6.13.2012

UTOPIA MÉDICA

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Como um bom médico deveria ser:

Trate o paciente e seus familiares com respeito

Expresse-se com palavras e análises que podem ser compreendidas pelo paciente

Preste atenção ao paciente, ouvindo-o e observando-o

Entenda as preocupações do paciente

Demonstre interesse pelas ideias do paciente

Forneça as informações que o paciente busca

Discuta próximos passos de acompanhamento ou tratamento

Deixe o paciente falar

Demonstre que se importa com as preocupações e problemas do paciente

Receba o paciente de modo confortável

Dedique tempo adequado ao paciente

Cheque se o paciente entendeu o que foi discutido

Envolva o paciente nas decisões

Incentive o paciente a fazer perguntas

Fonte: Pesquisa IBOPE/WIN 2011 entrevistou 31577 pessoas de diversas nacionalidades que fizeram alguma consulta médica nos últimos 12 meses.

Nota boaspraticasfarmaceuticas: Nós acrescentaríamos  à lista: Humildade Bom Senso Equilibrio e Amor ao Próximo

 

A Utopia Médica de Bacon

«A morte pode tornar-se um símbolo de liberdade. A necessidade de morte não refuta a possibilidade de libertação final. Tal como as outras necessidades, (a morte) pode tornar-se também racional, indolor. Os homens podem morrer sem angústia se souberem que o que amam está protegido contra a miséria e o esquecimento. Após uma vida bem cumprida, podem chamar a si a incumbência da morte — num momento da sua própria escolha. Mas até o advento supremo da liberdade não pode redimir aqueles que morrem em dor. É a recordação deles e a culpa acumulada da humanidade contra as suas vítimas que obscurecem as perspectivas de uma civilização sem repressão». (Herbert Marcuse) Ernst Bloch analisou as «utopias médicas» na sua magnífica obra «Das Prinzip Hoffnung» e, nos seus diálogos com a história da filosofia, destacou sempre o pensamento de Francis Bacon, que partilhava com Thomas More a luta contra o envelhecimento. Aliás, Francis Bacon foi mesmo o primeiro filósofo a exigir o prolongamento da vida como um novo dever dos médicos. Segundo Bacon, a medicina tinha uma tripla função: 1) a preservação da saúde;
2) a cura das doenças;
3) e o prolongamento da vida, que era, segundo ele, «a mais nobre de todas» as funções médicas. Esta ideia seminal do prolongamento da vida está na origem não só de uma nova concepção da morte e do envelhecimento e do surgimento de novas disciplinas e actividades de saúde, tais como a geriatria que Ivan Illich criticou com muita pertinência, como também de um novo mito social: o valor social da velhice, que actualmente em Portugal parece ser «desvalorizado», pelo menos em termos de mercado de trabalho, embora os "colarinhos brancos grisalhos" (W. Mills) se recusem a abandonar as suas longas e pardacentas carreiras, alegando desejar morrer à mesa de trabalho. Isto significa que, para os decisores nacionais, o envelhecimento dos outros começa a ser encarado como um problema económico: a velhice dos outros, não a sua, tornou-se pesada e, neste clima de ganância económica, a eutanásia começa a emergir na agenda dos mass media. Porém, a eutanásia tem emergido de forma dissimulada: o poder estabelecido inventa novas formas de se livrar dos indesejáveis, nomeadamente convertendo-os em "cobaias públicas" para aperfeiçoar as habilidades médicas usadas posteriormente nas clínicas privadas. A utopia realizada está a tornar-se um terrível pesadelo e, para que isso não aconteça sistematicamente contra os humilhados e os ofendidos, a teoria crítica deve rever a sua posição perante o fenómeno incontornável da "morte certa" (Heidegger): o direito individual de escolher o momento apropriado para morrer deve ser garantido pelo Estado e pelo seu sistema nacional de saúde, porque esta escolha é a única que realiza plenamente a liberdade do indivíduo (Hegel). Todos os mortais, mesmo e sobretudo os mais brilhantes entre eles, sentem uma enorme angústia em face da possibilidade incontornável do nada absoluto. Contudo, dado o seu enraizamento na tradição filosófica ocidental e a impossibilidade de domar a morte, os filósofos mais dispares entre si acabam por revelar muitas similitudes entre si, encarando a morte certa como um aviso para assumir uma vida autêntica, independentemente do que se possa entender por autenticidade. Assim, por exemplo, Marcuse e Heidegger são profundamente hegelianos no que respeita à compreensão da finitude humana. Marcuse aceita a eutanásia. Depois de uma longa vida gratificante ou mesmo condenada ao sofrimento sem cura, o mortal pode e deve escolher o momento em que quer pôr termo à sua própria vida, na certeza de que o mundo caminha no sentido certo. Um estudo recente de biomedicina social (Hospital de São João do Porto/Faculdade de Medicina) mostrou que um número significativo de pessoas idosas encaram positivamente a possibilidade de eutanásia, embora este estudo não explicite as razões de tal atitude. Certamente que não desejam uma morte assistida por terem vivido uma vida gratificante, mas talvez porque, a partir de certa idade, a vida deixa de ser vivida com esperança: os cuidados médicos permitem aos velhos adiarem a sua morte, sem lhes fornecer qualquer apoio. O prolongamento da vida é, como demonstrou Ernst Bloch, a realização de uma velha utopia médica, mas, de facto, esse prolongamento é uma agonia constantemente adiada e constantemente condenada à morte certa. Além disso, inverte a preocupação fundamental da política: a natalidade (sem idades) e não a mortalidade (Hannah Arendt). A filosofia da medicina de Bacon tem aspectos muito interessantes no que diz respeito aos regimes de saúde e aos cuidados de saúde: «A observação de si próprio, o que faz bem e o que nos faz mal, é a melhor medicina para preservar a saúde» (Bacon). Com esta tese de Bacon, está esboçada a tese dos cuidados de si como base de uma medicina preventiva, reforçada pela necessidade social de abertura da medicina à sociedade leiga e pela necessidade de implementar um novo projecto aberto de educação médica. Os campos da medicina preventiva e da saúde pública partilham os objectivos de prevenir doenças específicas, promover a saúde e aplicar os conceitos e as técnicas da epidemiologia para alcançar esses objectivos. Dando corpo ao dever médico estabelecido por Bacon de prolongamento da vida, a medicina preventiva procura prolongar a vida das pessoas, ajudando-as a melhorar a sua própria saúde. Por sua vez, a saúde pública procura promover a saúde nas populações através de esforços comunitários organizados. Embora possam ser tratadas separadamente, convém destacar a continuidade entre a prática da medicina preventiva pelos médicos e outros profissionais da saúde, as tentativas das pessoas e das famílias para promover a sua própria saúde e dos seus vizinhos e os esforços dos governos e agências voluntárias para alcançar os mesmos objectivos de saúde. A educação médica ocidental tem destacado mais o diagnóstico e o tratamento médico das doenças do que a promoção da saúde, e, mesmo quando se foca a medicina preventiva, esta tende a ser vista como cuidado de saúde prestado por médicos com a ajuda de outros profissionais da saúde, como se as pessoas, os seus potenciais «doentes», não tivessem o direito e o dever de cuidar de si próprios e só recorrer aos cuidados médicos em situações que não possam controlar. Esta nova perspectiva da medicina preventiva abre-a a todas as pessoas e a educação médica deve aceitar esta abertura, abdicando do monopólio corporativista dos cuidados de saúde, porque a saúde é um bem público e cada um deve assumir a responsabilidade pela sua própria saúde. (Leia este post do Manuel Rocha.) J Francisco Saraiva de Sousa

 

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