocinha, neta da Eleni Guariba". Na página do Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, ela aparece com o nome de Heleni Telles Ferreira Guariba, da Vanguarda Popular Revolucionária, desaparecida desde 1971, quando foi capturada pelo DOI-Codi/Rio. Acesse as informações sobre ela e o depoimento do marido, Ulisses Telles Guariba Netto, clicando aqui .

Sobre a disposição de trabalho da Comissão

“Foi muito bom para nós, da Comissão Rubens Paiva, ver a disposição, a garra e a seriedade com que os integrantes da Comissão Nacional estão encarando seu trabalho. Todos manifestaram essa disposição. Fiquei pessoalmente muito impressionado com a advogada Rosa Cardoso. Mesmo com pneumonia, não se furtou a participar das reuniões em São Paulo. Por suas intervenções, demonstrou perfeita consciência dos objetivos do trabalho a ser feito. Falou sempre de forma clara e firme”.

Bons relatos do deputado Adriano Diogo. Vamos torcer e chamar todos os que podem colaborar para dar sua contribuição a este trabalho de passar nossa história a limpo.
(Foto: Maurício Garcia de Sousa/ALESP) 

por José Dirceu

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