As pessoas confundem dois termos psicológicos importantes no processo de terapia, pois são usados como sinônimos. Um deles é o "ego" , o outro é o "self".
O ego é " a concepção que a pessoa faz de si mesma", " a parte da
estrutura mental que está em contato com a realidade", pelos conceitos
psicanalíticos. O ego deriva do latim. O self deriva da língua inglesa e significa " si mesmo", corresponde ao nosso prefixo português "auto".
O ego é o núcleo da personalidade de um indivíduo, exercendo funções mentais conscientes e inconscientes.
No ego estão os mecanismos de defesa, para lidar com as demandas da
vida, os estresses, as perdas, os problemas, os obstáculos. O ego pode
ser mais ou menos saudável. Quando mobiliza defesas primitivas(
desadaptativas) torna-se frágil, predispondo o indivíduo a desenvolver
transtornos mentais. É um ego doente. As defesas primitivas são maneiras
de codificar os acontecimentos do mundo( realidade) e das experiências
internas, que rechaçam a integração do self. Neste momento percebemos
que o ego está contido no self. O self é a própria autoconsciência.
O ego é um dos componentes do self, juntamente com outras instâncias
psíquicas, como o ID( os impulsos e instintos biológicos) e o Superego(
as proibições sociais e ordem moral). O self é a integração do ego, id e
superego.
A
importância de diferenciarmos esses dois componentes vai além da
confusão semântica. O ego é o núcleo das defesas para lidar com os
conflitos. O ego saudável mantém um equilíbrio com o id e superego, para
construir e manter dinamicamente o self sadio.
Pessoas com egos doentes( inflados, egotistas) possuem um self frágil.
Pessoas com egos doentes( incompletos) possuem um self frágil.
Pelo
processo de compensação psicológica, pessoas com egos inflados(
narcisistas, donos da verdade, autoridades arrogantes, "especialistas
insuperáveis") demonstram um self esvaziado. Toda a compensação carrega
consigo algum tipo de deformação do equilíbrio psíquico.
O caminho do processo psicoterápico é fortalecer o self( o verdadeiro eu), modificando o ego.
Se o paciente utiliza-se de mecanismos de defesa pobres( primitivos),
ajudamos a "escolher" mecanismos de defesa evoluídos para lidar com a
vida , as expectativas e relações humanas. O exemplo de um mecanismo de
defesa primitivo é a negação. A pessoa nega a realidade, recusa-se a
melhorar ou tomar medidas para resolver os problemas. Outro mecanismo de
defesa primitivo é a projeção, a tendência de culpar os outros e o
mundo pelos seus próprios problemas. Por outro lado, procuramos reforçar
os mecanismos de defesa evoluídos, como a sublimação, que significa
canalizar as energias mentais instintivas para atividades socialmente
aceitas. A agressividade converte-se em força de trabalho criativo e não
agressão física e verbal contra o mundo. Outro mecanismo de defesa
evoluído é o humor. Toda vez que uma pessoa perde o humor, ela está
operando em níveis baixos de defesa do ego. Está, portanto, fora da rota
mais saudável de resolução dos problemas. O humor evoluído é aquele que
vê o lado positivo dos acontecimentos e procura capitalizar
aprendizados. O humor primitivo é o sarcasmo, que significa projetar nos
outros o seu mal-estar e ainda fazer graça disso.
Então, um
self sadio é uma estrutura equilibrada, que flui, que utiliza um
funcionamento mental "elegante", sem arroubos, sem reatividade ao mundo,
sem necessidade de controlar os outros, pois o controle quando
necessário é interno( autocontrole).
Então, um
self doente é uma estrutura desequilibrada, que atravanca, que utiliza
um funcionamento mental "grosseiro", aos trancos e barrancos, altamente
reativo( bateu -levou/ olho por olho, dente por dente), tentando
controlar o mundo e as pessoas( manipular muitas vezes), pois
internamente há uma fragilização do autovalor. O self
doente, nas palavras do psicanalista Winicott, é um falso self( a
verdadeira personalidade). Pessoas com muita personalidade( persona=
máscaras) são pessoas com self frágil e falso. Pessoas que não precisam
mostrar a sua personalidade para se sentirem superiores podem mostrar a
sua verdadeira essência, o seu self verdadeiro.
Na
interação diária percebemos pessoas saudáveis mentalmente e pessoas
doentes mentalmente. Isso independe da sua cultura, da sua inteligência(
apesar de que os transtornos emocionais rebaixam a inteligência), do
poder aquisitivo, da condição sócio-econômica, da beleza física, da
etnia e dos credos. Lembro-me de uma frase que pode ser indicativa dessa
percepção: ..." quanto mais ele se vangloriava da sua honestidade, mais escondíamos a nossa carteira"...( risos).
A
psicoterapia ajuda as pessoas a se tornarem mais saudáveis no seu
funcionamento mental. Através da modificação das defesas primitivas do
ego, conseguimos o fortalecimento do self, com o resgate da
personalidade básica( self verdadeiro), não aquele imposto pelos pais,
pela sociedade, pela mídia, pelos esteriótipos, pelas religiões, pela
"ausência de respostas existenciais" que geram confusão de escolhas.
O self verdadeiro vem de dentro para fora e se baseia em escolhas
conscientes, fundamentadas na mente analítica. Quanto maior o
autoconhecimento através da psicoterapia, mais livre se torna o
indivíduo no resgate da sua essência verdadeira.
por Neurônios e Saúde Mental
por Neurônios e Saúde Mental
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